Quando Felipe Conceição assumiu o América, em julho deste ano, o clube ocupava a lanterna da Série B do Campeonato Brasileiro. Deste então, o Coelho reagiu na competição, chegou ao G4 e está a uma vitória da elite do futebol nacional. Neste sábado, às 16h30, no Independência, a equipe buscará o acesso diante do já rebaixado São Bento. A arrancada americana foi uma verdadeira “façanha” comandada pelo treinador de 40 anos, até então pouco conhecido no cenário nacional.
O América começou a Série B tendo Givanildo Oliveira como técnico. O mau desempenho do time nas duas primeiras rodadas - derrota por 1 a 0 para o Operário-PR, em Ponta Grossa, e revés pelo mesmo placar para o Botafogo-SP, no Independência - colocou a equipe na vice-lanterna da competição e resultou na queda do treinador.
Na sequência, a diretoria acertou com Maurício Barbieri para assumir o cargo. A passagem do técnico de 38 anos pelo Lanna Drumond foi curta. Em sete jogos, ele conseguiu uma vitória, dois empates e amargou quatro derrotas (aproveitamento de 23,8%). O revés por 4 a 0 diante do Figueirense, na nona rodada, em pleno Independência, foi a gota d’água para a cúpula americana optar pela demissão do treinador. O agravante foi a falta de evolução da equipe depois da intertemporada proporcionada pela realização da Copa América no Brasil.
Felipe Conceição assumiu o comando do América na 10ª rodada da Série B. Em julho, o time alviverde era o vice-lanterna da competição, com cinco pontos em 27 possíveis (aproveitamento de 18,51%). A campanha registrava uma vitória, três empates e seis derrotas. Contrariando a expectiva de briga contra o descenso, o Coelho reagiu de forma surpreendente e conseguiu a improvável chegada ao G4 com 16 triunfos, oito igualdades e quatro reveses (aproveitamento de 66,6%).
Começo turbulento
A convicção da diretoria no trabalho de Felipe Conceição foi essencial no começo dessa trajetória. O time demorou a engrenar e esboçar uma reação na Série B: foram dois empates (1 a 1 com Vila Nova-GO, fora de casa; e 0 a 0 com Oeste, no Independência) e uma derrota (1 a 0 para o Atlético-GO, no Horto).
A primeira vitória veio apenas na quarta partida sob a tutela do jovem treinador. Na 13ª rodada, o time alviverde foi a Campinas e bateu a Ponte Preta por 1 a 0. O jogo no interior paulista foi o divisor de águas na arrancada americana.
Sequência invicta
A partir do triunfo no Moisés Lucarelli, o Coelho emendou uma longa sequência invicta, a maior desta edição da Série B. Entre as rodadas 13 e 24, o time alviverde teve uma campanha de oito vitórias e quatro empates. O período sem derrotas foi encerrado no revés por 2 a 1 contra o Coritiba, na 25ª rodada, no Couto Pereira.
Naquela altura do torneio, o bom desempenho tirou o América da lanterna, com sete pontos, e o colocou na 10ª posição, com 35, e a apenas três do então quarto colocado CRB.
Melhora nos números
Se hoje o América é o sétimo melhor mandante da competição, isso se deve ao trabalho de Felipe Conceição. Antes do treinador assumir o comando, o retrospecto no Independência era de três derrotas e um empate. A primeira vitória no Horto foi apenas no sétimo compromisso em casa, na 15ª rodada, sobre o Londrina, por 4 a 3, já com Felipe à beira do gramado.
Sob o comando de Conceição, o América mudou seu patamar como mandante, a ponto de ter um aproveitamento de 71,42% no Independência. Foram nove vitórias, três igualdades e só dois reveses. Antes de Felipe Conceição, o rendimento era de 8,33%.
O desempenho fora de casa também cresceu consideravelmente. Hoje, o time alviverde é o melhor visitante do campeonato ao lado do campeão Bragantino, com 52,63%. Antes da “era Conceição”, o retrospecto era de uma vitória, um empate e três derrotas (aproveitamento de 26,6%).
Com o treinador, o desempenho longe de BH foi de 61,9%, com sete triunfos, cinco igualdades e dois reveses.
Feito inédito
Em caso de acesso, o América será o primeiro clube a sair da lanterna da Série B, na 14ª rodada, e garantir uma vaga na primeira divisão. O Coelho esteve em último nas seguintes rodadas: 5ª, 6ª, 10ª, 12ª, 13ª e 14ª. Quem conseguiu um feito parecido foi o Goiás. Na edição de 2018, o Esmeraldino também teve uma grande reação ao sair da zona de rebaixamento e terminar a competição em quarto, com 60 pontos. Entretanto, até a 12ª rodada, a última no Z4, a equipe goiana estava na 17ª colocação, com 12 pontos.
Na quarta colocação da Série B, com 61 pontos, o time americano precisa só de uma vitória contra o São Bento, no sábado, para voltar à primeira divisão. Um empate também servirá, desde que o Atlético-GO, quinto colocado, não vença o Sport em Goiânia.
O Coelho poderá até subir como terceiro colocado. Para isso, precisará bater o São Bento e torcer por pelo menos um empate do Coritiba (3º, com 63 pontos) diante do Vitória, no Barradão.
Palavras do chefe e contrato renovado
Responsável pela efetivação de Felipe Conceição como treinador da equipe profissional do América, o diretor de futebol Paulo Bracks foi só elogios ao comandado. Em entrevista ao Superesportes, em outubro deste ano, antes mesmo de o clube entrar definitivamente na briga pelo acesso, ele justificou a escolha por Felipe para ocupar o cargo principal da comissão técnica.
“Felipe Conceição será, em pouco tempo, um treinador de ponta no futebol brasileiro. Não tenho dúvidas em relação a isso. Tem conhecimento técnico muito grande. Ele foi escolhido por conhecer estritamente o elenco nosso, por saber as características dos nossos jogadores, saber o comportamento, o caráter. Ele conhece os atletas. A escolha dele, na verdade, não foi uma escolha, e sim ele pedindo passagem por conhecer o elenco”, afirmou o dirigente.
A "façanha" de Conceição à frente do América na Série B lhe rendeu uma boa valorização de mercado. Em outubro deste ano, o vínculo do treinador com o Coelho foi estendido até dezembro de 2020.