Na década de 1980, o pequeno Philipe se encantava com as histórias que o povo contava do pai, que superou obstáculos, virou ídolo de uma legião de torcedores e se transformou em rei. Mineiro de Ponte Nova, o pai é ninguém menos que Reinaldo, maior artilheiro da história do Atlético, com 255 gols, e dono de uma das histórias mais marcantes do futebol brasileiro. Hoje advogado, Philipe sabia com detalhes cada etapa da difícil carreira do brilhante atacante, que renasceu depois de duas cirurgias complicadas no joelho para ser um dos finalizadores mais letais de todos os tempos. A trajetória de glórias e também de frustrações foi coletada por Philipe na biografia Punho cerrado – A história do Rei, que será lançada sexta-feira, em Belo Horizonte.
A trajetória de Reinaldo é parecida com a de milhares de garotos do país que começaram nos campinhos de terra e depois conseguiram realizar o sonho. Coube ao então técnico dos juniores Barbatana descobrir o promissor atacante numa excursão a Ponte Nova, em 1971. Assim que viu Reinaldo dominar a bola com categoria e chutar com precisão ao gol, Barbatana ficou impressionado. Tanto é que ele pediu à diretoria para contratá-lo rapidamente. E assim foi feito.
Reinaldo foi mais que um grande jogador. Foi uma influência política na época. Ao comemorar seus gols com o punho cerrado (título do livro), ele mostrou rebeldia com o regime militar, lembrando o gesto dos militantes negros do movimento dos Panteras Negras, dos Estados Unidos. “Vimos que o Reinaldo era uma pessoa com dimensão muito maior do que o futebol, com histórias de superação, de militância política, com muitas posições corajosas. E uma vida cheia de grandes histórias e muita luta. Não poderia falar de fora”, afirma Philipe, que reúne na obra depoimentos de Toninho Cerezo, João Leite, Procópio Cardoso e Marcelo Oliveira, entre outros.
Por causa dos problemas no joelho, Reinaldo não esteve em suas melhores condições físicas quando disputou a Copa do Mundo de 1978, na Argentina – o Brasil terminou em terceiro lugar. Um ano antes, o Atlético encantou o país e também terminou como vice-campeão nacional, saindo derrotado na disputa de pênaltis para o São Paulo, no Mineirão. Em ambas, o Rei saiu sem perder. Em 1980, participou da polêmica final contra o Flamengo, em que foi expulso e também terminou derrotado.
A primeira chance na Seleção veio por meio do técnico Osvaldo Brandão, na Copa América de 1975, na Venezuela, quando Reinaldo tinha apenas 18 anos. Mas foi Cláudio Coutinho quem se mostrou fã do centroavante. “Mesmo sendo o artilheiro do país no time fantástico do Atlético, era muito difícil um jogador de Minas chegar à Seleção. As pessoas não sabiam o que se passava aqui. Mas, pelo que fez em 1977, não teria como deixar de fora de uma Copa do Mundo o goleador do Brasileiro. Ele acabou indo para a Argentina sem estar 100% nas condições físicas. O Cláudio Coutinho manteve a confiança porque era um grande admirador do futebol dele”, conta o autor.
Faltou-lhe um título de expressão na carreira. Pelo Galo, foi campeão mineiro por oito vezes (em 1976, de 1978 a 1983, e em 1985) e da Taça Minas Gerais em duas oportunidades (1975 e 1976). Philipe acredita que Reinaldo seria o melhor de todos os tempos se não passasse por dificuldades: “Ele não chegou ao nível do Pelé porque Pelé foi o incomparável. Meu pai jogou com problemas físicos, coisas que o Pelé praticamente não teve”, brinca.
DECLÍNIO A carreira de Reinaldo depois de 1981 declinou ainda mais com os problemas no joelho. Ele deixou o Atlético em 1985 e foi para o Palmeiras, onde ficou apenas três meses e não marcou nenhum gol. Em 1986, o atacante defendeu o Rio Preto-AM em apenas seis partidas e marcou dois gols. Depois disso, voltou para Belo Horizonte para jogar pelo Cruzeiro, só que, diferentemente da época de Atlético, ele não brilhou por lá, jogou apenas duas partidas e não marcou nem uma vez.
Depois de encerrada a carreira, Reinaldo enfrentou problemas pessoais, se elegeu vereador por Belo Horizonte e deputado estadual, foi comentarista esportivo e hoje mora nos Estados Unidos, onde tem escolinha de futebol.
TRECHO DO LIVRO
“Todos no estádio começaram a se perguntar quem era aquele menino. As atuações de Reinaldo impressionavam e despertavam muita curiosidade: como era possível um garoto tão novo ser capaz de jogadas tão geniais”
Punho cerrado – A história do Rei
Philipe Van R. Lima
Editora Letramento
255 páginas
R$ 49,90
LANÇAMENTO
Maior artilheiro e ídolo da história do Atlético, Reinaldo ganha biografia escrita pelo filho
Livro traz as glórias e decepções nos gramados e na vida, além da experiência na política
postado em 11/09/2016 11:00 / atualizado em 11/09/2016 10:46