O acesso à Série A com boas chances de título e a histórica presença na semifinal da Copa do Brasil foram provas de que América e Lisca fizeram muito bem um ao outro nesta temporada. A parceria começou de maneira inesperada, em janeiro de 2020, quando o técnico Felipe Conceição aceitou proposta para trabalhar no Bragantino e deixou o Lanna Drumond na segunda rodada do Campeonato Mineiro.
Até então, Lisca era rotulado pelo perfil “bombeiro” - técnico requisitado para salvar times de situações embaraçosas, como a não classificação em uma competição ou o risco de rebaixamento. Além disso, a fama de “doido” por supostas brigas com jogadores e funcionários dos clubes e pelo jeitão enérgico de comemorar as vitórias ficava mais em destaque que o profissional estudioso e viciado em futebol.
Quem não se importou muito com o “Lisca personagem” foi o presidente Marcus Salum, que até manteve uma “conversa franca” com o treinador para que ele evitasse excessos, porém focou nas qualidades de gestão e montagem de grupo. O voto de confiança dado pelo dirigente é até hoje motivo de gratidão por parte do comandante.
“Sou muito grato ao Salum (presidente), que foi quem bateu na mesa e disse: ‘eu quero trabalhar com esse cara’. Ele não ouviu muita fofoca, muito mimimi, olhou mais pelo lado profissional e do trabalho, e eu estou muito feliz, assim como o Salum e o América”.
A lealdade de Lisca ao América foi reforçada com as inúmeras recusas de convites de outros clubes. Botafogo, Coritiba e até mesmo o Cruzeiro tentaram levar o treinador, que preferiu seguir no lugar onde voltou a ter oportunidade de iniciar um projeto em longo prazo.
Com Lisca, o Coelho ficou em evidência no futebol brasileiro ao desbancar Corinthians e Internacional na Copa do Brasil e jogar de maneira equilibrada na semifinal contra o Palmeiras - o mesmo que avançou à decisão da Copa Libertadores após deixar pelo caminho o River Plate, da Argentina. A participação histórica no torneio rendeu aos cofres alviverdes a gorda premiação de R$17,59 milhões.
A obediência tática do time que varia entre o 4-3-3, quando ataca, e o 4-1-4-1, na defensiva, foi tema de programas esportivos em rede nacional na TV aberta e em canais fechados. Entusiastas do futebol passaram a compreender que não se tratava de sorte, e sim da competência de um clube criativo para trabalhar com orçamento de dez a 20 vezes inferior aos de gigantes da Série A.
Lisca afirmou que está com a renovação encaminhada com o clube - Foto: Juarez Rodrigues/EM D.A Press
TÉCNICO LAPIDOU TALENTOS
Lisca potencializou o talento do veloz Ademir, que em 2018 chegou a atuar com o sub-23, e proporcionou a Rodolfo o ano mais artilheiro da carreira, até aqui com 16 gols. Também deu liberdade de criação a Alê, de movimentação a Juninho e soube aproveitar a experiência de Marcelo Toscano e Felipe Azevedo. Na defesa, identificou a queda de produtividade do goleiro Airton e indicou à diretoria a contratação de Matheus Cavichioli, que era reserva do Guarani.
Com relação às categorias de base, o técnico não titubeou ao observar garotos como o lateral-esquerdo Lucas Luan, os volantes Flávio e Sabino, o meia Gustavinho e os atacantes Vitão, Kawê e Carlos Alberto. Vale lembrar que o DNA formador revelou dois titulares absolutos: Messias e Zé Ricardo. Enquanto o zagueiro de 26 anos soma 149 jogos e seis gols pelo clube, o volante de 24 disputou 146 partidas e anotou um gol.
Claro que Lisca não fez tudo isso sozinho. Ele mesmo costuma ressaltar os nomes de profissionais que o acompanham, como os auxiliares Márcio Hahn e Cauan de Almeida e o analista de desempenho Maickel Padilha. Houve também participação do ex-diretor de futebol Paulo Bracks, que, graças à visibilidade no Coelho, foi contratado pelo Internacional.
Em meio à briga do América para ser campeão da Série B pela terceira vez, Lisca já começou a planejar 2021 com jovens jogadores no Campeonato Mineiro. Isso transmite duas boas notícias aos torcedores: a de valorizar os ativos em torneios profissionais e a da clara intenção do treinador de aceitar a proposta de renovação e encarar o desafio de manter o clube na primeira divisão nacional.
Números do América desde a contratação de Lisca*
57 jogos
30 vitórias
18 empates
9 derrotas
70 gols marcados
40 gols sofridos
30 vitórias
18 empates
9 derrotas
70 gols marcados
40 gols sofridos
Série B: 19 vitórias, 10 empates e 5 derrotas
Copa do Brasil: 5 vitórias, 5 empates e 2 derrotas
Mineiro: 6 vitórias, 3 empates e 2 derrotas
* O time também foi dirigido pelos auxiliares Cauan de Almeida e Márcio Hahn