
Os favoritos ao título eram clubes do Rio de Janeiro e São Paulo. Eram. Ao fim, uma equipe mineira roubou a festa e levantou o troféu de campeão. O Atlético, de Oldair, Ronaldo, Lôla, Dario e companhia, comandado por Telê Santana, um dos maiores treinadores da história desse esporte no país, atropelou no momento decisivo. A conquista do Campeonato Nacional de futebol em sua primeira edição, em 1971, foi a consolidação da força de Minas Gerais nessa competição: em cinco anos, o estado festejava seu segundo título nacional, interrompendo o domínio Rio-São Paulo. A disputa sucedia o Torneio Roberto Gomes Pedrosa.
Saiba mais
Fotos da conquista do Galo no Brasileiro de 1971 Os campeões brasileiros de 1971 Era uma vez, um menino atleticano... Torcida do Galo apoiou time campeão de 1971 até em treinos no bairro de Lourdes Campeões pelo Atlético em 1971 relembram festa que foi do Maracanã a Belo Horizonte Campanha do Atlético no Brasileiro de 1971
A síntese de Beto mostra bem como era o mundo do futebol brasileiro em 1971. E o campeonato ia começar. Nem o mais otimista dos torcedores ou os jogadores atleticanos imaginavam que seriam campeões. “Numa partida contra o Internacional, no Mineirão (17ª das 27 rodadas), é que tive a certeza de que a gente estava na briga pelo título. Começamos perdendo por 1 a 0, e viramos para 3 a 1”, conta o goleiro Mussula, que por muitos anos tinha sido titular do time, mas que se tornou reserva com a chegada de Renato.
“Fui eu quem marcou os três gols”, exagera folcloricamente Dario ao ver o amigo descrevendo a partida. Ele, na verdade, fez um, com Pedrilho respondendo por dois. Sobre Mussula, garante que o fato de não ser mais o titular àquela altura não o torna menos importante na conquista. “Ele era, junto com Oldair, os mais experientes do time. E nos ajudavam muito nas conversas.”
E Dario, artilheiro do torneio, com 15 gols, retorna no tempo, para lembrar a importância de Telê para o grupo. “Eu, quando voltei da Copa do México, tricampeão do mundo, queria mesmo era participar de festas, aproveitar. Um dia, o Telê me colocou na reserva. Fui falar com ele e reclamar, que ele não podia falar aquilo comigo, pois eu fazia gol. Respondeu-me que era eu quem tinha lhe entregue a camisa de titular. Algum tempo depois, num jogo, a gente perdia por 1 a 0. Fui ao Telê e disse que tinha de entrar. Nesse instante, a torcida começou a gritar meu nome. Ele me colocou. Fiz três gols e ganhamos. Depois, fui até ele, para falar: viu, não disse que fazia gols. Aí, ele me respondeu: 'você tomou a camisa de volta'. Ali, acho que nasceu o Dario que participou da conquista do título de 71.”

SEGREDOS
Alguns detalhes fizeram daquele Atlético um time campeão, como conta Ronaldo. “A gente tinha um conjunto muito bom. O Dario era um diferencial. Mas tem um detalhe que quase ninguém sabe: a nossa união. Éramos como uma família. Fazíamos tudo juntos. Nada nem ninguém queria ficar longe um do outro.”
E em campo havia também um lema entre todos os jogadores, segundo Ronaldo. “Apertou, joga a bola pro Dadá. Ele corria muito. Tinha pernas longas e velocidade. Ninguém pegava. A gente fazia muito gol assim.”
Dario ressalta que o time de 71 terminou o Nacional sem nenhum jogador expulso. “Ninguém reclamava do juiz. Aliás, essa era uma recomendação do Telê. Só o Oldair, que era o capitão, é quem podia falar com o árbitro. E a gente seguia isso à risca.”
Beto vai além. “O Telê dizia pra gente sempre que ele era o treinador fora de campo, mas dentro, o técnico era o Oldair. Então, o que ele falasse era lei e tínhamos de acatá-lo. Sempre funcionou muito bem, pois as intervenções do Amauri eram sempre positivas e davam certo.”

Humberto Ramos está ao lado de Dario e escuta a narração do gol do título, quando ele recebe de Ronaldo, penetra pela esquerda da área adversária, vai ao fundo e cruza na segunda trave para Dadá cabecear. É o gol do título. “Isso me faz sempre recordar e lembro que tínhamos de praxe esse rodízio em campo. A gente se deslocava muito. E quando chegava à linha de fundo, era só cruzar alto, no segundo pau, pois sabíamos que o Dadá estaria lá. Era uma jogada de rotina nossa.” Os dois se abraçam.
Ronaldo conta outro segredo do time. “Quando tinha um córner pela esquerda, Oldair e Tião fingiam uma discussão. Aí, o Tião saía gesticulando. O Oldair batia curto, junto à linha de fundo. O Tião corria por trás do lateral e cruzava pra cabeçada do Dadá. Na verdade, enganávamos o adversário. Foram muitos gols assim.”
Do triangular decisivo, lances tanto da vitória contra o São Paulo por 1 a 0, no Mineirão, gol de Oldair, cobrando falta na entrada da área, e do triunfo também por 1 a 0 sobre o Botafogo, no Maracanã, que confirmou o título, são relembrados por eles. Há um misto de descontração e emoção entre os ex-jogadores, que se reencontraram na Vila Olímpica. Afinal, foram campeões brasileiros desbancando vários favoritos, para delírio de toda uma torcida que esteve no Maracanã e também dos tantos que assistiram à partida pela televisão, numa transmissão da TV Itacolomi. E a campanha entrou para a história.