A notícia de que a Justiça mandou os bancos bloquearem R$ 40 milhões do valor da venda de Bernard ao Shakhtar Donestk, dada com exclusividade na manhã desta quinta-feira pelo Superesportes, causou perplexidade na sede administrativa do Atlético. O clube escalou seu corpo jurídico, sob o comando do tributarista Rodolfo Gropen, para quebrar a cabeça e tentar cancelar a decisão. A determinação foi do juiz federal André Prado de Vasconcelos e pelo juiz substituto assistente Guilherme Bacelar Patrício de Assis, da 25ª Vara de Belo Horizonte. Eles ordenaram que o Sistema de Informação do Banco Central (Sisbacen) retenha o dinheiro para a Fazenda Nacional. O valor se refere a três processos de dívidas fiscais do Galo, de 1997, 1998 e 2001.
Gropen diz que o Atlético já deu imóveis em garantia dessas dívidas e informou que vai tentar anular a decisão. “São três processos antigos e o clube jamais se negou a pagar. Esse é o grande problema dos clubes brasileiros, pois a grande maioria tem dívidas fiscais e, quando um jogador é vendido, esse bloqueio vira prática. Vamos entrar com recursos na Justiça Federal e no Tribunal Regional Federal para cassarmos essa decisão, que não achamos correta. O Atlético tem sido um clube transparente na administração do presidente Alexandre Kalil e procurado honrar seus compromissos.”
Segundo o dirigente, o departamento jurídico vai entrar com seis recursos, dois para cada processo. Ele garantiu também que o Galo não pode receber a quantia no exterior, por não ter conta em outro país. “Temos de trabalhar para anular essa decisão e para que os 75% do dinheiro da venda do Bernard entrem nos cofres do clube pelos bancos brasileiros, como determina o Banco Central. No Atlético, trabalhamos sério, com transparência e dedicação.”
Ele explica que o caso é bem distinto da recente contratação de Dedé pelo Cruzeiro. “Naquele caso, o Dedé não poderia ser impedido de trabalhar e os trâmites se deram na Justiça do Trabalho, que determinou a liberação do dinheiro para o Vasco. Nosso caso é diferente, pois Bernard não está impedido de trabalhar e pode atuar por seu clube assim que assinar o contrato e o registro for mandado à Fifa. Nosso trabalho será para anular a decisão dos juízes, para que o dinheiro entre no país, como determina a lei, e para que os bancos o entreguem ao Atlético, e não ao fisco. Estou estudando o caso e vendo a melhor forma de resolver a questão.”
NOVA VIDA Bernard começa nesta sexta a se adaptar à vida na Ucrânia. Os dirigentes do Shakhtar ofereceram algumas regalias para convencer o atacante de 20 anos a aceitar a proposta para um contrato de cinco anos. Ele terá tradutor, motorista à disposição, viverá em mansão cedida pelo clube e receberá cerca de 380 mil euros por mês – R$ 1,1 milhão. O agora ex-atleticano vestirá a camisa 10 e terá cardápio especial na alimentação, para não ficar sem o tradicional arroz com feijão.
Pelo site oficial do Shakhtar, Bernard se despediu do Galo. Ele não virá mais hoje ao Brasil e na semana que vem viajará à Basileia, onde defenderá a Seleção Brasileira contra a Suíça, quarta-feira. “Uma vez e para sempre, até a morte. Foi essa a minha despedida para os torcedores. Queria poder dizer mais uma vez que amo o Atlético. E que sou grato a cada um dos torcedores que me apoiaram”, disse o atacante, emocionado.
O pai, Délio Duarte, e a mãe, Nélia, embarcarão para o Leste europeu na semana que vem, para passar uns dias com o filho e ajudar na adaptação. No Shakhtar, ele terá a companhia de outros 11 brasileiros: o zagueiro Ismaily; o lateral Ilsinho; os volantes Douglas Costa e Fernando; os armadores Alex Teixeira e Fred; os atacantes Taison, Luiz Adriano, Maicon, Wellington Nem e Eduardo da Silva (naturalizado croata).
Bernard demonstra ansiedade para estrear, mas por enquanto participará da pré-temporada com os novos companheiros: “O Shakhtar é o campeão do seu país e jogou a Liga dos Campeões. Para mim, essa transição seria um passo muito importante. O clube está em constante crescimento e cada vez é mais conhecido em todo o mundo. Agora que estou aqui, vou querer provar o meu valor. Inclusive para continuar a ser convocado para a Seleção Brasileira”.
JUSTIÇA
Trabalho de bastidor
Diretoria atleticana age na tentativa de cancelar o bloqueio, pela Justiça do Brasil, de parte do valor da negociação de Bernard com o ucraniano Shakhtar Donestk
postado em 09/08/2013 08:18 / atualizado em 09/08/2013 10:10
Jaeci Carvalho /Estado de Minas , Roger Dias /Estado de Minas