
Pego de surpresa no último sábado, quando foi dispensado pelo Atlético - junto com o meia Ricardinho -, a pedido do técnico Dorival Júnior, o volante Zé Luís, que ainda trata de sua rescisão oficial com o clube, falou ao Superesportes sobre a sua saída do Atlético e lamentou que ela tenha acontecido da maneira como foi. Durante a entrevista, o jogador disse que faltou diálogo com Dorival Júnior num momento delicado da equipe e relembrou o dia em que sua história no Galo chegou ao fim.
“Quando foi na sexta-feira nós retornamos (de Presidente Prudente-SP) e no sábado de manhã foi a reapresentação. Mandaram eu ir com a roupa de concentração, pois iríamos concentrar e quando cheguei lá foi tomada a decisão de que eu e o Ricardinho não fazíamos mais parte do grupo. Aí eu chamei o Dorival e perguntei: “O que você quer falar pra mim”. Ele disse: ‘Não tenho nada para falar com você. Eu acho que você e o Ricardinho estavam fazendo ‘ondinha’ no grupo e por isso eu tomei essa decisão”.
Para o volante, ele e Ricardinho deveriam ter tido a oportunidade de se defender, o que não aconteceu. “Eu acho que deveria, o Dorival, juntamente, com o presidente, se ele achava isso, ele deveria se reunir comigo e com o Ricardinho, falar com o presidente sobre o que ele estava pensando a nosso respeito e nós termos nosso direito de resposta. Ele tomou a decisão dele, com o que ele pensava, falou com o presidente e expôs a gente”.
Ouça os trechos da entrevista em que Zé Luís comenta dois episódios que podem ter contribuído para a sua saída do clube:
O atleta afirmou também que já tenta pensar no futuro e citou o Bahia e o São Caetano como possibilidades para a sequência de sua carreira. “Num momento como esse você fica até sem rumo, sem cabeça para conversar qualquer coisa, e pedi um tempo pra todo mundo. Mas acho que logo nós vamos estar trabalhando novamente”.
A seguir, confira os outros trechos da entrevista de Zé Luís ao Superesportes:
Honra atingida
“Eu fiquei muito chateado, decepcionado, mas até então, muito mais chateado pela situação que foi passada pra mim e para o Ricardinho. Você ser demitido de uma empresa é normal. Acho que o treinador pode questionar qualquer qualidade técnica e tática, mas não da maneira que foi. Isso arranha a imagem da gente, mexe com o caráter, mexe com a honra de um homem”
Proposta do futebol chinês
“O Atlético é um time que eu gosto, um time com o qual eu tenho uma identidade bacana, é um lugar que eu escolhi para vir e há menos de 15 dias eu tive uma proposta da China, ela foi passada para o presidente (Alexandre Kalil) e eu falei com o presidente que eu queria continuar no Atlético, meu representante passou isso, o presidente passou para o representante que queria que eu continuasse no Atlético, pois iria renovar meu contrato, que eu era um cara pelo qual ele tinha muita admiração e que ele gostava de mim. Queria muito que eu encerrasse a minha carreira no Atlético”
Discussão com Dorival Júnior
“Aconteceu que a gente vinha no campeonato, o Dorival (Júnior, técnico do Atlético) optou por fazer uma mudança, depois do jogo com o Ipatinga, e nisso eu acabei treinando no time reserva e o time reserva venceu por 4 a 0 ou 3 a 0 o time titular e depois do treino o Dorival reuniu o grupo e deu uma bronca, deu uma dura, e falou que queria o mesmo comportamento de alguns jogadores que estavam no time de baixo (reserva), como se eles estivessem no time de cima (titular). Nisso, eu perguntei para ele: ‘Dorival: você tem que ser direto e falar para quem que você está falando, pois aqui só tem homens e fica ruim você jogar uma situação dessas no ar’. Aí, palavras do Dorival: ‘Zé Luís, você está se passando como vítima’. Eu falei: ‘Eu não estou me passando por vítima, Dorival. Eu quero que você fale quem é, pois isso é ruim. Somos homens e você tem que falar’. Aí ele falou pra mim o seguinte: ‘Baixe o seu tom de voz’. Eu disse: ‘Não estou falando num tom de voz alto. Estou falando com educação com você, pois respeito muito você’. Ele falou: ‘Eu quero que você saiba que eu também te respeito muito’. Então está bom, morreu o assunto’.
Falta de critérios
“Na quarta-feira teve uma reunião no hotel, lá em Prudente (Presidente Prudente, interior de São Paulo), uma reunião com o Ivan (Izzo) e o Dorival não estava presente. O Ivan é o auxiliar do Dorival. E nessa reunião, o motivo dela, era para saber porque o grupo estava tão cabisbaixo, o que estava acontecendo, pra sermos francos, pois ele queria escutar, ele queria saber o que tinha que fazer para melhorar. Dois jogadores se pronunciaram e eu não vou citar nomes, pois não quero expor ninguém. Eu fui o terceiro a falar e falei. O que está acontecendo é o seguinte, não está tendo critério. O discurso de vocês está muito bonito, mas na prática está muito diferente e vocês têm que rever algumas coisas. Vocês foram os caras que chegaram aqui no ano passado, trouxeram alegria, e foi muito importante o que vocês fizeram pelo Atlético. Teria que ter uma estátua aqui para vocês, pois vocês foram peças fundamentais para que o Atlético não caísse para a segunda divisão. Como que pode: tem jogador que treina a semana inteira, tem jogador que chega atrasado, aí o jogador que chega atrasado fica no banco e o jogador que treina a semana inteira é cortado da relação? Isso não pode. A gente ia jogar um jogo decisivo contra o Villa Nova e vamos saber quem vai jogar no vestiário. O cara jogava num dia de titular, no outro dia não ficava nem no banco. Então, que critério é esse? Mas ele falou que isso ia melhorar e acabou a reunião. Todo mundo saiu numa boa”
Mudança de postura de Dorival
“O que me causou estranheza é que até pouco tempo eu era capitão do time, eu era cara importante e (estava) em todas as reuniões que tinha para resolver premiação ou outras situações. O Dorival já chamou eu e Ricardinho para presenciar ele cobrando atitudes de um outro companheiro nosso, pois ele nos via como exemplo. Então isso que me causou estranheza e isso que eu não entendi”
Tensão e desconfiança no elenco
“O que está acontecendo é que de uns dias pra cá estava todo mundo preocupado, como está hoje, todo mundo meio desconfiado, pois você não sabe, nós não temos um time titular, você não sabe quem vai jogar o próximo jogo. Se você joga um jogo mais ou menos, no outro você não fica nem no banco. Então, isso gera desconfiança. O que está acontecendo é desconfiança. Não é nenhuma forma de querer derrubar o Dorival, pois acho ele muito bom treinador e muito boa pessoa. Só acho que ele não agiu corretamente com a gente”
Agradecimento à torcida e Alexandre Kalil
“Quero agradecer o torcedor, que sempre teve respeito comigo. Joguei aqui por dois anos, eles nunca me vaiaram e nunca me criticaram. É lógico que as cobranças são normais e gostaria de dizer que gosto muito do Atlético, vou estar torcendo muito para o Atlético. Queria agradecer à torcida e ao presidente Kalil, que é um cara que quer o melhor para o Atlético. Ele é muito responsável e tem muito boas intenções. Às vezes ele toma algumas decisões no calor das coisas, mas é um cara pelo qual tenho muito respeito e admiração. Falei isso para ele ontem (terça-feira) e espero que o Atlético tome rumo, pois é um time grande, com uma torcida sensacional”