ATLÉTICO
Frustrações, desemprego e busca pelo sonho: a trajetória de Carlos César até a boa fase no Galo
Lateral, que vem encarando o desafio de substituir Marcos Rocha na equipe, revela como se fortaleceu para vencer os desafios enfrentados desde o começo da carreira
Rodrigo Fonseca /Superesportes , Thiago Madureira /Superesportes
postado em 07/08/2016 16:35 / atualizado em 07/08/2016 17:01
É raro um jogador de um time do interior de Minas ganhar uma chance no Atlético ou no Cruzeiro. Transpor essa barreira foi um dos desafios vencidos por Carlos César. O hoje titular do Galo - vem substituindo Marcos Rocha, que estava lesionado e agora busca a recuperação física -, derrotou ainda as frustrações dos testes reprovados quando ainda era um garoto que sonhava em ser jogador, driblou a dura realidade do desemprego enfrentada por muitos que não alcançaram ainda a elite do futebol. Carlos César, de 29 anos, mineiro de Uberaba, conta um pouco de sua caminhada, impulsionada pelo apoio familiar e pelo sonho de defender um grande clube, realizado em 2011, quando foi contratado do Boa Esporte pelo Atlético. Depois de empréstimos para Atlético Paranaense e Vasco, o lateral curte boa fase no Galo.
O início da carreira
“Foi difícil, poucos recursos, muita gente dizendo que você não vai chegar, até por uma palavra forte que vou dizer, mas que infelizmente acontece, que é a inveja, pelo fato de você sair de um bairro pobre, de uma cidade do interior de Minas Gerais, que é Uberaba. Se eu for apontar cada dificuldade, são tantas... O fato de ter uma família que meu deu todo apoio e amor que precisei, me dá força para chegar onde cheguei. Passei por muitos testes, cheguei ao Criciúma, meu primeiro clube, onde me profissionalizei. O caminho até chegar foi difícil, muitas adversidades, muitos problemas que apareceram durante essa caminhada, que, na verdade, me fortaleceram, me deram uma base para enfrentar as adversidades de hoje. Eu agradeço a Deus, que sempre foi fiel na minha vida, minha família. Hoje a gente pode relembrar, em uma reunião familiar, de cada momento difícil. Hoje posso dizer que fomos vitoriosos”
Reprovação em testes
“Nos primeiros testes, acho que no terceiro, no Vitória da Bahia, eu fui reprovado e voltei para Uberaba. Uma pessoa muito ligada a minha família, eu tinha uns 13 anos, falou que era para eu desistir, porque todos os outros meninos do bairro não conseguiram e se frustraram. Naquele momento, fui chorando para casa. Contei para meu irmão e ele disse para eu não dar ouvido a essas pessoas porque elas não querem seu bem, acredite em seu sonho. Foi um momento difícil, eu era uma criança, não entendia muito bem e achava que poderia não conseguir. A importância de ter uma família é essa, a diferença que eles estão ali para te apoiar e te fazer prosseguir”
Do desemprego ao Galo
“Outro momento difícil foi em 2010, quando fiquei oito meses sem clube, achei que as coisas não iam fluir. Eu estava vendo cada sonho morrer a casa mês que passava sem arrumar clube. A fé em Deus e a base familiar me sustentaram. O futebol é muito dinâmico, nos proporciona alegria rapidamente. No final de 2010, fui para o Guarani de Divinópolis e, depois do Campeonato Mineiro, ainda tive uma passagem pelo Boa. Em menos de um ano, eu estava no Atlético. Hoje, nos momentos difíceis, olho para trás e lembro que já passei por momentos mais difíceis”
Em busca dos sonhos
“Dos jogadores que saem de times pequenos, aquele que tem mais vontade de vencer é aquele que tem mais vontade de realizar os seus sonhos, sem deixar que eles se percam no caminho. Isso vai fazer com que ele chegue em um grande clube e se mantenha, evoluindo e produzindo. Nunca deixei de sonhar, encaro cada dia de trabalho, cada jogo como oportunidade de crescer. Cada momento que estou com um companheiro mais vivido eu procuro aprender com ele. A diferença daquele que vem de um time pequeno para um grande e obtém sucesso está naquilo que ele acredita, na meta que ele traça. Isso vem fazendo minha carreira aqui no Atlético”
Fora da Florida Cup pensou em novo empréstimo
“No início do ano, na pré-temporada, quando a equipe viajou para os Estados Unidos (disputa da Florida Cup), e eu acabei não indo para aquela viagem, por um momento, cheguei a pensar que não teria muito espaço aqui e que poderia pensar em um empréstimo, mas foquei, coloquei uma meta a ser atingida, me preparei para, quando o pessoal voltasse, estar bem e mostrar ao treinador que poderia confiar em mim. Tive as chances com o Aguirre, fiz bons jogos e a hoje tenho uma sequência no time. Estou feliz no Atlético e quero conquistar títulos”
Por que ficou no Galo?
“O atleta tem que pensar em evoluir, mostrar que tem condições de estar em campo e ganhar a confiança de todos, mesmo na reserva, sem jogar, e querendo jogar. No momento que não estava jogando, pensava que estava em um grande clube, que vai me dar uma oportunidade de ser campeão brasileiro, de conquistar títulos. As chances vão aparecer, são muitos jogos. Oportunidade aparece para aquele que está preparado. O que me faz permanecer é essa oportunidade que o Atlético, com o grupo que tem, pode conquistar títulos. É uma leitura que o atleta precisa fazer, não somente ficar descontente porque não está jogando e querer procurar outro lugar para jogar. Não necessariamente ter uma mudança de clube quer dizer que você vai jogar. Tem de ter maturidade para entender que as chances vão aparecer”
Busca pelo título do Brasileiro
“Queremos conquistar o Campeonato Brasileiro, desde 2012 estamos batendo na trave. Eu fui premiado na equipe de 2013, que conquistou a Libertadores, tive uma experiência linda. Mas o meu maior sonho é conquistar esse Brasileiro com o Atlético, porque está sendo um ano diferente, estamos fazendo grandes partidas, no meu caso, tenho feito bons jogos e mais jogos pelo Atlético. Vejo nossa equipe mais formada, mais competitiva, mais forte. Isso ajuda a crescer, a gente pode conquistar esse sonho”
Consciência defensiva
“O futebol vem evoluindo, as equipes com uma maior organização tática, entendo que, essa evolução, vem com referências europeias, aqui no Brasil estão tentando implantar esse sistema mais organizado, com duas linhas de quatro, você mais posicionado. Trabalhando dessa forma, eu me enquadro nessa evolução que os treinadores estão colocando, de organização de equipe, uma base atrás, formada para dar uma estrutura para o atacante fazer suas jogadas com mais liberdade, porque, se o atacante perde a bola, você está bem postado atrás e consegue recuperar a bola mais rápido. Claro que o lateral tem de chegar no ataque com qualidade, mas eu vejo hoje a importância maior de primeiro defender, ter um posicionamento bem postado”