Nos últimos anos, o América tem atingido feitos históricos mesmo tendo uma receita até 10 vezes menor do que os adversários no futebol brasileiro. A seguir, o Superesportes mostra números, comparações financeiras com outros clubes do Brasil e relembra campanhas importantes do Coelho.
Uma tabela com os ganhos dos times da Série A do Campeonato Brasileiro com o pay per view (canal pago da TV Globo) viralizou nas redes sociais recentemente devido à disparidade de valores. Se por um lado o América arrecadou R$ 660 mil em 2021, o Flamengo teve um ganho de R$ 144 milhões na modalidade.
Isso ocorre pelo atual modelo de negócios, definido pela emissora em 2016. As cotas de televisão são divididas da seguinte forma: 40% igualitária, 30% de exposição (número de jogos transmitidos - incluindo nos canais pagos) e 30% por colocação.
No entanto, alguns clubes assinaram contrato com um mínimo garantido, casos de Flamengo e Corinthians, o que gera uma quantia maior para estes clubes. Enquanto 70% do valor total arrecadado pelos clubes é similar, a cota de exposição demonstra uma grande diferença.
No entanto, alguns clubes assinaram contrato com um mínimo garantido, casos de Flamengo e Corinthians, o que gera uma quantia maior para estes clubes. Enquanto 70% do valor total arrecadado pelos clubes é similar, a cota de exposição demonstra uma grande diferença.
Ganhos totais com direitos de transmissão da Série A em 2021
América:
América:
- 40% da parcela igualitária = R$ 26,5 milhões
- 30% exposição = R$ 13,3 milhões (sendo R$ 660 mil do PPV)
- 30% pela oitava colocação = R$ 25,8 milhões
- Total = R$ 65,7 milhões
Flamengo:
- 40% da parcela igualitária = R$ 26,5 milhões
- 30% exposição = R$ 166,8 milhões (sendo R$ 144 milhões do PPV)
- 30% pela segunda colocação = R$ 31,3 milhões
- Total = R$ 224,6 milhões
Disparidade nas receitas
Para Marcus Salum, presidente SAF do América, essa divisão gera uma disparidade muito grande entre os clubes. Ele também diz qual seria o modelo de divisão ideal em sua opinião. "Isso gera um desequilíbrio. Eu acho que se dividisse 70% por igual e 30% por colocação seria melhor", disse, ao Superesportes.
Em 2022, esse modelo demonstra ainda mais essa diferença. Enquanto Flamengo, Corinthians, São Paulo e Palmeiras devem receber, juntos, aproximadamente 48% dos valores do pay per view, América, Atlético-GO, Avaí, Juventude, Red Bull Bragantino e Cuiabá somam 0,7% do total: aproximadamente R$ 2,8 milhões ao todo.
Isso ajuda a explicar o por quê o América tem uma receita 10 vezes menor que o Flamengo: R$ 102 milhões contra R$ 1,054 bilhão (valores sem desconto de impostos). Veja, na galeria abaixo, as 20 maiores receitas do futebol brasileiro em 2021.
No ano passado, o América terminou em oitavo lugar no Brasileiro, garantindo sua melhor colocação na era dos pontos corridos e a classificação inédita para a Copa Libertadores. Para isso, superou times com receitas maiores, como São Paulo, Grêmio, Internacional, Santos, RB Bragantino, Bahia, Ceará, entre outros.
A grande diferença entre os faturamentos também se explica por outros motivos, como ganhos com bilheteria e sócios. O América recebeu cerca de R$ 12,7 milhões somando estes dois aspectos, enquanto o São Paulo arrecadou aproximadamente R$ 48 milhões.
Importância das premiações para o América
Algo que permite o América ter o mínimo de competitividade são as premiações recebidas por desempenho. Se por um lado o Coelho caiu na terceira fase da Copa do Brasil em 2021, a oitava colocação na Série A foi um contrapeso nesta 'balança'.
Além disso, o time mineiro chegou à semifinal do torneio nacional em 2020 - melhor campanha da história do clube - sendo eliminado pelo Palmeiras, e nas quartas de final neste ano, ficando a um gol de levar a disputa para os pênaltis com o São Paulo. "Se eu contasse com as receitas fixas, o América já teria acabado há muito tempo. O variável é que faz a diferença", revela Marcus Salum.
Em 2022, o clube arrecadou R$ 8,8 milhões pela campanha na Copa do Brasil e outros R$ 21 milhões pela ida à fase de grupos da Copa Libertadores. Estes ganhos, somado à venda de atletas (Kawê), mecanismos de solidariedade (Richarlison) e direitos econômicos de ex-jogadores (Vitor Roque) possibilitaram que o América aumentasse um pouco os investimentos em 2022.
Nesta janela de transferência, o clube realizou a maior compra de sua história ao contratar o meia argentino Emmanuel Martinez, além do atacante uruguaio Gonzalo Mastriani, ambos ex-Barcelona de Guayaquil. Segundo o presidente do time equatoriano, o primeiro foi vendido por R$ 6,2 milhões (50% dos direitos econômicos), enquanto o segundo rendeu R$ 3,1 milhões (60%).
No ano passado, o Coelho formou seu elenco com jogadores emprestados e sem vínculo com algum clube. As únicas compras (ao fim da temporada) foram o lateral-esquerdo Marlon, por R$ 1,5 milhão, e o volante Lucas Kal, em valores mantidos em sigilo.
Mesmo assim, o investimento ainda fica muito atrás dos principais clubes do país. A título de exemplo, o Flamengo gastou quase R$ 160 milhões em contratações em 2022, algo que torna a disputa 'inviável' na visão de Marcus Salum.
"É muito desigual. Pega as contratações do Flamengo na janela e vê se é viável. Eu tenho que jogar de igual para igual. 'Disputei' a Libertadores com o Atlético, que ganha muito mais do que eu", apontou o dirigente.
Outro ponto é a folha salarial. Enquanto o América gasta cerca de R$ 4 milhões mensais, o Flamengo tem um gasto de aproximadamente R$ 30 milhões. Atlético, Corinthians e Palmeiras, todos com R$ 20 milhões mensais, são outras folhas bem maiores do que a do Coelho.
Nas quartas de final da Copa do Brasil deste ano, apenas o Atlético-GO tinha gasto salarial menor do que o América. Os números são de Jorge Nicola, colunista do Superesportes.
Nas quartas de final da Copa do Brasil deste ano, apenas o Atlético-GO tinha gasto salarial menor do que o América. Os números são de Jorge Nicola, colunista do Superesportes.
O futuro do América
Para Marcus Salum, os feitos recentes do América se devem aos poucos erros cometidos pelo clube. O dirigente ressalta que se acostumou a 'fazer mais com menos', algo que outros times também precisam realizar devido à disparidade financeira no futebol brasileiro.
"Toda vez que você administra um clube com escassez de recursos e você busca incessantemente os resultados, se você não otimizar os processos e fizer as coisas com menos erros, não tem a mínima chance. Vamos aprendendo, diminuindo os números de erros", disse.
"Se errar, vai pagar caro. Todo mundo erra, mas temos que minimizar. Nos acostumamos a fazer mais com menos e aprendemos muitas coisas. Essa é uma expertise que alguns clubes criaram no Brasil devido à disparidade de receita no país, que é um absurdo", complementou.
Salum acredita que poucas equipes vão conquistar títulos nos próximos anos. Para ele, isso já ocorre nas principais competições do país. "É só olhar os resultados de Copa do Brasil, Brasileiro, são os mesmos, porque a distância financeira está ficando insuportável. Mesmo que você seja bom, classifique, 'morre' com uma derrota no final", lamentou.
Em entrevista recente, também concedida ao Superesportes, Salum revelou que o grande objetivo do América é se firmar entre os 12 melhores da Série A. Euler Araújo, membro do conselho administrativo do clube, endossou a intenção e falou sobre a possível disputa por títulos.
"Depois que (nos) consolidarmos, com certeza vamos buscar conquistas de títulos, porque é disso que se vive. Não só de campeonato regional, mas também chegar às finais de campeonatos sul-americanos. Copa do Brasil já tivemos oportunidade de chegar na semifinal. Esse é o objetivo para os próximos cinco anos de América", afirmou o dirigente, durante a apresentação de Martinez.
Dentro de campo, o pensamento é o mesmo. O técnico Vagner Mancini sonha em terminar o Brasileiro no G6 e garantir, mais uma vez, a classificação à Libertadores. No momento, o Coelho é o nono colocado, com 32 pontos - sete a menos que o sexto.
Além do desempenho esportivo, o clube trabalha para aumentar os valores arrecadados com transferências de jogadores e negocia, semanalmente, a venda de parte das ações da SAF para um possível parceiro. Com isso, a perspectiva é que a receita tenha um aumento nos próximos anos.
Além do desempenho esportivo, o clube trabalha para aumentar os valores arrecadados com transferências de jogadores e negocia, semanalmente, a venda de parte das ações da SAF para um possível parceiro. Com isso, a perspectiva é que a receita tenha um aumento nos próximos anos.