Nascida em Belo Horizonte, Luciana Cardoso Milard, de 26 anos, é bombeira militar há cinco. Quando não está a serviço da corporação, a atleticana é modelo e se apresenta com o nome artístico de Lu Gatuza.
"Gatuza quer dizer gata. Meu pai me chamava de Gatuzinha quando eu era criança. Ele faleceu e eu tenho levado esse nome como um apelido carinhoso também. As pessoas já me chamavam de Gatuza na minha região e eu fui levando ele", diz a atleticana.
O currículo como modelo é repleto de conquistas. Gatuza ostenta as faixas de Musa do Galo 2018, Musa do Brasileirão 2018 e Garota All Fight 2018. Agora, ela disputa o título de Gata do Mineiro 2019.
Apresentada à torcida do Galo ainda na infância, a bombeira militar estreitou sua relação com o clube e passou a frequentar assiduamente a arquibancada.
"Comecei meu envolvimento com o Atlético aos 10 anos de idade, quando meu cunhado me levou ao campo. A partir daí eu comecei a me envolver mais com o time. Quando eu ganhei como musa do Atlético então, passei a me inteirar mais sobre os jogos, sobre classificação, resultados. E sempre que possível eu vou aos jogos e fico na torcida", conta.
A classificação do Atlético na Copa Libertadores e a liderança do Mineiro fazem de Lu uma torcedora esperançosa. Ela projeta um time forte para a temporada. "Esse ano acho que o Galo vai fazer uma campanha melhor na Libertadores. O Mineiro, com certeza, nós vamos ganhar. Estou bem confiante, como a torcida atleticana sempre é. Vou pra frente com o Galo sempre que possível", afirma a atleticana.
Conquista de direitos pelas mulheres
Durante 124 anos de futebol no Brasil, o esporte se popularizou muito entre os homens. Ainda hoje, eles são a maioria nas arquibancadas e entre o público consumidor. Entretanto, esse cenário vem se modificando. A presença feminina nos estádios tem aumentado consideravelmente.
Assídua nos jogos do Atlético, Luciana se sente bem na arquibancada. Ela ressalta a importância de as mulheres conquistarem cada vez mais espaço nesse ambiente.
"Essa ideia do empoderamento feminino, da gente buscar o nosso espaço, ela tem sido muito bem aceita nos estádios. Tanto que eu vou aos jogos e sou muito bem vista, muito bem recebida pela torcida. E vejo várias outras mulheres, mães, avós. Acho que a tendência é essa e eu super apoio que as mulheres vão aos jogos", ressalta.
Luciana se coloca como uma representante de mulheres que exercem atividades que, até pouco tempo, eram destinadas apenas a homens, como a carreira militar. A presença de mulheres no Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais é relativamente recente. O ingresso das primeiras representantes na corporação tem 'apenas' 25 anos.
Para a modelo, a ocupação de espaços e a conquista de direitos devem acontecer em todos os segmentos da sociedade. "Sou bombeira militar e aqui eu dirijo viatura, piloto moto, dirijo caminhão... Sou capoeirista... Tento fazer várias coisas que, a princípio, seriam tachadas como coisa de homem e hoje eu tenho essa oportunidade. E cada vez mais eu tenho visto mulheres em patamares assim como o meu e alcançando espaços muito maiores. Acho que ainda temos um longo percurso, mas a gente está no caminho. Uma prova disso é uma bombeira que é musa e que também faz essas coisas de dirigir viatura, caminhão, pilotar moto, coisas que seriam coisa de homem".
Provocante, não!
A escolha do tipo de vestimenta confortável usada por Luciana durante o último jogo do Atlético é recorrente para a modelo quando vai ao campo. Gatuza é enfática ao dizer que se sente livre para se apresentar da forma que quiser.
"Não acho roupas provocantes. Me sinto livre pra vestir o que me deixa feliz e acho que as gordinhas, as magrinhas, as saradas deveriam se sentir assim também! E se me provoca alegria as roupas que visto, tenho certeza que provoca o mesmo sentimento pra quem está perto", afirma.
Segundo ela, a escolha do figurino é uma forma de despertar a atenção dos presentes no estádio e, de alguma forma, transmitir positividade. "Meu objetivo é atrair o público do estádio de uma forma positiva. Mostrar que mesmo quando é uma mulher bonita e atraente aos olhos dos homens, o estádio, a torcida atleticana e a sociedade têm visto isso com olhos diferentes."
Luciana vai ao estádio sempre na companhia do marido Paulo Júnior, segundo ela, seu 'fã número 1'. A modelo destaca que nunca se sentiu desrespeitada no meio da torcida. “Muito pelo contrário, muitas famílias pedem pra tirar foto e eu não vejo problema algum. Esse meu jeito ousado é uma característica minha mesmo. E o que eu tento levar é que nós mulheres podemos sim para qualquer lugar, com uma roupa ousada ou não e isso não interfere no modo como as pessoas vão nos ver. É só uma demonstração de alegria", afirma.
Alvo de elogios, Luciana afirma que sabe como se posicionar quando se sente na iminência de passar por alguma situação de abordagem agressiva ou desrespeitosa. "Os elogios são encarados de forma positiva. Normalmente eles não me ofendem. Quando alguém começa exagerar, a gente dá uma escorregada", conta.
Bombeira ou modelo?
Assim como o coração dividido entre as cores preta e branca do Atlético, as 'identidades' da Soldado Milard e da modelo Lu Gatuza também disputam espaço na rotina da atleticana. Ela declara amor a ambas as atividades.
"São carreiras bem distintas. Eu amo as duas carreiras. Se eu tivesse que escolher apenas uma delas eu não conseguiria fazer isso. Hoje eu estou realizando um desejo de criança que era alcançar reconhecimento como modelo. E também um sonho de criança que era ser bombeira militar. Tenho muita alegria em ter as duas profissões, mas hoje a minha prioridade é o Corpo de Bombeiros. Não abriria mão de ser bombeira militar para pode seguir na carreira de modelo. Apesar de ainda sonhar em trabalhar na televisão", destaca a militar.
Durante a entrevista, Luciana se mostrou desenvolta e eloquente, se expressando com clareza. A modelo projeta usar essas habilidades como comunicadora de televisão.
"A TV tem um campo muito amplo, inclusive pra mim que adoro cantar, dançar e atuar. Contudo, vendo meu perfil, os que mais me encantam são os programas de plateia e as reportagens de rua, já que adoro comunicar e interagir com as pessoas", planeja Luciana.
A dupla identidade da bombeira musa já rendeu situações inusitadas para Luciana durante o trabalho como militar. Segundo Luciana, ela é frequentemente reconhecida.
"Já aconteceu de eu estar salvando uma pessoa, num atendimento pré-hospitalar. A pessoa tinha sofrido um acidente, mas estava em situação relativamente estável. E aí quando eu estava atendendo. A gente ali, focada, centrada, no meio do atendimento, a pessoa reclamando de dor, parou e perguntou: Você é a Lu Gatuza, musa do Galo? Falei, 'sou eu'. O pessoal da viatura ficou brincando com ele: 'Você está sendo atendido pela musa do Galo'. De vez em quando acontece isso em algumas ocorrências. As pessoas pedem pra tirar foto. Eu falo 'calma, deixa eu atender' (risos)”.