Rodrigo Scapolatempore*
rodrigoscapola@gmail.com
30 de abril de 2020
Ser torcedor do América me fez alguém diferente. A começar desta escolha, tomada por um incompreendido grau de paixão, que me obrigou a confrontar minha autoestima desde cedo. No colégio, éramos no máximo dois em sala de 30 alunos, relutando contra a corrente. A resistência.
Com o América aprendi que o mundo não vai passar a mão na sua cabeça e que o poder de reação deve vir de dentro. Que a multidão vai ser cruel e tentar te calar e, nem por isso, será preciso mudar de opinião. Que é melhor ser raro, escasso, com defeitos e limites, mas autêntico.
Aprendi que a exclusividade tem um preço que poucos podem suportar. E o principal: que a real beleza do esporte está em te fazer superar medos e que os resultados são, em última análise, meros pretextos para histórias inesquecíveis que te moldam como gente.
E foi em alguns clássicos da década de 90 contra Galo e Raposa que tive os primeiros gostinhos de como é bom não ser igual a todo mundo. Vitórias épicas que me mostraram que nem sempre vence o maior, o mais caro ou o mais seguido.
Fazer parte daqueles seis mil calando 60 mil, na contramão do esperado, me pareceu saboroso demais. Era tarde. Eu já era parte daquilo. Me fiz Coelho, na íntegra.
Sim, somos poucos, mas cá entre nós, alguém já nos perguntou se gostaríamos de sermos muitos? Obrigado pai, por ter me levado um dia pela primeira vez ao nosso Independência e me ensinado a maior lição: deixe que falem e seja você, sempre.
Parabéns, América!
*Torcedor e jornalista