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Titulares em Buenos Aires e discurso de desvalorização: eliminação na Sul-Americana expõe contradição no Atlético

Presidente disse que torneio não era prioridade, mas, no jogo de ida contra o San Lorenzo, Galo jogou com titulares logo depois de clássico desgastante

Túlio Kaizer
Na primeira partida, em Buenos Aires, Atlético jogou com os titulares mesmo após o desgaste no clássico - Foto: AFP / JAVIER GONZALEZ TOLEDO
A eliminação na Copa Sul-Americana expôs um Atlético com discursos diferentes. O presidente Sérgio Sette Câmara lamentou a queda precoce, mas admitiu que a competição continental não era prioridade para a temporada 2018. Já o técnico Thiago Larghi, que poupou o time titular do duelo contra o San Lorenzo, afirmou que a escalação de reservas só aconteceu por causa do desgaste dos principais jogadores alvinegros devido à sequência de partidas. No entanto, ele ressaltou que “procurou valorizar a competição”. 

O discurso de Sérgio Sette Câmara não condiz com a estratégia utilizada pelo Atlético no primeiro jogo da Copa Sul-Americana, contra o San Lorenzo, na Argentina. Logo depois de perder a final do Campeonato Mineiro para o Cruzeiro, quando jogou com um a menos por mais de 70 minutos (Otero foi expulso), o desgastado Galo foi a Buenos Aires com os principais jogadores. 

O cansaço atrapalhou o rendimento da equipe em campo, e o Atlético acabou derrotado por 1 a 0 pelo então time misto do San Lorenzo. Na entrevista coletiva após o jogo, Larghi citou o desgaste da equipe como um dos fatores primordiais para o resultado negativo. 

“A gente sabe que pode dar mais. A gente vem de um jogo difícil no domingo. Jogamos 70 minutos com um homem a menos, faz muita diferença para quem está em campo.
Tivemos a viagem. A gente tinha que ter mais intensidade, mas temos que entender o que aconteceu e o tempo curto de recuperação”, disse o comandante, à época.

Logo depois, o time alvinegro, ainda desgastado pela sequência dura que enfrentou, jogou contra o Vasco, fora de casa, pela estreia do Brasileiro. O Galo vencia até os minutos finais do segundo tempo. No fim, a equipe caiu de ritmo e levou a virada.

Para o duelo dessa terça-feira, Larghi só escalou o goleiro Victor e meia Otero dos titulares. Com a equipe recheada de reservas, o Atlético ficou no empate com o San Lorenzo e acabou eliminado prematuramente da Sul-Americana. O presidente Sérgio Sette Câmara admitiu que a competição continental não era prioridade do Alvinegro.

“Primeiro, acho que a Copa Sul-Americana é a Segunda Divisão da Libertadores, é assim que eu enxergo. Se ela tivesse valor muito grande, as duas copas da Conmebol que o Atlético já ganhou teria mais valor do que têm. E a gente não vê sendo valorizadas. Então, a Sul-Americana, além de pagar pouco, ela tem pouco valor, públicos pequenos, e entendemos que é um campeonato que poderia ser interessante se passássemos com equipe alternativa, e muito provavelmente iríamos com a equipe alternativa até o fim se tivéssemos passado. Entendemos que a equipe demonstrou ter elenco, usamos time alternativo, dominamos o jogo, tivemos um controle de ação muito maior que o San Lorenzo, que é terceiro no Argentino e está na Libertadores do ano que vem. E nosso time mostrou que tem elenco interessante. Torcedor fica chateado, ninguém entra para perder, mas temos que fazer planejamento, e participar de três campeonatos ao mesmo tempo, pode fazer que você não ganhe nenhum deles. Nós tivemos que fazer a nossa opção”, disse ao canal Fox Sports.

O técnico Thiago Larghi, no entanto, disse que a Sul-Americana foi priorizada.
“A gente procurou valorizar a competição. Usamos o time mais forte que poderíamos e lutamos até o fim pela vitória. Infelizmente, perdemos oportunidades, a arbitragem não marcou um pênalti. A gente conseguiu fazer um bom jogo”.

A explicação dada pelo técnico do Atlético para a utilização de reservas foi a sequência de jogos. Foram quatro partidas em dez dias: Corinthians (29 de abril), Chapecoense (2 de maio), São Paulo (5 de maio) e San Lorenzo (8 de maio). Para Larghi, o período de recuperação foi muito curto e os jogadores escalados estavam mais preparados para enfrentar os argentinos.

No jogo de ida contra os argentinos, no entanto, o Atlético também vinha de uma sequência dura de jogos. A partida contra o San Lorenzo foi a quarta em 11 dias, um a mais do que a série que culminou com a eliminação. Naquela oportunidade, o Galo utilizou titulares nas duas finais contra o Cruzeiro e no duelo em Buenos Aires. Contra o Ferroviário-CE, pela Copa do Brasil, a opção foi por um time mesclado, com apenas seis titulares escalados.

Atlético jogou com time quase todo reserva diante do San Lorenzo e acabou eliminado da Sul-Americana - Foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press

LEIA, NA ÍNTEGRA, AS DECLARAÇÕES DE SETTE CÂMARA À FOX SPORTS:

Em primeiro lugar, é o que paga pior, é um torneio que dá muito trabalho de logística, tudo pago pelo clube também. Então, se amanhã, a gente sai com um time lá da Bolívia, é tudo por conta do clube, hotel, enfim, os voos etc, e que obviamente também interfere muito na logística do semestre, que está muito apertado com os jogos da Copa do Brasil e do Campeonato Brasileiro.
Nós temos em mira, obviamente, o Campeonato Brasileiro, como falei no dia da minha posse. É um objetivo, obviamente sim é um objetivo, não é um sonho. Acho que temos totais de chegar lá e vamos enfrentar equipes que vão estar disputando outros campeonatos, né, a Libertadores, a própria Sul-Americana, a Copa do Brasil, podemos estar, podemos não estar, se acontecer uma tragédia lá na quarta-feira que vem, mas vamos continuar nosso caminho em busca do Campeonato Brasileiro, da classificação para a Copa Libertadores, e obviamente que nós entramos com um time que, nós entendemos que, se estão aqui fazendo parte do elenco, eles têm condição. Fiquei satisfeito com o que eu vi, acho que a vitória não veio por questão de detalhe. Nós tivemos aí umas três oportunidades claras de fazer o gol, e não fizemos, e isso acontece. Mas foi ao mesmo tempo muito gratificante ver alguns jovens que estamos lançando, apareceram muito bem e esse é o Atlético que a gente está preparando para o futuro. Então, passa por isso, né? Se formos olhar outros times que foram campeões brasileiros, o ano passado, por exemplo, né, tanto o campeão brasileiro, o Corinthians, quanto o nosso adversário aqui de Belo Horizonte, ganhou a Copa do Brasil, deixaram os campeonatos sul-americanos na primeira rodada. No caso do Cruzeiro, na primeira rodada, para um time inexpressivo inclusive, o Nacional do Paraguai, não que esteja desrespeitando, mas não se compara ao Nacional do Uruguai. Quer dizer, é um clube que até conheço, é um clube mais modesto. E o Corinthians saiu no começo do campeonato, não me lembro bem, focou no Campeonato Brasileiro e obviamente teve sucesso. Muito desse sucesso dos clubes que conquistam Copa do Brasil ou Campeonato Brasileiro está atrelado ao condicionamento físico de seus atletas. Jogo sábado, domingo e meio de semana atrapalha e faz com que esses times tenham uma queda de rendimento muito grande e obviamente os resultados não vêm a contento.

A respeito da Copa Sul-Americana. O torcedor do Atlético, nos últimos anos, pegou gostinho por conquistas internacionais e, claro, uma conquista como essa garante uma vaga na Libertadores do ano que vem, uma decisão de Recopa e também a Copa Suruga no Japão. É um aumento de visibilidade para a marca do Atlético. Essa eliminação precoce na Copa Sul-Americana não traz um desgaste maior do que o senhor imagina?

Não, porque primeiro, eu acho que a Copa Sul-Americana é a segunda divisão da Libertadores da América. É assim que eu enxergo, né? Se ela tivesse esse valor muito grande, as duas copas que o Atlético ganhou da Conmebol teriam mais valor do que na verdade têm. No entanto, a gente não vê sendo valorizadas assim, e olha que, naquela época, quem classificava para a Conmebol não era o nono, o décimo, o décimo primeiro não, era o segundo e o terceiro do Campeonato Brasileiro. Então, assim, eu acho que a Sul-Americana, além de pagar pouco, ela tem pouco valor, você vê até pelos próprios públicos que vem comparecendo nas partidas, são públicos pequenos se comparados com os públicos que você vê na Libertadores. E nós entendemos que é um campeonato que pode ser interessante, poderia ser interessante se nós tivéssemos passado com uma equipe alternativa e muito provavelmente nós iríamos continuar o torneio com essa equipe alternativa, e ia até onde fosse possível, tentar o título, obviamente, mas não foi, né? Perdemos para uma equipe qualificada, que é o San Lorenzo, entendemos que a equipe mostrou ter elenco sim, porque dessa vez nós enfrentamos a equipe principal do San Lorenzo, com um time alternativo, cheio de reservas, e ainda assim, no meu modo de entender, nós dominamos o jogo, tivemos um controle de ações muito maior que o time do San Lorenzo, que é o terceiro maior, o terceiro colocado no Campeonato Argentino e inclusive já está classificado para a fase de grupos da Copa Libertadores do ano que vem, daí porque nosso time mostrou que está sim com um elenco muito interessante. Não adianta, o torcedor fica chateado, é óbvio, eu também fico chateado, a gente não entra em nenhum torneio para perder. Mas nós temos que fazer também um planejamento, nós sabemos também que participar de três campeonatos ao mesmo tempo pode fazer com que você não belisque nenhum deles. E aí, nós tivemos que fazer as nossas opções.

Você acha que o torcedor consegue entender isso? Você viu o tamanho do...pelo menos de parte da torcida protestando e inclusive citando seu nome, presidente.

”Esses que estão protestando aí serão os mesmos que vão gritar meu nome quando nós formos campeões e vão dizer que eu estava certo. Como, aliás, já vem acontecendo em algumas situações. Quando lá no início, eu comecei a fazer uma filosofia do bom e barato, comecei a colocar as contas em dia, e hoje o que eu tenho ouvido por aí é que o nosso time está sim muito bem, está jogando bem. Não é? Nós apostamos num treinador jovem, que está implantando uma filosofia interessante, e os resultados vão vir em médio e longo prazo, né? Esses torcedores são imediatistas, a gente entende que a paixão fala mais alto do que a razão, mas estou aqui para fazer um Atlético melhor, eles podem ter certeza que nós não estamos fazendo bobagem, eu tenho que trabalhar pensando basicamente com aquela filosofia de quem administra o clube e quer montar um time bom no presente e melhor ainda no futuro. Nós estamos fazendo isso, investindo em jovens atletas, e montando, acho, um time muito interessante para esse ano, a despeito da falta de dinheiro, das dificuldades todas que enfrentamos. Eu vejo o nosso time como um time que está em quinto ou sexto hoje no Campeonato Brasileiro e que antes da Copa, com absoluta certeza, ele vai estar entre os três primeiros, dentro da sequência de jogos que nós temos aqui. E com o apoio dessa massa, os jogos  que vamos ter com América, Cruzeiro, Fluminense, Ceará e Flamengo, nós podemos fazer uma pontuação muito alta e beliscar alguns jogos fora, o que certamente vai fazer com que a gente chegue na parada da Copa talvez ocupando a primeira, a segunda, no máximo, a terceira posição”.
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