Atletico-MG

Movidos pela fé

Além da preparação técnica, física e psicológica, jogadores do Galo acreditam na proteção divina para conquistar a inédita taça da competição continental

Roger Dias

A saga de sucesso do Atlético nos últimos jogos da Copa Libertadores, garantindo a inédita vaga à decisão, contra o Olimpia – o primeiro jogo é quarta-feira, no Defensores del Chaco, em Assunção, e o de volta uma semana depois, no Mineirão ou no Independência –, não contou somente com a participação dos jogadores, do técnico Cuca, da comissão técnica e dos dirigentes. Fora de campo, pelo menos oito milhões de alvinegros se debruçaram sobre o manto da equipe, fizeram orações e até promessas para que o Galo obtivesse êxito. A fé e a crença de que o alvinegro poderia vencer seus desafios foram temas recorrentes nas redes sociais, nas conversas nas ruas, nos bares e nas casas dos torcedores atleticanos. O discurso motivador virou lema da preleção de Cuca antes do épico jogo contra o Newell's Old Boys, no qual os mineiros garantiram a classificação à final nas penalidades.


Tudo começou depois que o goleiro Victor defendeu um pênalti já nos acréscimos da partida contra o Tijuana, em 30 de maio, no Independência, evitando a eliminação do Atlético. Se o atacante colombiano Riascos fizesse o gol para os mexicanos, o Galo estaria fora da competição continental. Enquanto voava para o canto direito, Victor esticou o pé esquerdo e conseguiu rebater a bola, para delírio dos jogadores e da torcida que lotava o Independência.

A partir daí, os torcedores passaram a pedir proteção dos céus em torno do objetivo maior: o título. Os atletas embarcaram na ideia. Para chegar à decisão, recorreram aos vídeos motivacionais postados por torcedores na internet. Cuca vestiu a camisa com a inscrição “Yes, we C.A.M.” num adaptação ao tema do então candidato a presidente dos Estados Unidos Barack Obama, nas eleições de 2008, “Yes, we can” (sim, nós podemos), usando as iniciais de Clube Atlético Mineiro. Não foi, no entanto, a primeira manifestação de fé e espiritualidade pelo treinador.

Em seus inúmeros discursos na Cidade do Galo, ele sempre mencionou a ajuda divina. “Se Deus quiser, vamos fazer bom jogo e vamos vencê-los”. Foi o que o técnico disse na última conversa antes de encarar os argentinos do Newell’s, pelas semifinais. A preparação espiritual, contudo, ocorreu bem antes. Na concentração, os jogadores assistiram a um culto ecumênico e ficaram algum tempo em reflexão. Todos participaram, inclusive o astro Ronaldinho Gaúcho. Já nos vestiários, foi possível ouvir a oração proferida de joelhos por jogadores e integrantes da comissão técnica.

SANTUÁRIO Independentemente da religião, todos alimentam a fé. Cuca e o herói Victor são considerados os mais católicos do grupo. O camisa 1, sempre que possível, vai ao Santuário da Mãe Rainha, em Lagoa Santa, para rezar. Uma cena nas cobranças de pênaltis contra o Newell’s ficou marcada. “Eu estava preparado para pegar um pênalti. Debaixo do gol, vi uma coisa brilhando. Quando olhei, era um terço de Nossa Senhora, atirado por um torcedor. Isso, de certa forma, me protegeu. Foi algo incrível”, disse o goleiro, que olhou em direção à torcida e agradeceu emocionado.

Já o treinador vestiu uma camisa com a imagem da Virgem Maria contra os argentinos. “Dei um descanso para ela (a camisa) nos últimos jogos, mas deu certo contra o Newell’s. Ela tinha de vir comigo. Acredito muito em sorte. Quanto mais eu trabalho, mais sorte eu tenho. A gente não torce contra o adversário, a gente torce para o nosso jogador defender e a gente ganhar. Nossa Senhora está sempre comigo. Foi também a fé que nos levou à final.” Em sua carteira, o treinador carrega também um santinho de São Jorge, de quem é devoto.

Ronaldinho Gaúcho também é católico e se contagia com as orações nos vestiários. “Ele é muito concentrado naquilo que faz”, diz o segurança Jorge Fraga.
Já o goleiro Lee, os laterais Júnior César e Richarlyson, os zagueiros Rafael Marques e Leonardo Silva, o volante Pierre e os atacantes Guilherme e Bernard são evangélicos praticantes. São os mais assíduos nos cultos ecumênicos. “A fé é tudo na nossa vida. Se não a tivéssemos, não iríamos a lugar nenhum. Deus é tudo na nossa vida e sem ele não há glórias”, afirma Bernard, que sempre que faz gols olha para o céu agradecendo a proteção.

A fé está redobrada agora, para que todos os santos estejam a postos nos dois jogos contra os paraguaios e o Atlético possa, enfim, comemorar a conquista inédita da América.