Assista à íntegra da entrevista de Marcus Salum ao Superesportes
“Houve uma grande identidade da minha forma de trabalhar com a forma de trabalhar do Lisca. Houve um 'casamento de energias' diferente nisso. Por quê? Ele é 'workaholic', eu também sou. Eu vejo cinco jogos, seis jogos, ele me pergunta do jogador, eu chego antes da preleção e falo: 'esse jogador não vai jogar, aquele vai jogar, aconteceu isso, aquilo'. Às vezes, eu tenho informação que eles não têm, porque eu leio tudo, leio sites, etc. Essa é uma coisa que combinou”.
Em diversas oportunidades durante a temporada 2020/21, Lisca mencionou sua gratidão ao América e a Salum pela oportunidade de trabalho. O mandatário revelou à reportagem uma das conversas francas que teve com o treinador, quando teve a oportunidade de aconselhá-lo sobre a carreira.
“Por que eu acho que ele tem essa gratidão grande? Além dessa afinidade, a forma de trabalhar que nós tivemos. Eu falei com ele: 'Lisca, vou te dar minha opinião sobre a sua carreira. Se você não fizer um trabalho inteiro, do início, e parar de apagar incêndio, a sua carreira vai ficar toda focada nisso, e você não vai se formar como um grande profissional - que eu sei que você é. No América, você não vai ser o 'Lisca Doido'. Para mim, você não é esse. Você é o Lisca profissional, correto, que trabalha bem'. Isso foi o grande diferencial da nossa relação. Ele percebeu a mudança de estágio que ele teve fazendo os bons trabalhos que ele fazia, de uma forma como 'bombeiro'. Ele percebeu que isso precisava acontecer”.
Propostas e mudança de patamar
Na reta final da temporada, diante do excelente desempenho do América na Série B e também na Copa do Brasil, o nome de Lisca foi vinculado a clubes da Série A e do exterior. Apesar disso, o treinador optou por permanecer no clube mineiro e renovou seu contrato até o fim de 2021. Salum revelou não ter se surpreendido com a decisão e explicou os motivos.
“Ele quer fazer um trabalho do jeito dele. Por quê? O Lisca é um perfeccionista. Eu vi poucos treinadores na minha carreira de dirigente com a qualidade técnica dentro e fora de campo do Lisca. Vi poucos. Eles falam que a inteligência e a loucura andam perto (risos). É meio por aí. Ele é muito inteligente, muito preparado. É um treinador de estratégia, que valoriza quem está em torno dele. A nossa equipe gosta de trabalhar com ele porque ele sabe valorizar a equipe”.
Dificuldades e ponto fraco
Sob outra perspectiva, Salum também abordou as dificuldades do treinador no dia a dia. Ele acredita que o intenso perfeccionismo de Lisca o leva a cometer excessos, especialmente com o elenco.
“Como ele é um perfeccionista, o Lisca tem uma dificuldade em aceitar os próprios erros e os erros dos dirigentes e jogadores. Então, às vezes, ele se excede nesses momentos. E é ali que eu entro com meu equilíbrio e minha experiência, para não deixar isso acontecer”.
“Eu me lembro que em um dos primeiros jogos, o América tomou um gol aos 90 minutos. Ele entrou xingando todo mundo no vestiário. Eu deixei. No outro dia, eu cheguei perto dele, e ele falou: 'Já sei, né, Salum? Não vai ter a segunda vez'. E eu falei: 'Não vai ter a segunda vez'. Ele sabia disso, porque eu já tinha falado isso para ele. Eu não contratei o Lisca no escuro. Eu conversei com todos que trabalharam com ele. Eu sabia das fragilidades dele”.
As conversas entre presidente e treinador parecem ter surtido efeito na conduta de Lisca no dia a dia. Na reta final da última temporada, foi possível observar o gaúcho mais contido até mesmo no banco de reservas, durante as partidas. As reclamações pela arbitragem, apesar de frequentes, tiveram intensidade diminuída - exceto na rodada final da Série B, quando o América perdeu o título para a Chapecoense.
“O Lisca, hoje, é muito mais equilibrado, e ele fala: 'Salum, errei mais uma vez. Quando nós tomamos aquele gol do Palmeiras, eu arrasei o time no vestiário, no intervalo, porque eu fiquei nervoso demais por conta daquele gol de lateral que o Marcos Rocha bateu'. Então, ele também, com a inteligência que ele tem, está tentando 'se melhorar'. Porque esse é o ponto fraco dele. Esse ponto fraco, num clube com muita pressão e com muita 'trairagem', ele sabe que ele pode não ter o equilíbrio necessário”.
Importância da continuidade do trabalho
Marcus Salum também disse enxergar a permanência de Lisca ao longo da temporada 2021 como um dos principais trunfos para a consolidação do América na Série A. O dirigente revelou torcer para que o Coelho não perca o treinador - nem por propostas, nem por problemas internos.
“Eu acho que o América errou pouco em 2018, mas o grande problema da Série A é você vir com um trabalho organizado, de um ano anterior, com um treinador, e no meio do caminho você ter que mudar de treinador. Eu espero que o mercado ou o próprio América tenha a tranquilidade de achar o caminho com o Lisca. Quando eu falo mercado, é dele não receber nenhuma proposta no meio do caminho, que aconteceu em 2018. Nós tivemos que bater cabeça”.
“Precisa, se Deus quiser, não perder o Lisca - nem por proposta e nem por problemas internos. Porque o trabalho em continuidade te leva a ter um resultado melhor”, completou.