Em entrevista coletiva na Cidade do Galo, o dirigente foi questionado seguidas vezes sobre a própria atuação no mercado desde que foi contratado para capitanear o planejamento do futebol da gestão do presidente Sérgio Sette Câmara, no fim de 2017. E Gallo foi categórico. Assim como o clube não manteve Bremer - zagueiro de 21 anos negociado recentemente com o Torino-ITA -, não conseguirá batalhar pela permanência de outros jovens que porventura recebam propostas consideradas boas pela diretoria.
“Hoje, nós não temos uma economia como a europeia, de sustentação de um elenco por cinco, seis anos. Não é só com a gente. Todos os times brasileiros dependem dessa questão financeira de venda de atletas. ou dar o exemplo do Bremer, que jogou quatro ou cinco jogos e acabou tendo aí duas, (e teve) três opções de venda para a Europa, que nós não conseguimos segurar. E não vamos conseguir”, avisou Gallo, na tarde dessa terça-feira.
Formar (ou comprar), dar espaço e vender
Assim como em 2018, a ideia da diretoria de futebol é preparar jovens jogadores para o mercado estrangeiro. Como esses atletas chegarão ao profissional do Atlético? Por duas vias: nas próprias categorias de base ou, quem sabe, na aquisição de promessas formadas em outros clubes.
Fica claro, portanto, que a postura desejada pela diretoria é que o Atlético se torne verdadeiramente num clube vendedor. Para isso, é preciso contar com jovens de alto potencial de venda no elenco.
Não à toa, são 17 atletas de até 23 anos no elenco atual, se considerados apenas os que aparecem na relação exposta no site do Atlético. Na prática, o número é ainda maior, já que alguns atletas - como o zagueiro Ruan Marvyn e o centroavante Alerrandro, ambos de 18 anos - são ou foram presenças constantes nos treinamentos e na lista de relacionados para jogos do profissional.
“O futebol brasileiro necessita dessa juventude. A característica do Atlético sempre foi de times de muita velocidade, de força, intensidade. Jogar como diz o nosso hino. Por isso, acho que quanto mais a gente puder rejuvenescer com qualidade - é claro que alguns erros vão acontecer -, acho que o futuro pode ser brilhante em relação a esse reajuste de características da equipe”, disse Gallo.
E o espaço para a base?
Dos jogadores de até 23 anos do elenco, oito não foram formados pelo Atlético: Iago Maidana, Juninho, Martín Rea, Gustavo Blanco, Tomás Andrade, Nathan, Denílson e Leandrinho. O último a chegar ao clube foi o jovem defensor uruguaio, de 20 anos.
Momentos depois da apresentação de Rea, Gallo explicou o motivo de ter contratado um atleta formado em outro clube e que só fez 13 jogos como profissional ao invés de ter apostado em alguma promessa da base.
O diretor defendeu o Atlético ao afirmar que jogadores criados na Cidade do Galo tem, sim, espaço no time de cima e que o uruguaio pode, inclusive, fazer com que jovens formados no clube alvinegro tendem a render mais ao se verem em meio a uma concorrência maior.
Se o Ruan (jovem zagueiro da base que tem treinado entre os profissionais) tiver esse sentimento (de que terá menos espaço pela presença de Rea), ele não serve para jogar no Atlético. O sentimento tem que ser de competitividade, sim. Isso é a tônica que a gente tem aqui. Nós estamos bastante atentos a tudo o que está acontecendo no sub-20. Vários jogadores já estão aqui vivendo com a gente. Para ele, quanto mais competitividade e qualidade ao seu lado, a gente entende que vamos tirar o melhor dele. Nós temos hoje, se não me engano, 24 atletas abaixo dos 23 anos. Não só os nossos, mas a gente também tem sido agressivo no mercado em relação a isso. Para o Atlético mudar justamente essa característica. Não adianta você ter um centro de formação como o nosso e não estar no top 3 de vendas no Brasil. Então, nós estamos semeando bastante para que a gente possa, nos próximos anos, colher frutos dessa juventude que a gente está colocando para jogar”, disse.
E a reposição?
Até o momento, foram 18 jogadores contratados pelo Atlético para esta temporada. O número, para Gallo, é alto, mas faz sentido num contexto de reformulação de elenco. Em relação ao ano anterior, o grupo atual tem média de idade realmente menor.
A ideia da diretoria é diminuir o número de reforços contratados em 2019. Afinal, teoricamente, o elenco já terá uma base formada por atletas jovens com contratos mais longos após a reformulação de 2018.
“Para uma montagem, é um número aceitável (os 18 reforços). É claro que para os próximos anos isso não vai acontecer. Nós temos, eu acho, sete jogadores emprestados. Desses sete, somente quatro acabam o contrato agora em dezembro. Nós não temos praticamente renovação de contrato no final do ano. É isso o que a gente esperava, numa remontagem de elenco. Para justamente ter mais tranquilidade e não precisar fazer esse número (de contratações). Nós precisávamos, realmente, mudar a característica do grupo. Não só a questão da contratação para a gente tem que diminuir, como também a saída de muitos atletas da maneira como saíram, que também nos oneram bastante. Para os próximos anos isso vai ser evitado”, disse.
Ao mesmo tempo em que fala em contratar menos, Gallo quer vender mais. Como essa equação fecharia? Afinal, se realmente conseguir lucrar com transferências de jovens ao exterior - para, quem sabe, fazer parte do ‘top 3 de vendas no Brasil’, como disse o próprio dirigente -, o Atlético precisará suprir tais saídas.
“No futebol, não se pode esquecer que essa reposição de atletas acaba sendo uma situação natural, importante e necessária. Nós queremos que os jogadores dêem certo aqui. Se eles derem certo aqui… Efetivamente, nós perdemos financeiramente em função do que a Europa, do que a Ásia apresentam. Diante disso, a gente entende que vai ter dividendos importantes quando esse número maior de atletas, como já foi no jogo contra o Santos, estarem jogando com jovens atletas importantes e manterem um bom nível de futebol. Temos boas perspectivas para o futuro”, defendeu-se.
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