Atlético
None

FUTEBOL FEMININO

Salário fixo, benefícios e estrutura: jogadoras do time feminino do Atlético curtem nova realidade

Amadoras até o ano passado, jogadoras se acostumam ao dia a dia de um clube de ponta e agarram a oportunidade com todas as forças

postado em 26/02/2019 20:28 / atualizado em 26/02/2019 20:57

<i>(Foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)</i>
Nascida e criada na Barragem Santa Lúcia, a jovem Alice Mayra, zagueira de 20 anos, já não é simplesmente uma atleta que sonha em dar os primeiros passos no mundo do futebol. Depois de jogar por oito anos no Prointer, time amador da comunidade onde nasceu, ela hoje veste as cores alvinegras e vive o dia a dia de ser uma jogadora do Atlético. Hoje, a atleta recebe um salário fixo, uniforme, seguro de vida e toda a assistência médica necessária para treinar diariamente com dedicação.

E não foi apenas Alice que viu a transformação de perto desde que o Atlético fez a parceria com o Prointer para criar sua equipe feminina. Com histórias de vida distintas, outras dezenas de jovens vindas de todos os cantos de Belo Horizonte conseguiram dar o primeiro passo na busca pelo sucesso e agora alimentam esperanças de consolidar uma carreira ainda incipiente. Desde o mês passado, as jogadoras do recém-criado time alvinegro se preparam fisicamente e tecnicamente para as competições da temporada, com a expectativa de fazer bom papel já neste primeiro ano de trabalho.

Uma das mais antigas do grupo, Alice Mayra pela primeira vez faz toda uma preparação física completa. Mesmo em pouco tempo, a jogadora diz que a iniciativa do Atlético já a fez mudar de vida: “Antes, no Prointer, não éramos tão conhecidas. Agora as pessoas querem nos abraçar, cumprimentar e perguntar como é o projeto. Minha expectativa é evoluir cada vez mais e conquistar os títulos que não foram possíveis com o Prointer. Acredito que esse ano podemos conquistar muitas coisas boas”.

Ela já faz planos ousados e demostra ansiedade para jogar com o estádio lotado. “Saímos do anonimato e ficamos um pouco mais importantes, famosas. É estranho, pois não me acostumei com tudo isso. A torcida do Atlético cobra muito e apoia muito. Vai chegar o tempo em que as pessoas vão dizer que lhe viram na televisão ou no estádio”.

O time feminino do Atlético nasceu no fim do ano passado para cumprir exigência da Conmebol para disputar a Copa Libertadores. São pelo menos 50 mulheres treinando à noite, três vezes por semana, no campo do Concórdia, na região Nordeste da capital – 25 fazem parte da categoria adulta e as demais se dividem entre Sub-15 e Sub-18. Nos demais dias, elas fazem preparação física numa academia toda equipada de Lourdes, algo que não existia na preparação do Prointer no ano passado. O clube alvinegro optou por incluir no projeto todas as atletas e a comissão técnica do time da Barragem Santa Lúcia, campeão da última edição da Copa Centenário. O Galo já tem no mês que vem duas competições importantes: jogará a Copa BH a partir de 17 de março e estreia no Feminino A-2 (Segunda Divisão do Brasileiro) no dia 27.

No ano passado, a falta de dinheiro foi um problema para a manutenção do Prointer. Hoje, o Atlético tem uma previsão de investimento de R$ 600 mil por ano. “Elas venceram a Copa Centenário e não disputariam o Estadual por falta de recursos. Se entrassem sem dinheiro, não iriam longe e desistiram na segunda rodada. De repente veio o Atlético nessa parceria para premiá-las”, afirma a coordenadora de futebol feminino do Galo, Nina Abreu, ex-funcionária da Federação Mineira de Futebol.

Graças ao projeto, outras atletas têm a chance de buscar os sonhos aos poucos. Eleita a melhor em campo na decisão da última Copa Centenário, a goleira Rayssa, de 23, pela primeira vez vem tendo um treino adequado para a posição. “Temos toda estrutura necessária. Antes, não tínhamos treino de goleiro. Fazíamos o aquecimento normal e depois começávamos o trabalho com as demais atletas. Agora, temos todos os trabalhos e o processo para melhorarmos no que precisamos”, diz a atleta, que cursa educação física e já pensa em trabalhar com esporte no futuro.

Outra que comemora a parceria com o Atlético é a atacante Rávilla, de 24. Ela terá todos os cuidados necessários na cirurgia no joelho direito a ser feita hoje, num hospital de Belo Horizonte. O procedimento terá orientação do médico Rodrigo Lasmar, chefe do departamento médico da Seleção Brasileira. A jogadora já se apresentou para os treinos no mês passado com ruptura no ligamento cruzado anterior, algo semelhante pelo qual passou o cruzeirense Fred e o atleticano Gustavo Blanco. “Se eu machucasse, ficaria assim até hoje. No Atlético, tenho profissionais que me apoiam para tratar mais rápido. Agora é tratar, voltar a treinar e retomar a posição de novo”, afirma a atleta.

MOTIVAÇÃO EXTRA

A também atacante Kassandra, de 19, tem outra história interessante. Mãe do pequeno David, de 2, ela tem de conciliar as atividades de casa com o campo. Ela afirma que, em nenhum momento, pensou em desistir da carreira no futebol. Pelo contrário, até pensa em motivar o filho a seguir seus passos: “David é minha motivação. Jogar futebol é dar exemplo. Amanhã, ele também poderá ser um jogador. Futebol é um amor, uma paixão, por isso aconselho a todos a jogar”.

Outra que tem de conciliar os compromissos particulares com o futebol é a atacante Brenda, de 28, que tem um estúdio de beleza em Lagoa Santa. A atleta conta com a ajuda do marido para poder se preparar bem na modalidade e descansar aos fins de semana: “É sacrificante, mas escolhemos isso para a vida e nos dedicamos ao máximo. Tenho minha empresa, mas meu marido me auxilia muito. Futebol necessita de todos nossos esforços”.

Tags: interiormg atleticomg