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Reforços, saídas, Lisca: Salum detalha planos para o América na Série A

'Mostramos que é possível fazer mais com menos', comemorou o presidente do clube, em entrevista exclusiva ao Estado de Minas e ao Superesportes

Paulo Galvão
Marcus Salum projetou a próxima temporada do América - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
O América ainda luta pelo título da Série B do Campeonato Brasileiro de 2020, mas já pensa na temporada 2021, quando voltará à Série A. O principal objetivo é permanecer na elite do futebol nacional, mas sem fazer loucuras que impeçam o clube de continuar organizado e crescendo. "Mostramos que é possível fazer mais com menos”, diz Marcus Salum, presidente do Conselho de Administração do Coelho, em entrevista exclusiva ao Estado de Minas e ao Superesportes.


O clube trabalhou com orçamento de cerca de R$ 30 milhões desde janeiro de 2020. Para este ano, a expectativa é ter entre R$ 60 milhões e R$ 70 milhões, o que abre boa perspectiva quando se olha de fora. Para quem está lá dentro, porém, o cenário é bem diferente. “A maioria trabalha com orçamentos de R$ 300 milhões, R$ 350 milhões".

Assim, será preciso, mais uma vez, ter olho clínico ao contratar, mirando principalmente quem se destacou na Segunda Divisão ainda em curso. A intenção é manter a base do time que deu tão certo na atual temporada, apostar em jovens promissores e buscar “um ou dois mais conhecidos”, segundo o dirigente, verdadeiro apaixonado pelo clube.

Além dos principais jogadores, uma das preocupações é com a manutenção da comissão técnica. As conversas com o técnico Lisca para renovação já começaram e Salum espera acertar a permanência “o mais rápido possível''.



Qual foi a diferença entre o América que “bateu na trave” em 2019, não subindo por um ponto, e o que conseguiu o acesso com certa tranquilidade agora?

Nem sempre não atingir o objetivo significa que o trabalho foi ruim. Quando você cai, tem muita despesa e pouca receita. Tem de administrar um passivo grande, pois são jogadores caros. Caímos em 2018 e em 2019 demoramos a achar o caminho certo. Primeiro contratamos o (técnico) Maurício Barbieri, depois o Givanildo, até chegar no Felipe Conceição. Quando conseguimos colocar o carro nos eixos, conseguimos avançar. Mas no futebol acontecem coisas que seriam anormais em outras áreas. Perdemos aquele jogo para o São Bento (que já estava rebaixado, na última rodada da Série B) porque entramos achando que já havíamos subido e porque tivemos muitos desfalques. Então, acho que o segredo foi manter o planejamento, apesar de não termos conseguido o acesso. Já em 2020 tivemos a perda do Felipe e, por experiência, fizemos a opção pelo Lisca, o qual já vinha acompanhando. Falei para ele que não queria um técnico doido, mas competente. Foi o que ele nos ofereceu. Além disso, estamos acostumados a administrar déficits, não fazemos loucuras.

Em um ano de pandemia, como o América conseguiu manter as contas em dia?

A gente (da diretoria) procura acudir nas horas de dificuldade. Mas tivemos um trabalho muito bem feito no auge da crise (provocada pela COVID-19), que foi a negociação com os jogadores para reduzir valores de direitos de imagens, fomos atrás de CBF e da emissora de TV que detém direitos de transmissão pedindo para manter os pagamentos em dia. E fomos atrás de tudo que foi possível. Estou esgotado, nunca trabalhei tanto como em 2020. Mas felizmente deu certo e o grupo confiou na gente, eles sabiam que quando tivéssemos condições, cumpriríamos os compromissos. E o sucesso na Copa do Brasil nos ajudou muito, reforçou o caixa do clube,  nos permitiu quitar os compromissos mais rápido do que planejado. Hoje, não tem nada em aberto no América.

Por falar em Copa do Brasil, chegar às semifinais pela primeira vez foi surpresa?

O trabalho encaixou. Foi tudo como gosto, sem ninguém dando palpites no futebol, pouca gente tomando as decisões. Acreditava que chegaríamos entre os oito pelo futebol que o time vinha jogando. Mas entre os quatro foi surpresa, sim. Agora que passou, acho que deveríamos ter ido à final, pelo que jogamos até tomar o gol no jogo de volta contra o Palmeiras. O time fez uma excelente partida, teve chance de abrir o placar.



Até que ponto uma campanha influenciou a outra? No mata-mata o time eliminou gigantes da Série A como Corinthians e Internacional…

Nosso time estava muito seguro, muito bem treinado. Mas o excesso de jogos na Série B atrapalhou um pouco o desempenho na Copa do Brasil. Havia o trauma de não ter subido em 2019 por um ponto e paramos de poupar atletas (no Brasileiro). Com isso, perdemos jogadores importantes em hora decisiva, como João Paulo, Zé Ricardo, Alê. Se todos estivessem em boas condições, poderíamos ter chegado à final e até ser campeões.
Marcus Salum durante partida do América na Série B - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
Quais os desafios para 2021, quando o objetivo principal é não voltar para Série B? O clube manterá os pés no chão?

Nosso orçamento para a Série A é bem abaixo da necessidade da própria Série A. Enquanto teremos de trabalhar com R$ 60 milhões, R$ 70 milhões, contra R$ 300 milhões, R$ 350 milhões de outros. Então, não é fácil. Mas como estamos crescendo, mostramos que é possível fazer mais com menos. Além disso, a dificuldade dos chamados grandes mostra que estamos no caminho certo e vamos tentar fazer um bom papel, permanecer na elite.

O América não conta tanto com bilheteria como outros clubes. Nesse ponto a ausência de público pode contribuir para a permanência?

Nossa média em 2018 foi de 5,4 mil torcedores graças a muitas iniciativas da diretoria, promoções, ações para os sócios-torcedores. É, sim, menor que a de outros clubes e isso acaba nos dando alguma vantagem. Mas todos estão se adaptando.



O técnico Lisca parece ter se encaixado bem no perfil do América. Ele vai permanecer?

Estamos conversando, fizemos a primeira proposta, mas ele mudou de empresário. E perdi meu diretor de futebol também (Paulo Bracks foi para o Internacional na virada do ano). Assim, assumi pessoalmente a negociação e espero fechar o mais rápido possível, pois boa parte do sucesso deste ano é do trabalho feito por ele. Claro que há outros diretores, outras pessoas que contribuíram, mas o Lisca foi fundamental para nosso bom desempenho em campo.
Técnico Lisca é um dos protagonistas da temporada do América - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

Qual o perfil dos reforços que o América vai buscar? De onde virá o dinheiro para bancar essas contratações?

Temos de manter a base deste ano e investir em jogadores jovens, que ainda não estouraram, além de fazer algumas contratações pontuais. Não quero ir ao mercado buscar jogadores que cada ano está em um clube disputando a Série A, que joga por um time que cai e no ano seguinte está em outro da Primeira Divisão. O que me interessa é o que tem de melhor na Série B e jovens promissores. E um ou dois mais conhecidos. Tudo dentro das nossas possibilidades.

A diretoria tem cuidado também de melhorar a infra-estrutura. Qual o próximo passo para que o Planeta América saia do papel?

O projeto sofreu um baque em 2020 devido a problema com vizinhos (do CT Lanna Drumond), que entraram na Justiça para impedir uma permuta de terreno, alegando problemas de divisa (de lotes). Isso nos prejudicou muito. Mas tomamos medidas por nossa conta e risco, já fizemos uma terraplanagem grande, em fevereiro teremos um novo campo nas condições dos outros que já existem, fizemos drenagem no CT todo. Devemos melhorar mais algumas coisas em 2021.



Pratas da casa como Messias e Zé Ricardo se destacaram e geraram cobiça. Eles serão negociados?

Ainda não sei se serei candidato (nas eleições do fim de janeiro), estou cansado. Mas, se não for, a minha recomendação é que, caso haja qualquer venda, se retire parte do recurso para melhorar a infra-estrutura do clube. É com ela que vamos conseguir revelar jogadores, manter um time competitivo, aprimorar nossos atletas.

PERFIL

MARCUS SALUM

Nascimento: 28/1/1956, em Belo Horizonte
Profissão: Engenheiro

Cargos no América: Vice-presidente de Expansão e Obras (1986); diretor de futebol (1989 a 1993); presidente (1996 a 1999); vice-presidente de futebol (1991 a 1993); presidente do Conselho Deliberativo (2000 a 2002); integrante do Conselho de Administração (2009 a 2014); membro do departamento de futebol (2017); presidente do Conselho de Administração (2018 a 2020)

Títulos: Série B do Campeonato Brasileiro’1997 e 2017; Série C do Brasileiro’2009; Copa Sul-Minas’2000; Mineiro’1993 e 2001