Como jogador, Alexandre Gallo sentiu na pele o peso de ser o capitão do Atlético entre 1999 e 2000. De lá para cá, voltou a trabalhar no clube em duas oportunidades. Teve uma rápida e frustrante passagem pela Cidade do Galo em 2008 como treinador. Foram só 14 jogos, com quatro vitórias, quatro empates e seis derrotas. Quase dez anos depois, já em 2018, assumiu oficialmente a função de diretor de futebol. E, em menos de uma temporada no cargo, o dirigente talvez tenha sentido mais do que nunca a pressão dos torcedores alvinegros.
Gallo, gostaríamos que você passasse a limpo esses meses de trabalho à frente do Atlético. Em que você entende que acertou e errou nessa experiência?
Já são 12 meses, porque começamos praticamente no final de outubro do ano passado, início de novembro. Trabalhamos bastante pré-eleição do Sérgio (Sette Câmara, presidente do Atlético). Não é a minha primeira experiência. Fui coordenador de todas as categorias de base da Seleção por dois anos e meio. Em clube é a primeira, mas em comandar, fazer escolhas de comissão técnica, definição de competições… O próprio ciclo olímpico foi todo desenhado por mim. E seguiu até o final, até porque não teria mais tempo, já que saí 11 meses antes da Olimpíada. Não teria mais data Fifa para mudar qualquer situação.
Está sendo uma experiência muito boa para mim, muito interessante, de um grande aprendizado. Quero continuar aprendendo sempre com o futebol, com os acertos, com os erros. Acho que, inicialmente, nós estamos tentando mudar uma característica que já vem de longa data no Atlético, de ter um elenco muito mais velho do que o que a gente espera. Ter um elenco experiente é diferente de ter um elenco envelhecido. Na verdade, a gente queria mudar porque este ano nós teríamos dois problemas específicos para o ano. Um é a questão financeira nossa. Nós só contrataríamos em cima de oportunidades. E essas oportunidades, a gente sabe que elas nem sempre acontecem. Queríamos fazer uma base de jogadores mais jovens para que a gente, no futuro, tivesse a condição de vender mais jogadores. O Atlético tem esta estrutura maravilhosa e, hoje, não está no ‘top 3’ de vendas no Brasil. E a gente precisaria começar em algum ano. E, se tivesse algum ano para começar, seria este, já que não estamos na Libertadores, que sempre foi o foco e o objetivo nosso.
Nós queríamos fazer uma base de jogadores mais jovens, por isso saíram 22 atletas. Eu cito que às vezes as pessoas comentam: ‘Ah, você contratou 16 ou 18 jogadores’. Se não (tivesse contratado), a gente teria só 14. O elenco do Atlético é extremamente enxuto. Dos 32 jogadores hoje no nosso elenco, são quatro goleiros. Desses 28 (de linha), são cinco jogadores da base. Então, as escolhas são sempre do treinador. Mas nós subimos jogadores da base que fazem parte do nosso grupo. Tanto é que, no último jogo, o Levir acabou escolhendo o Bruninho para uma competição. Então, nós não temos 40 jogadores e mais cinco jogadores da base encostados e que não tiveram oportunidade. Não. Nós queremos ter jogadores da base nesta condição: dentro dos 28 atletas de linha e que eles possam buscar seu espaço.
Dessa maneira, começamos o ano com o Oswaldo de Oliveira, que tinha feito um bom trabalho no final do ano anterior, resgatando uma questão de um time que estava próximo da zona de rebaixamento e quase classificou para a Libertadores. Entendeu o Sérgio e eu também entendi que a manutenção dele seria, primeiramente, uma meritocracia, pelo que aconteceu. E também por já conhecer o elenco e a gente estar entrando… Se tivesse acontecido com ele com outro treinador, nós nos puniriamos por isso. Com certeza nos puniríamos. Ele é um treinador que já trabalhou comigo, eu conheço o seu perfil e nós entendemos que a manutenção dele seria importante para o grupo que estava no momento e que ia ser remontado. Nessa remontagem, e toda remontagem passa também pelo treinador estar junto nessa remontagem, ninguém faz remontagem sozinho… Ninguém hoje, nenhum clube… E eu também sou um ex-treinador, não gostaria de fazer com os outros o que eu não gostaria que fizessem comigo. Então, todas as contratações passam pelo presidente, por mim e pelo Oswaldo no início do ano. Ele também entendeu que nós tínhamos que mudar essa característica e fazer um time um pouco mais rápido.
Nós entendemos que depois daquele jogo da Copa do Brasil (empate com o Atlético-AC, no Acre), quando houve aquele problema - e que não foi determinante para a saída dele -, nós fizemos uma reflexão sobre a maneira como o time estava jogando. Entendíamos que era hora da mudança, porque contratamos jogadores de velocidade, fizemos aumentar o nível de força e juventude dos nossos atletas, mas não houve uma adaptação da comissão técnica dele. Essa foi a realidade. Eu sou totalmente favorável a não mudança de treinador, à continuidade. Foi muito difícil para mim e ruim demití-lo naquele momento, mas entendo que a demissão trouxe um momento melhor para o Atlético. O time evoluiu muito nas mãos do Thiago. Então, houve uma primeira mudança, porque se entendeu que para o planejamento para os atletas que vieram, não houve adaptação da comissão técnica.
Com a vinda do Thiago, o time melhorou muito, apesar de termos perdido o Campeonato Mineiro da maneira que todo mundo sabe - e nós não esperávamos perder -, a saída da Copa do Brasil - que machucou bastante a gente, pois era uma competição em que a gente queria seguir, jogando um futebol melhor que o nosso adversário -, e também da Sul-Americana - com um time alternativo àquela época, mas era o que a gente tinha de melhor e mais forte para enfrentar a característica do San Lorenzo, que era um time de força argentino. Naquele momento, nós precisávamos disso. E acabou não dando certo essas situações. Seguimos no Campeonato Brasileiro. Acho que a competição está sendo feita de uma boa maneira por nós. Acho que se você falasse, antes de começar o Brasileiro, que na 31ª rodada nós seríamos o sexto colocado, acho que todo mundo assinaria e ia estar valendo. Até porque as mudanças foram muito grandes. E, quando você pega um ano de mudança e sem condições financeiras para investir em jogadores que tenham nome, peso, força, porque a competição caberia fazer esse reajuste... Acho que a gente manter este ano inteiro entre os seis primeiros colocados - já estivemos em primeiro, em segundo, em terceiro, em quarto, em quinto e hoje estamos em sexto. É claro, é evidente, que em algum momento esse time iria oscilar. Como o Flamengo, com muito mais potencial e jogadores mais velhos que os nossos, oscilou. Como o São Paulo, que está passando por isso até por um período mais longo que o nosso. Entendeu? Aconteceu com a gente agora.
Nós precisamos da torcida do Atlético, pois sem a torcida não é absolutamente nada. A torcida é a que rege tudo isso. Eu conheço bem isso aqui. Eu joguei aqui, vivi bons e maus momentos. Sei do que essa torcida é capaz. Nós precisamos deles do nosso lado. Nós não vamos chegar sem eles. Quando não se rema para o mesmo lado, com um time visceral e uma torcida latente como é a do Atlético, o time não vai a lugar nenhum. E nós queremos a classificação para a Libertadores. Seria extremamente frustrante não classificar depois de estar 31 rodadas na frente. Então, acho que nós temos condições. Aí entendemos que era o momento para a saída do Thiago.
O Thiago fez 49 jogos. Vamos falar de 50 jogos. É um Campeonato Brasileiro e mais um Estadual de 12 jogos. Foram muitos jogos que ele fez. Acho que nós evoluímos muito na parte tática e técnica. Faltou um pouco para ele a questão da experiência em alguns momentos, porque se você fizer uma análise de todos os jogos que nós largamos pontos para trás, foram jogos que nós tínhamos totais condições de ganhar, dentro ou fora de casa. Isso aí pega um pouquinho a questão da experiência. Às vezes, em alguns momentos, uma preleção, um intervalo de jogo que não seja técnico ou tático, que seja comportamental. Coração, entrega, tudo isso. Então, entendemos que era o momento. Fizemos uma mudança. Espero que novamente, como acertamos a saída do Oswaldo e a vinda do Thiago... E torço muito para o Thiago ter uma sequência de carreira maravilhosa, pois é um cara sensacional. É um menino inteligente, que vai evoluir muito na carreira. Acho que essa experiência foi muito boa para ele. E foi muito boa para nós também, porque essa classificação nossa… Se você falasse antes do campeonato, com todas as mudanças que tivemos, ninguém ia acreditar. Acho que estamos pagando um pouquinho pela boa campanha que a gente fez. Até três rodadas atrás, tínhamos chances de brigar pelo título ainda. Infelizmente, acho que agora o nosso momento é de foco total é na Libertadores, que é objetivo desde o começo do ano, lá atrás.
Aí entendemos que a troca agora com o Levir venha trazer para a gente essa motivação, esse algo mais, para a gente vencer a quantidade de jogos e conseguir a quantidade de pontos que a gente tem para conseguir uma classificação para a Libertadores, que para a gente já vai ser uma vitória muito grande pela quantidade de mudanças que nós fizemos para o ano.
O momento agora é de muita pressão, protestos de torcedores. Para esses torcedores, você é principal responsável pelo momento do clube. Como você lida com esse momento de atleticanos pedindo sua saída? Como é sua relação com o Sérgio Sette Câmara quanto a isso?
A pressão é dada para quem tem caixa para segurar. O Sérgio tem sido um parceiro que eu aprendi a gostar, por ver o tamanho da personalidade que ele tem. Nós entendemos e respeitamos muito a torcida. Acho que ela tem todo o direito de protestar, até porque nos últimos três jogos nós tivemos uma queda técnica. É a oscilação da qual falei sobre ter um grupo tão jovem, um grupo novo, com jogadores que ainda não fizeram uma quantidade de jogos para provar o seu valor. Entendo que existe um pouco de exagero às vezes por parte dos avaliadores. Mas entendo que a torcida tem todo o direito. Respeito. Joguei aqui, sei a força que ela tem. E acho que essa pressão é válida. Ela acontece quando existe uma oscilação. Espero que a gente possa tirar coisas boas disso tudo. E até eu, como um aprendizado de vida em relação a tudo o que está acontecendo comigo.
Mas eu gostaria também que as pessoas entendessem tudo o que é feito. Em alguns momentos, a gente transporta para vocês (imprensa) ou para a própria torcida, e às vezes acho que falta um pouquinho de entendimento. Por isso que acho que esse tipo de entrevista é boa, porque te dá condição de falar o que realmente acontece, o que realmente foi feito. Nós fizemos um planejamento para mudar toda a característica do Atlético mesmo. Nós temos até um levantamento dos seis maiores clubes do Brasil aqui. Se você olhar este levantamento, jogador por jogador e idade por idade, você vai entender o que é o campeonato. O porquê de o Palmeiras estar na frente hoje. Então, nós sabíamos que isso tinha grande chance de acontecer, mas entendemos que a posição que a gente está hoje na competição, por tudo o que aconteceu, pelas 22 saídas que aconteceram… E isso aí pouca gente leva em consideração. Só falam dos jogadores que nós contratamos. Nós tivemos que tirar 22 do grupo para mudar essa característica. E nós não temos um grande elenco. Temos um elenco extremamente enxuto. Se a gente não traz esses 16 jogadores, nós teríamos 14. Não tinha como botar um time em campo.
Nós trouxemos porque entendemos que esses jogadores, no futuro, vão poder entregar coisas melhores. Hoje, o Atlético, junto com o São Paulo, é o time em que mais jogadores contratados são titulares no Campeonato Brasileiro. Vou te dar um exemplo. O Róger Guedes foi uma grata surpresa aqui, artilheiro do Campeonato Brasileiro. Ele demorou 14 jogos para se tornar titular com a gente aqui ou ser um cara visto. A partir do 14º jogo, ele passou a ser um jogador importante. No 28º, ele foi embora. Ele demorou 14 jogos. Um cara campeão brasileiro, com experiência de Palmeiras, com experiência de Seleção de base, chegar nessa condição para assumir a titularidade. Então, nós não podemos cobrar de um atleta que não tem três, quatro jogos feitos para você fazer uma análise.
Porque este ano está sendo um ano sazonal, um ano em que você joga só de domingo a domingo. Então, os caras só tem a chance de entrar cinco, dez, 15, 20 minutos. E sempre é um jogador que veio ou de fora do Brasil ou jovens que estavam vindo e buscando espaço no Atlético. Demanda um pouquinho mais de tempo. Grandes jogadores já demandaram mais tempo do que isso. Como citei numa entrevista passada, o próprio craque do nosso adversário, o Arrascaeta, demorou mais de um ano para se tornar um jogador importante para o Cruzeiro. O próprio Cazares aqui. Este ano é que ele está sendo titular com a gente. Faz dois anos que ele entra e sai, à vezes não era convocado no Atlético. Então, o jogador precisa ter essa confiança, esse tempo. E, às vezes, as pessoas não entendem ou não querem entender isso.
Qual foi o seu maior acerto e o seu maior erro no Atlético?
Temos coisas boas. Essa mudança de característica de elenco é muito bem vinda. Talvez as pessoas não entendam agora, mas num futuro próximo vão entender o que estamos fazendo. Se nós estivéssemos na Libertadores, as coisas seriam totalmente diferentes. É isso que a gente entende. A gente entende a reclamação da torcida, mas queríamos passar para ela que, foi em função desse ano, da falta de condição financeira que tínhamos para trazer grandes astros, que a gente resolveu fazer uma base, que tenha chance de dar uma sustentação para vendas futuras e até de jogar esses jogadores e sobreviver neste ano para, no ano que vem, a gente poder ter condição de estar na Libertadores e trazer jogadores de nível competitivo para a Libertadores. Eu gostei bastante disso.
Sobre erros, escuto muita gente falando da quantidade de contratações. Mas não consigo entender como as pessoas não entendem que saíram 22 atletas. Efetivamente, você não vai acertar em todos, ninguém acerta, nunca acertou, nem aqui e nem em lugar nenhum. Mas para acertar ou errar, precisamos que o atleta profissional jogue cinco, seis, sete partidas, para saber se ele tem condições de jogar no Atlético. Antes disso, é extremamente covarde. Uso como exemplo a história do Róger Guedes. Foi campeão brasileiro pelo Palmeiras, chegou aqui e demorou 14 partidas para se firmar. Eu, inclusive, tinha dúvidas. Eu fui o primeiro que quis contratar o Róger Guedes. A gente precisava de um cara que fizesse o canto de campo forte, como ele faz, porque nós contratamos primeiro o Ricardo Oliveira, que eu também sabia que seria um líder positivo, porque moro em Santos e eu o conhecia de Santos, sabia dos profissionais do Santos que ele precisa de um lado de campo forte. Por isso a ideia de trazer o Róger Guedes e depois o Chará, para o lado direito e ter os dois lados fortes. Mas infelizmente perdemos o Róger Guedes. O contrato dele foi questionado por muita gente, para que a gente tivesse uma parte maior. Ainda assim, conseguimos levar 2,5 milhões de euros, algo muito favorável ao Atlético. Em janeiro, quando a gente foi contratar o Róger Guedes, nós não tínhamos condições financeiras para pagar nada, e outros times, como o Internacional, o São Paulo e o Fluminense, na negociação com o Scarpa, estavam à frente. Abrimos mão de tudo para acreditar no atleta. Isso deu muito certo, ele foi artilheiro do Campeonato Brasileiro enquanto esteve aqui e ainda nos deixou uma condição financeira positiva.
Erros e acertos são assim, vão continuar. Sou um cara totalmente favorável a aprender a todo momento e quero continuar aprendendo. Tenho certeza que estou tentando fazer o meu melhor, mesmo que outras pessoas não entendam. Tenho convicção e nosso presidente Sérgio que estamos tentando fazer o melhor para o clube. O pensamento não é agora, é a médio-prazo. Isso nos dá tempo para respirar em termos técnicos e se organizar em termos financeiros.
Muitos torcedores criticam a quantidade de jogadores contratados este ano e a quantidade de jogadores realmente aproveitados. Como você avalia essa situação?
Se você contrata 16 jogadores, quer dizer que o elenco de titulares não existia? Quantos jogadores outras equipes contrataram e jogam de titular? Eu estou te falando que o São Paulo e o Atlético são cinco que jogam e foram contratados. Titulares: o Emerson, o Maidana, o José Welison - que agora se machucou -, o Chará, o Ricardo Oliveira. Todos são titulares. Contratou 16… Mas na tua pergunta não tem que saíram 22. Porque nós fizemos uma mudança de característica de elenco. Não é que eu contratei muito, é que saíram muito. Nosso elenco é pequeno. Você está entendendo? Ah, porque “nós contratamos 16 jogadores e poucos foram utilizados”. É claro que poucos. O que a gente faria com Victor, Leonardo Silva, Fábio Santos, Elias? Não são jogadores para serem titulares do Atlético?
A gente não tinha dinheiro este ano para fazer grandes contratações. Só que, do número de jogadores que nós contratamos, cinco jogam de titular. E já tivemos o Róger Guedes, que era o outro, que era o sexto. E os outros são jogadores para fazer aquela base jovem para os próximos anos. São anos diferentes se nós estivermos na Libertadores. As contratações vão ter um outro cunho. Os investimentos são outros, os patrocinadores são outros, a parte financeira é outra. Você está entendendo? Acho estranho perguntarem de 16, mas não falarem das saídas. Se a gente não traz 16, nós teríamos 14.
Um outro ponto questionado foi a demissão do Larghi. Você avaliou o trabalho dele como positivo. Por que ele não foi convidado a ficar no Atlético como auxiliar, por exemplo? Essa foi uma situação que aconteceu duas vezes no Corinthians, clube que foi usado como exemplo para a diretoria do Atlético efetivar o Larghi. Por outro lado, como foi o processo de definição da contratação do Levir Culpi?
Foi um processo muito tranquilo. O Thiago, por tudo o que ele fez no futebol, nós já tínhamos conversado que ele teria vida própria. Acho que ele mesmo não queria retomar a questão de ser analista de desempenho ou auxiliar técnico.
Numa entrevista, ele chegou a falar que poderia cogitar a possibilidade.
Não houve o convite, mas nós conversamos aqui algumas vezes. Nós já sabíamos que ele teria vida própria, como acho que vai ter. Ele é um treinador que não ficou aqui dez, 15 jogos. Ele ficou 50. Então, acho que nós não teríamos nem condições de fazer essa proposta para ele retornar. Saudável e boa para ele essa situação, eu acho, eu entendo.
A outra questão foi: quando nós entendemos que o Levir era o nome, o presidente já havia trabalhado com ele, e o Lásaro (Cândido da Cunha), o nosso vice-presidente também. E tinham muita amizade com ele. Como estava nessa semana muito conturbada, se eu saio daqui (de Belo Horizonte) ia chamar muita atenção para essa situação. Como eles tinham trabalhado com o Levir e já existia uma amizade, uma questão íntima, então decidimos que: ‘Você fica aqui, toca os treinamentos, toca tudo, que a hora que tivermos um acordo com o Levir, você conversa com o Thiago que nós já estamos definidos em cima disso’. Foi só isso o que aconteceu. Eu fiquei na entrevista lá (de apresentação de Levir Culpi sem responder nada) porque ninguém me perguntou nada. Eu estava lá pronto para falar sobre futebol. Perguntaram para o presidente, e é lógico que ele respondeu. Até porque foi ele que foi lá (em Curitiba), mas com tudo já organizado entre nós, tudo já combinado entre a gente. Até porque fui eu aqui (que falou com Larghi). Eu falei que eu queria falar com o Thiago. E eu falei com o Thiago aqui. Foi quando aconteceu a sua demissão e a vinda do Levir. Não teve nada de estranho, de anormal. Foi uma questão só de proximidade maior deles, até porque eu nunca tive a oportunidade de trabalhar com o Levir, não o conhecia muito bem. Essa amizade do Sérgio e do Lásaro facilitariam uma conversa lá para uma vinda dele. Tinha os familiares, ele voltou do Japão há uns três, quatro meses, estava em casa e tal. Toda essa conversa facilitaria.
Você já disse que começou o planejamento para 2019. Existe o planejamento ‘A’, com vaga para Libertadores, e o ‘B’, sem Libertadores? Ou vocês não planejam o time fora da Libertadores?
Nós estamos muito confiantes com a Libertadores. Não podemos ser diferente. São 31 rodadas entre os seis primeiros.
Mas o Santos se aproximou. Corre o risco…
Risco a gente corre sempre. O futebol é feito de riscos. Mas nós temos o plano para a Libertadores. O plano nosso foi justamente equacionar, fazer uma base de atletas mais jovens (em 2018). Para o ano que vem, a ideia é de ter jogadores mais experientes, jogadores para a Libertadores. Jogadores vencedores, como a gente tem esses jogadores acima de 30 anos, que é o caso do Victor, do Leo, do Fábio Santos, do Elias, do Ricardo… Todos jogadores vencedores, com passagem por Seleção Brasileira. E a gente entende que o Atlético precisa de jogador vencedor. Todo time precisa melhorar. Então, para uma Libertadores, você tem condição de trazer mais jogadores desse nível.
No entendimento da diretoria, quais são as posições mais carentes do elenco e desse time titular?
Nós já temos as prioridades bem definidas, as posições. A gente só não passa, porque qualquer condição que você passar… ‘Ah, precisamos de um goleiro’, entre aspas, porque não é uma posição que a gente vai (contratar). Efetivamente, nós temos o Victor e mais três goleiros em quem a gente acredita bastante. Mas onera, onera uma situação dessa. Fica caro, sabendo que a gente vai em cima do mercado. Nós já temos algumas dicas. É claro que isso tudo vai passar pelo Levir. Vai ser importante que passe por ele. Mas como nós já estamos aqui há um tempo, nós entendemos essa situação. E é claro que a palavra dele vai ser extremamente importante, se ele entende dessa maneira também.
Mas a diretoria já começou efetivamente a agir no mercado nesse sentido?
Já. Já começamos contatos prévios para uma situação dessas. Mas é claro que, volto a frisar, a palavra do treinador vai ser extremamente importante.
Diego Tardelli está em fim de contrato. A contratação do jogador é possibilidade ou loucura?
Nenhuma nem outra. Seria uma grande honra trabalhar com ele, eu gostaria muito que ele viesse, nós faremos o possível e o impossível para trazê-lo. A gente conversou com o representante dele antes de surgir qualquer possibilidade. O contrato está acabando, mas ele tem três opções na China para fazer novos contratos. É claro que ele pensa no Atlético, como a gente pensa nele. Deixei claro para o agente: ‘Caso esses três não dê certo, eu sou o primeiro da lista’. Nós vamos fazer de tudo para tê-lo, é importante que a torcida saiba disso. Em junho eu conversei com o representante dele, porque sabia da possibilidade. Mas infelizmente a gente não tem a força que a China tem. Eu acredito que ele ficará lá. Caso não fique, já deixei claro que o Atlético é o número 1 na fila e estará de portas abertas.
Vale fazer uma loucura financeira para ter o Diego Tardelli?
Acho que conta a participação que ele teve aqui. É muito difícil um atleta cavar uma situação de ser ídolo como ele é, querido pela torcida, do clube entender a sua maneira de agir, de ele entender o funcionamento do clube. Acho que isso vale muito para um atleta. Depois de tanto tempo na China, acho que ele vai estar realizado financeiramente. Não sou o representante do atleta, mas acredito que o Atlético é a porta número 1 para ele no retorno ao Brasil.
Há também jogadores que estão no Atlético e não se sabe se ficarão. Tem o Leo Silva, cujo contrato vai até o final do ano. Além dos emprestados, como Juninho, Tomás Andrade e Matheus Galdezani, com vínculo também só até 31 de dezembro. Já há alguma definição sobre a permanência desses atletas?
Esses jogadores emprestados a gente faz a avaliação deles constantemente. Como você tem o prazo até 31 de dezembro para tomar uma decisão, você pode ter calma. Até porque nós trocamos o treinador agora, então vai ser importante a palavra dele, como foi em todas as contratações. Então, vai ser muito importante ele dar a sua palavra.
A situação do Leo... Acho que dessa maneira nos deixa muito confortável em relação ao que foi ano passado, que foi uma loucura pelo número de dispensas e de contratações. A gente não queria isso, mas tinha que fazer isso este ano. Era necessário fazer isso. Nós não teríamos outro ano em que, entre aspas, não teríamos problema ou não estaríamos na Libertadores. Porque o Atlético tem que estar na Libertadores. O Atlético é muito grande. A gente pensa grande para ele. Então, para isso acontecer, tínhamos que fazer essa reviravolta em todo o elenco. Temos praticamente só um contrato a ser renovado, que é o do Leonardo Silva. E a gente tem a intenção dessa renovação.
Qual exatamente é a situação do Tomás Andrade, que joga com frequência, mas ainda não conseguiu se firmar como titular? O valor do passe fixado dele é alto para o padrão das contratações do Atlético. Há a possibilidade de uma extensão do empréstimo, por exemplo?
Todas as possibilidade podem acontecer, como você ir lá e querer mais um ano de empréstimo ou alguma situação dessa. Ou ainda fazer uma aquisição… Tudo vai demandar de uma análise final de um novo treinador também, para que isso aconteça. E não tem que se ter tanta pressa nessa situação. Nós temos tempo. Nós temos até 31 de dezembro para exercer ou não. Se nós entendermos - e o Levir com ajuda nisso aí - que a gente deve agir, provavelmente no início do próximo mês, inicia-se uma conversa, mas sem necessidade de desespero para isso.
A permanência do José Welison, que tem contrato até o fim do ano, já está garantida?
Quando ele veio por empréstimo, a gente sempre tratou com o empresário e com o atleta a possibilidade de aquisição com um contrato de cinco anos. Eu já o conhecia da seleção de base, esteve lá comigo. É um jogador com a característica do Atlético, gosto bastante dele, tem muita personalidade. Tem grande chance de ele ficar. E já está pronto o contrato de cinco anos.
Como está a situação dos jogadores emprestados pelo Atlético?
Nós tínhamos com o Thiago (Larghi) um planejamento feito para eles. Vamos dar um tempo de 15 a 20 dias para o Levir se inteirar de tudo que está acontecendo aqui. Já apresentei para ele quais são os jogadores, quais são os clubes. Vamos dar um tempo para ele respirar e tomar as decisões que têm que ser tomadas.
O Palmeiras já sinalizou que vai optar pela compra do Marcos Rocha?
Ainda não. Como a gente tem o prazo, eles também tem. Não tem a necessidade de sinalizar tão cedo. O Marcos Rocha é um grande jogador. Tê-lo no elenco seria muito bom. A gente está confortável nessa situação. Vamos esperar uma definição do Palmeiras em relação a isso. Tenho certeza que não vai ser por agora. A gente pode receber uma ligação no dia 30. Vamos aguardar.
Quais são os jogadores vistos com potencial de venda nas próximas janelas de transferências?
Hoje temos dois jogadores que já tivemos algumas consultas importantes, que são os casos do Emerson e Iago Maidana, que estão jogando, com faixa etária baixa e têm mantido um bom nível. Essa janela você realiza e entrega na próxima janela. A gente pensa em contar com eles no ano que vem. Caso haja uma possível venda, a gente tenta manter até o próximo ano ou até a janela de agosto, que você pode utilizá-lo por quase todo o ano. Nós temos outros jogadores que podem acontecer. Estive há pouco tempo na Europa. Pelo que a gente ouve no mercado, esses dois jogadores estão bem reconhecidos. Melhor não falar os clubes. O Milan fez uma pergunta importante pelo Maidana, ele está finalizando a questão de seu passaporte comunitário e isso conta muito para eles em termos de valor, porque abre uma brecha no time para trazer um não-comunitário. Por ser comunitário, ter uma boa estatura, ser novo ainda e ter um perfil de crescimento para evoluir tecnicamente por uns três anos, os clubes ficam atentos a isso.
Como está a situação do Denílson? Ele pode deixar o clube rumo ao futebol japonês?
A gente tem um contrato com ele mais longo. Isso deve acontecer só no fim de novembro. A janela abre em janeiro, em novembro começam a aquecer as negociações. O clube tem que estar aberto a negociar qualquer atleta. A gente só citou ele porque realmente aconteceu. É um atleta que a gente espera um bom desempenho, que ainda não aconteceu, mas ele jogou muito pouco ainda. Ele jogou apenas 171 minutos. É um contraponto técnico. O Ricardo Oliveira é um jogador extremamente técnico e existe um comparativo no clube. Ele veio para ser um jogador diferente do que a gente já tinha. Com qualquer atleta pode acontecer. O Atlético é um clube que tem necessidade de fazer negócio e vender, porque todo mundo sabe que o futebol brasileiro não é superavitário, temos necessidade da televisão e a necessidade de vender jogadores.
O clube atrasou salários dos jogadores do time profissional. Já há alguma previsão de pagamento?
A gente pretende pagar os jogadores o mais rápido possível. São alguns dias, é absolutamente normal no contexto do futebol mundial. Não vejo nem desespero nem qualquer outra situação porque até hoje estamos honrando todos os compromissos.
O clube tem receitas fixas durante o ano. Mesmo com elas, o clube não consegue arcar com os compromissos. O que o clube, a diretoria, faz para buscar esses recursos?
A diretoria financeira que acaba fazendo esse trabalho junto com o nosso presidente. Eu estou por dentro de tudo para saber como conduzir a questão do futebol. Nós tivemos esse ano um problema grande, que foram as rescisões de contrato. A gente não esperava que fossem tão onerosas. Nessa mudança, não foram as contratações que nos oneraram, porque elas foram mais baratas do que nos outros anos, foram as rescisões. Nós tínhamos que fazer acordo financeiro com jogadores mais velhos, com contratos longos, de três, quatro anos. E como saíram 22, a gente não esperava essa demanda financeira para ser maior do que o normal. Nós fizemos uma boa janela de transferências no meio do ano com as vendas que aconteceram. Nas aquisições, gastamos um pouco mais na questão do Chará, que é um jogador de seleção e a gente visualizava um bom potencial, porque é um jogador técnico que ainda vai dar grandes alegrias para a nossa torcida. São detalhes e momentos e esse momento não vai atrapalhar a gente de maneira alguma. A gente deixa bem claro para os atletas tudo o que está acontecendo.
Existe uma conversa para voltar a mandar jogos no Mineirão?
Não conversamos ainda com o Levir. Mas a gente pensa em voltar. O presidente já externou essa situação, mas esse assunto está nas mãos dele e do Lásaro. Eles têm bastante esse timing do negócio aqui, estão há bastante tempo no Atlético. No momento certo eles vão passar se essa situação vai acontecer.
Pressionado, o diretor de futebol Alexandre Gallo disse aceitar críticas de torcedores do Atlético - Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press
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