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Alexandre Kalil passa o Galo a limpo: passado, presente e futuro do clube

Em entrevista aos Diários Associados, presidente do Atlético aponta os erros de 2010, analisa o planejamento para a atual temporada e avisa que será candidato à reeleição

27/01/2011 06:00 / atualizado em 27/01/2011 16:07
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foto: Rodrigo Fonseca/ EM/ DA. Press

"Se fizermos 10 anos de boa administração aqui, nós só vamos ter um time na cidade"

Paulo Galvão - Estado de Minas
Péricles de Souza - TV Alterosa
Rodrigo Fonseca - Superesportes
Victor Martins - TV Alterosa


Há dois anos e três meses à frente do Atlético, Alexandre Kalil vai tentar dar sequência à sua gestão no clube. Em entrevista ao Superesportes, ao Jornal Estado de Minas e à TV Alterosa, ele revelou que é candidato à reeleição a presidente do Galo, no final deste ano.

Campeão mineiro em 2010, Kalil tirou lições da decepcionante passagem de Vanderlei Luxembugo pelo time na temporada passada e planejou o Atlético para disputar os títulos das quatro competições que a equipe tem pela frente este ano (Campeonato Mineiro, Copa do Brasil, Sul-Americana e Brasileirão).

Presidente do clube que mais investiu no começo desta temporada, Alexandre Kalil falou sobre as contas do Galo e informou que o Conselho Deliberativo chegou a um acordo para pagar a dívida com o ex-presidente Ricardo Guimarães.

Confira a entrevista:

foto: Rodrigo Fonseca/ EM/ DA. Press

"Terceirizar o futebol é um negócio que não se deve fazer"

Principal erro de 2010

"A terceirização absoluta foi muito ruim. Isso não quer dizer que há um culpado. Já cansei de dar entrevista que somos todos culpados, sendo que o principal culpado é o presidente, que é o responsável por tudo, que manda em tudo. Os detalhes eu não vou dar, porque eu aprendi com a lição e com meu sofrimento e não vou passar para ninguém. É meu, eu ganhei como dirigente, como pessoa. Terceirizar o futebol é um negócio que não se deve fazer. A gente olha tudo, com a pitada de palpite, tomando conta de tudo"

Poder de Luxemburgo no futebol do Atlético

"Eu respeito muito números, sou um respeitador de números. Os números do Vanderlei são impressionantes. Eu só fui atrás do Dorival por números. Isso tem de ser respeitado no futebol"

Critérios de contratação para 2011

"O Dorival teve uma participação fundamental e principal, mas sem o aval da diretoria não haveria contratação"

Reforços 2011

"Foram os nomes principais que ele pediu, mas o Atlético teve dificuldade. Só o caso do Richarlyson demorou dois meses, sem ninguém saber. O caso do Botafogo (Jóbson) foi tão lento que apelidei de ‘operação tartaruga’. As coisas apareceram na imprensa, mas não são feitas assim. O Atlético aprendeu, desde que eu entrei aqui, a guardar segredo, justamente para fazer bons negócios, sem ninguém falar que estão tentando e que é viável. Eu já fiz coisas aqui no Atlético que eu li que era viável, pois se é viável eu vou atrás. Teve o caso do Ricardo Oliveira, que o São Paulo declarou que o vazamento fez com que o Santos atrapalhasse o negócio. Então, está provado que não pode vazar não é por frescura"

Torcida: revolta na gestão anterior, crédito na atual

"Não sei se a Galoucura, ou outra torcida organizada, está do meu lado. Eu sei o que eu recebi na rua. Foi o negócio mais impressionante que escutei. Eu falando, nas coletivas, que eu era o principal responsável, e o torcedor que encontrava comigo na rua falava: ‘não senhor, o presidente fez tudo que queríamos’. E não é verdade, o presidente fez tudo que eu queria, só que eu queria a mesma coisa que a torcida do Atlético. De repente, a torcida, não sei o motivo, resolveu tirar o presidente da barca. Certo? Não, errado. Mas graças a Deus, determinaram isso. A própria imprensa, pois não houve um ataque direto à administração Alexandre Kalil no pior momento do Atlético. No pior momento, eu falei que tínhamos que manter a ordem. Vamos cair com o salário em dia e jogador convocado para Seleção Brasileira. Vai ser inédito. E não caiu"

foto: Rodrigo Fonseca/ EM/ DA. Press

"O presidente que pensa em agradar a torcida, vai se dar mal, porque a bola tem que entrar na casinha"

Relação da torcida/ direção do Atlético

"Se o cara é eleito presidente do Atlético, ele é torcida do Atlético. O cara que senta aqui para fazer média, vai se dar mal. Se você tem uma filha e acha que dar toda liberdade é o certo, não gosta dela. O Atlético é uma filha, tem que ter hora para chegar, hora para sair. Eu tenho que te dar formação, educação. A torcida do Atlético tem que entender que não vai entrar no CT, ali é lugar de trabalho. Ficou bonito porque não tem bagunça de torcida lá dentro. Não tem zona, é lugar de trabalho. Na Alterosa, no Uai e no Estado de Minas, ninguém vai entrando não porque eu já fui lá. Eu não faço nada para a torcida, faço para o Atlético. Não fui eleito para agradar torcida. Não sou candidato a nada, por isso posso trazer 25 mil pessoas aqui e doar 40 toneladas de alimentos. Não preciso de voto de ninguém. Preciso de 450 votos, do Conselho. Se quiser eleger, elege. Se não quiser, não elege. O presidente que pensa em agradar a torcida, vai se dar mal, porque a bola tem que entrar na casinha. Se a torcida do Atlético quer gente para agradá-la, vai cair do cavalo. Aqui só pode sentar quem quer agradar o Atlético"

Ameaça de queda em 2010


"Eu nunca trabalhei com a possibilidade de cair. Eu falo que não vou cair porque não sou presidente de pegar malária, de jogar no Pará, no Amazonas. É muito mais fácil eu ser assaltado no Rio de Janeiro que pegar malária no Amazonas. Aqui só tem Plano A, por seguir um plano foi que saímos da situação que estávamos"

Priorizar competição em 2011

"Na hora que fala que o elenco está inchado, tem uma coisa: tem essa competição, essa e mais essa para disputar. Vamos entrar para ganhar tudo, por isso que o elenco está um pouquinho inchado"

O que mudou para o Atlético voltar a investir alto no futebol?


"Eu só posso falar pela minha gestão. Recebemos a cota do Campeonato Mineiro, que é boa, não adiantamos. Ano que vem, vamos receber de novo, e vamos ser o único clube daqui que vai receber, porque já adiantaram do outro ano também. Quando chegar janeiro do próximo ano, vai acontecer a mesma coisa. Entra dinheiro só para o Atlético. É política de dar lucro no fim de ano. Não tivemos um ano operacional de prejuízo. Só trabalhamos com lucro. É receita e despesa, é caderno de turco. Se tem cinco, pode gastar quatro, no máximo cinco. Não tem muito malabarismo, milagre"

Mineirão e Independência fechado

"Vamos atrás do Governo de Minas e não vamos pagar a conta da Copa do Mundo. Fecharam o Mineirão e o Independência. O Atlético não tem onde jogar. A renda é um fiasco no interior. Quem é o prejudicado?"

Como pagar a conta da Copa do Mundo?


"O governo faz um convênio com os clubes, que é legítimo, que é justo e honesto. Não me perguntaram, nem para Cruzeiro e América, se queríamos Copa do Mundo em Belo Horizonte. O Atlético e o Cruzeiro não têm estádio por causa do governo, que fez o Mineirão. Se não tivesse o Mineirão, seria melhor ou pior? No Sul não fizeram o Mineirão. No Paraná tem quatro estádios, e não tem Mineirão. Em Londres tem três ou quatro. Eu não pedi Copa do Mundo, não pedi Mineirão e nem reforma. Agora, não joguem a conta nas costas do Atlético. Estou tranquilo porque o governador é homem de palavra e já falou que o Atlético não paga essa conta"

foto: Rodrigo Fonseca/ EM/ DA. Press

"Eu não pedi Copa do Mundo, não pedi Mineirão e nem reforma. Agora, não joguem a conta nas costas do Atlético"

Dívida com Ricardo Guimarães

"Foi feita uma auditoria no Conselho Deliberativo, que mandou quanto era devido e sentamos num conselho de ética, porque eu não vou me meter nisso. Sou muito vivo para acertar conta passada. Isso foi feito com o Conselho Fiscal, Conselho Deliberativo. O Conselho trouxe a conta, ele deu dois anos de desconto de juros. Quando vender um jogador paga 15% para ele e mais R$ 200 mil por mês, a partir do ano que vem. Foi feito um acordo, assinado por mais de 20 conselheiros, cardeais do Atlético, porque eu não me meti nisso, definitivamente"

Dívida trabalhista

"Graças a Deus, este ano deve acabar"

Lateral Eron na Justiça

"Está na Justiça. Tem um italiano, um gângster que vive de aliciar jogador. O Atlético vai ficar com o jogador. Não podemos criar um menino desde 13, 14 anos e vir um estrangeiro, mafioso, e dar um carro para o pai do menino e levá-lo para a Itália"

Propostas

"Teve uma proposta de empréstimo de quatro meses pelo Diego Souza por 500 mil euros. Eu falei que queria 1 milhão de euros pelos quatro meses. Era para o Oriente Médio, mas não sei o nome do clube. E a proposta de 6,5 milhões de euros (por Diego Tardelli) não me interessou. Nem tomei conhecimento para não gastar passagem"

Grupos de investidores

"Eu tinha um asco absoluto por empresário. Melhorou, porque pelo menos os vagabundos sumiram aqui da sede. Mas não tem futebol mais sem empresário. Tem de mudar a lei. Quem tem jogador, manda no jogador. Exemplo: eu comprei o Diego Souza. De São Paulo, eu tive que viajar para o Rio para fechar com os empresário do jogador. Pagar o Diego Souza não resolveria o problema. Era um investidor que ia receber e outro investidor em outra ponta"

Dinheiro em caixa

"Um empresário falou ontem comigo: você não empresta por 500 mil euros. Se eu falar em 500 mil euros no Rio de Janeiro, eles me laçam pelo pescoço e levo quem eu quiser. Eu disse a ele que o Atlético tinha isso aqui em caixa. O Atlético se valorizou, gasta pouco, tem uma sede modesta, poucos funcionários, bem remunerados, mas poucos"

Saída de Obina


"Quando eu fiz a exigência do Obina, eu falei que na primeira janela não poderia vender. Eu pedi: me ajuda e paga o Obina, mas não é para vender na primeira janela. Aí, na hora que o investidor tem a proposta eu vou avacalhar o negócio? Esse investidor vai fazer o que no próximo jogador que pedir? O Atlético tem de ser um atrativo"

Torcida na expectativa de substituto para Obina

"A torcida é ambiciosa. Só estava adormecida, porque vinha Mexerica, Sergipano. Agora, o Ricardo Bueno não serve, o Jóbson não serve. Não tem lógica. Se vier um goleiro bom, um centroavante bom, pegamos. Mas expectativa da torcida eu não ligo a mínima. Não é assim. Já pensou se eu sair caçando um centroavante porque a torcida está na expectativa? Não estou ligando. Se tiver negócio bom, o Atlético faz, para vender faz também"

Janela de transferência


"A janela está fechada para a Europa. Aqueles clubes não estão com dinheiro também não. Estão quebrados. Antigamente, quando chegava nessa época, só de especulação a gente recebia 15 por dia, recebia dez telefonemas, seis de picaretas, três especuladores e dois sérios. Este ano, nem isso. Conseguiram aposentar até os picaretas, de tão pobres que estão"

Candidato à reeleição

"Até segunda ordem, eu sou candidato à reeleição no Atlético. É muito mais fácil falar que não sou para depois falar que é. O Atlético precisa de 10 anos de boa direção. Não é o Alexandre Kalil. Tem muita gente aqui dentro capaz de tocar o Atlético. O Atlético precisa de dez anos de boa direção. Só não sei se o outro lado aguenta. O Atlético aguentou 10 anos. Se fizermos 10 de boa administração aqui, nós só vamos ter um time na cidade"

Categorias de base

"O Micale (Rogério, técnico que trocou os juniores do Galo pelo profissional do Grêmio Prudente) está voltando para reassumir o júnior, porque houve aquela trapalhada lá. Sobre base, eu aprendi o seguinte: são dois mil testes por ano. Só ficam 40. Saem 1.960 falando mal. Eu já mandei 30 meninos fazer teste lá. Não ficou nenhum. Todo mundo tem um filho Pelé. Poucos clubes no Brasil investem como o Atlético na base. O Atlético gasta seis a sete milhões por ano, com recursos próprios"

Ampliação do CT

"O Atlético precisa de um campo sintético para peneirar 24 horas por dia, e uma equipe de quatro pessoas. Eu vou fazer isso. Aquela Cidade do Galo é um consumo de dinheiro. E olha que botamos lá gerador, poço artesiano, fizemos de tudo, e ainda há uma despesa do cão"

Valor dos ingressos em 2011

"Ainda não sei. Nós não temos estádio. É muito caro. Vocês da imprensa vão no carro da empresa, entram na tribuna. Tira ‘trinta prata’ para você, mais trinta para seu filho, chega lá paga mais quarenta e toma uma cerveja lá fora mais um sanduíche, no final é preço de futebol europeu. A gente fica meio fora da realidade do que o povo lá fora passa para assistir a um jogo. Sete Lagoas não é uma cidade rica, nem tem população para suportar quarta e domingo com o cara pagando quarenta, cinquenta. Quando você pensa em 20 mil pessoas pagando R$ 50, você está falando de uma cidade de quatro milhões de habitantes, porque Belo Horizonte são dois milhões e meio, mas tem Nova Lima, Contagem. Se meio por cento for ao estádio, você põe 25 mil pessoas no estádio em Belo Horizonte"

Futebol elitizado no futuro


"É o caminho. Como dizia Hitler, na história tudo se copia. Se você olhar tudo que acontece no mundo, são raras as invenções. As coisas que deram certas foram copiadas de alguém, os pontos corridos, a copa em mata-mata, a televisão valorizada"

Veja trecho da entrevista



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