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Surpresa positiva, dívidas e futuro alvinegro: Nepomuceno fala sobre os 109 anos do Galo

Confira entrevista exclusiva com o presidente, no dia no aniversário do clube

postado em 25/03/2017 07:45 / atualizado em 24/03/2017 22:27

Gladyston Rodrigues/EM
O Atlético caminha para mais uma temporada em que buscará títulos de expressão, como o bi da Copa Libertadores e o Campeonato Brasileiro. A frustração do ano passado, quando brigou no topo, mas não alcançou as taças, deixou lições. O começo de trabalho de Roger Machado surpreende o presidente Daniel Nepomuceno. Fora das quatro linhas, apesar de dívidas a serem quitadas, o dirigente se mostra otimista e afirma que haverá surpresas positivas no balanço financeiro de 2017. Ele não dá detalhes, mas estudo feito pelo Itaú BBA indica superavit depois de muitos anos. “São 109 anos mostrando uma estrutura que ninguém tem no país, mostrando um elenco que são poucos times que têm igual e um balanço que dará orgulho para os atleticanos e fortalecendo a paixão e a presença da torcida”, afirma o dirigente, há dois anos e três meses no cargo. A atual gestão do clube toca ainda o grandioso projeto do estádio do Galo, cujo terreno já está garantido e o desafio é viabilizá-lo. No aniversário do clube, Nepomuceno falou ao Estado de Minas e ao Superesportes sobre a série de investimentos na equipe, a ampliação da Cidade do Galo e as categorias de base.



Confira a entrevista de Daniel Nepomuceno na íntegra:


109 anos de Atlético

É sempre bom de falar de coisas boas. Em toda véspera de aniversário, a paixão toma conta e a gente passa a recordar a vida inteira o porquê de ser atleticano, trabalhar para o Atlético e dar a alegria para o clube. O Atlético já vem nos últimos seis anos disputando tudo e concorrendo aos títulos e esperamos que este ano não seja diferente e, com um pouquinho de sorte, tentar levantar uma taça. Com o trabalho de longo tempo, acho que o Atlético voltou ao lugar que nunca deveria ter saído e estamos mais um ano com elenco promissor, com convocações para as seleções da América Latina com certa frequência, com excelente treinador. Futebol é muito injusto, porque precisamos de resultado. Em relação à aceitação da diretoria, toda comissão técnica, funcionários e jogadores, o trabalho do Roger está sendo altamente elogiável e os números estão a favor disso. Temos de manter a cautela, porque sabemos das dificuldades, e 2017 é um ano diferente dos últimos dois. Os adversários se reforçaram e estão com estrutura boa. Mas estou confiante e estamos nos aproximando da data de apresentação do nosso balanço, com surpresa positiva, e sempre crescendo ano a ano. São 109 anos mostrando uma estrutura que ninguém tem no país, mostrando um elenco que são poucos times que têm igual e um balanço que dará orgulho para os atleticanos e fortalecendo a paixão e a presença da torcida. Jogamos sempre com o calor dos torcedores nos apoiando, com recorde de pay-per-view e aceitação da nova camisa, que apresentaremos em poucas semanas. São novidades positivas.



Grande expectativa em 2017

Taça é objetivo número 1. A gente tem cinco anos de Libertadores, conseguimos ser vice-campeões brasileiros em 2015 e da Copa do Brasil no ano passado. O trabalho vem sendo reconhecido por todos por estarmos sempre buscando algo a mais. Mas é preciso alguns ajustes que faltaram para sermos perfeitos e conquistarmos os títulos.

Gladyston Rodrigues/EM

Trabalho do Roger

O Roger surpreende positivamente por ser um treinador moderno e por ser coerente naquilo que ele faz no treino, no que conversa com a gente e o que faz durante o jogo. Ele dá uma sequência. Você vê o time progredindo passo a passo. É nítido isso. Aquela aflição que o torcedor tem de fora, de perceber uma mudança durante o jogo, ele é rápido e faz a coisa certa e na hora certa. Ele é firme dentro do vestiário e durante o treino. É um treinador de muito diálogo. É um dos principais fatores que a gente acredita, com o Roger no comando.

Chegada do Marlone e reforço para a zaga


Zagueiro não está na pauta. Contratamos o Roger Bernardo, que joga de volante e de zagueiro. Temos que mostrar paciência com o Felipe Santana. Essa indústria de contratar, contratar e contratar não para e não há um planejamento que suporte isso. Conversei com o Roger antes do jogo contra o Grêmio, em Porto Alegre, no ano passado. Era esse grupo que estava muito inchado e isso foi o que faltou para ter aquela garra de ter uma equipe menor e mais comprometida, com mais chance de jogar. Tínhamos um grupo de 35 atletas, muito heterogêneo, que faltava brilho nos olhos. Estava programado entregarmos o grupo para a nova comissão técnica e ela variar pouco a pouco aqueles que ficariam numa equipe de 27 ou 26, dando chance para aqueles meninos da base. Temos seis meninos trabalhando quase 24 horas e aprendendo. O mercado do futebol é vivo. Hoje pode chegar um jogador novo. Mas é preciso de um planejamento por trás. O Marlone foi um jogador em que o Roger sempre acreditou, ele explicou como quer esse elenco. Foi uma grande coincidência. Tive uma conversa com o Marlone um tempo atrás, que não foi finalizada, e agora teve a oportunidade do empréstimo em troca do Clayton, que é uma joia, um talento indiscutível, mas que não teve chance de se firmar. Pela posição das peças no campo, chegamos à conclusão que ia fazer mais falta ele brigar pela meia direita do que pelo meio devido à qualidade dos jogadores que temos.

Direito de compra do Otero

Estamos exercendo. Isso já estava previsto. Foi um contrato em que chamamos de risco calculado. É um jogador totalmente diferenciado, completo, que joga em diversas posições e tem identidade com o clube. Mas o mais importante é que ele joga com raça e está à disposição do treinador para qualquer posição.



Trabalho na Secretaria de Desenvolvimento da PBH e no Atlético

Kalil (ex-presidente do Atlético e hoje prefeito de Belo Horizonte) sempre está presente, sendo ou não prefeito. Estamos na Secretaria agora, não estamos dentro do Atlético. A bandeira é apenas decorativa na sala. A gente vê que marcamos reunião às 11h, mas só consegui chegar sem almoçar às 13h30 para depois ir para um seminário às 14h. É um sacrifício imenso. É claro que tenho de trocar as horas noturnas e os fins de semana para a dedicação ao Atlético. Antes, tinha certa flexibilidade e hoje não tenho, por acompanhar a gestão do Kalil. Mas, nesses três primeiros meses de sacrifício, estamos conseguindo apresentar o trabalho nas duas pastas. Sempre fui um servidor público, nunca fugi disso. Mas, por estar próximo do prefeito, sempre ficamos em evidência. Vocês são cobrados: onde está o presidente em todas as áreas do Atlético? Temos uma equipe de diretores competentes, que sempre está se reunindo comigo, acompanhando o futebol. O Atlético tem sua gestão. Se fosse no primeiro ano de mandato, eu diria que seria quase impossível assumir duas responsabilidades. Mas, pela experiência de ter ficado seis anos como vice-presidente e ter sido conselheiro por mais de 15 anos, a gente consegue conciliar as duas coisas.



Dívidas trabalhistas do clube

Estou prestes a apresentar o balanço do clube e mostrar o que é a saúde do clube como um todo e não ficar entrando em questões particulares. Algum jogador sentiu que a hora extra é mais cara e entrou com ação de R$ 500 mil, tentando bloquear uma conta de R$ 100 milhões, como aconteceu agora e vira manchete. Isso acaba com a reputação do clube. Nos últimos anos, o Atlético apresentou todas as certidões negativas de dívidas fiscais e isso não ocorria há décadas. Entramos em acordo tributário de quase de R$ 200 milhões. Para quem tem memória curta, o clube teve R$ 56 milhões bloqueados há mais de quatro anos. Um empresário em qualquer ramo com esse número terá sérios problemas. Tivemos bloqueios tributários durante dois anos consecutivos. Agora, temos mais de R$ 20 milhões de dívidas pagas. Temos nossos processos judiciais. Outro dia saiu uma decisão de um bloqueio de R$ 50 milhões de 1999 de um outro grupo. O que é preciso ressaltar é que o Atlético mantém um elenco de primeira, investe nas estruturas de categorias de base e disputa títulos, além de fazer essa regularização financeira de mais de 30 anos. Não estamos falando de dívidas atuais, porque elas são pequenas. No futebol, não adianta vender todo o elenco e não investir em jogador, porque é o jogador que traz torcida e investimento e, consequentemente, é essa receita que nos leva a pagar os atuais e os restantes. É muito fácil chegar à CBF e mandá-la punir todos os clubes que devem. Quando se falam de dívida, é preciso aprofundar algo mais. É um bloqueio que acaba com uma imagem. Queria que perguntassem para jogadores e funcionários como está a situação financeira do clube. As ações existem e elas não são sigilosas, mas estamos trabalhando na reconstrução do clube há sete anos. A prova é que temos certidões negativas de débitos e acordos firmados de ações de 10, 20, 30 anos atrás.

Gladyston Rodrigues/EM

Clubes que devem ao Atlético

Existem é claro, isso no futebol acontece. Quando a ação é aberta, o diálogo é judicial. Quando ela é administrativa, o diálogo fica entre os presidentes e diretores financeiros. Mas a máquina no futebol é dinâmica. Sabemos que a legislação do futebol é péssima e você herda dívidas e tem acordos mal feitos e todos entram com valores muito altos. Futebol é paixão e você mexe com muito dinheiro. As ações contra o futebol são exorbitantes. Até cito como exemplo a Panini, que tem álbum de figurinhas dos jogadores de 1987 e que não pegou autorização de um deles e hoje isso custa R$ 300 mil aos cofres do clube. É um detalhe. Temos centenas de ações, que chega uma hora que temos de decidir algo. Muita gente pergunta o porquê de não ampliarmos as franquias, voltar com o futsal ou fazer algo. Criar uma gestão é fácil, mas o que envolve aquilo no futuro em relação a ações e ao comprometimento é muito grande e atrapalha bastante. Em relação ao patrimônio, estamos ampliando o CT e tem o shopping que, em poucos anos, será dele e conta com os clubes de lazer. Como empresa, queria discutir isso em pauta. Por que os clubes têm seus equipamentos penhorados e no Atlético isso não existe? Nosso elenco está entre os três mais valiosos do país. Temos de puxar por coisas boas e não é uma ação que vai atrapalhar a saúde financeira do clube.

Dinheiro do Bernard

Queremos não só recuperar o dinheiro do Bernard, mas de uma série de ações que a gente recebe e isso se torna positivo. Outro dia recebemos de um clube que nos devia na Fifa. É difícil de trabalhar e esquecer que, mesmo aumentando o orçamento anual, você tem bloqueios daquela receita que você conta. Se bloquearmos um salário de um trabalhador por seis meses, depois ele está devendo doze, porque você fez dívidas em um país com taxas de juros exorbitantes. Às vezes se fala demais e as pessoas não aprofundam sobre a saúde financeira do clube. É fácil falar para contratar, pagar dívida e ganhar título. Agora, ninguém quer saber a história financeira de 30 anos, orçamento positivo, investimento em equipamentos e sócios, ter 500 funcionários bem remunerados e de imensa competência.



Ampliação da Cidade do Galo

O projeto do CT será apresentado na hora certa. Ele não envolve simplesmente a construção de três campos, envolve uma nova metodologia com a base, com a criação de uma equipe Sub-23, que treinará com o profissional e tenha um calendário inteiro. Considero que não adianta ter um projeto de valorização da base sem ter estrutura. A base precisa de vitrine, competitividade e campeonatos e estamos próximos para ter o Sub-23 como a última etapa do profissional. Isso envolve receita e ensinamento. O mercado para a contratação desses atletas só cresce e colocaremos a metodologia de trabalho do profissional. Não é apenas um campo a mais. É todo um processo que tem anos que gostaríamos de apresentar

Eleição presidencial no clube

Não falo de eleição. É um absurdo eu trabalhar 24 horas para ganhar campeonatos e outras pessoas falarem apenas de eleição. Existem regras eleitorais. Já disputei várias e há um período para isso. Quem fala de eleição tem tempo demais sobrando, quero é mostrar resultados.

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