Os garotos ainda à espera de chance na equipe principal são frequentemente cedidos para o grupo sub-20, que participa do Brasileiro da categoria e ocupa o nono lugar de 20 clubes, com 26 pontos em 17 partidas.
“Claro que o torcedor vai vislumbrar que uma saída do jogador com 14 anos do clube vai impedi-lo de performar daqui alguns anos no clube. Mas é uma realidade e tem de ser passada ao torcedor: não necessariamente um atleta de 14 anos, permanecendo no clube, vai performar da maneira que se espera dele e da maneira que performa hoje. Ele pode se perder no caminho”, explicou Bracks, a respeito das vendas concretizadas na base.
VEJA O QUE DIZ PAULO BRACKS SOBRE A BASE
No ano passado começamos um trabalho de base no América para que os frutos fossem colhidos um ou dois anos depois. Este ano, o América colhe os frutos do que foi feito ano passado. Um atleta como o Flávio não começa a jogar contra o Guarani, no Independência, numa substituição no segundo tempo. Ele entra no clube e começa a ser formado ali dentro pelos treinadores e por toda a diretoria de base para ser mirado como atleta de potencial de, um dia, ser utilizado no profissional de forma apta. O que mais tem é número de jogadores de base dentro dos clubes. Mas jogadores aptos são poucos. Então, esse trabalho é diário, difícil e que alguns clubes, como o América, têm o benefício da paciência e da tranquilidade com esse jogador. Ele vislumbra que a transição pode acontecer a qualquer momento e entende a necessidade do clube.
O América tem esse DNA e talvez seja o clube com caminho mais próximo de categoria de base do que os outros. É um trabalho difícil, que não passa por uma pessoa só. Por exemplo, há um relatório de dispensa nas categorias de base. Não é feito por uma pessoa só. Existe um corpo técnico para dispensar o jogador com todas as justificativas, assim como para ficar.
Há um comparativo dos atletas, com todos os indicadores do jogador, para que, naturalmente, ele possa evoluir a ponto de ser utilizado no profissional. Se hoje o Felipe Conceição e a comissão técnica querem o jogador com determinada característica, nós temos na base, pois trabalhamos com ele para saber o que pode render. Mas é difícil saber o ponto certo. Depende da circunstância, do momento e, evidentemente, de a comissão técnica ter peito para jogar, e a comissão técnica tem”.
Um atleta de base treinando no profissional por seis meses sem ter oportunidade para jogar, é um ativo que se perde no clube. Então existem jogadores de transição que estão hoje no profissional e têm descido para jogar no sub-20. Exemplos: os zagueiros Luisão (1999), Sabino (1999), Thalys (2000), Vitão (2000), João Gabriel (2000), Carlos (2002), Luan (1999). Todos esses atletas citados estão inscritos na Série B e podem ser utilizados pelo Felipe a qualquer momento. Tanto que ele utilizou o Luan, que estreou no olho do furacão na Ilha do Retiro (contra o Sport) pela Série B. Luan está há pelo menos sete anos no clube. Esses jogadores precisam performar.
Existem também os jogadores prontos para serem observados no ano que vem, dentro do planejamento para 2020. Há atletas que estouram a idade sub-20 e ainda não estão prontos para o profissional. Por isso é importante a idade de aspirante (sub-23), essa maturação e essa paciência que o América tem.
O sub-20 do América hoje disputa competição em alto nível, como o Campeonato Brasileiro, do qual foi líder e atualmente aparece entre os primeiros colocados. Esses jogadores do sub-20 estão cada vez mais aptos para integrarem o elenco no ano que vem.
Treinar somente no profissional não deixará o atleta apto. São degraus. Treinar para se adaptar ao treino do profissional, que é muito diferente, e se adaptar ao elenco que está jogando. São três degraus que o atleta tem de subir, e o América está disposto a permitir isso aqui dentro.
Precisamos ter pés no chão e andar de forma segura, firme e com correção para que não aconteça o que está acontecendo com vários clubes brasileiros atualmente. Estamos em outubro, e os clubes devem salários. O América está com os salários em dia. Salário em dia para um clube como o América é muito trabalho. Deixar atrasar e gastar mais do que arrecada, o América não faz.
Adoraria ter o sub-23 este ano, como foi no ano passado. Rendeu-nos frutos a esse elenco, como Everton Morelli, França, Ynaiã - que hoje está emprestado. Tivemos ainda recuperação de atletas que desceram para jogar, como Ricardo Silva, hoje capitão do time; Christian, que está emprestado ao Figueirense; Zé Ricardo, um dos titulares do time hoje; e Ademir. Todos jogaram partidas pontuais com o sub-23 no ano passado e foram recuperados na própria Série A. Adoraria ter o sub-23 este ano, mas não passamos por cima do orçamento.
Hoje temos jogadores com muito potencial que podem estourar e, num futuro próximo, serem vistos no mercado brasileiro e no exterior. Não podemos ficar reféns de treinador. Clube não pode ficar refém de treinador. O mesmo jogador da base que agrada um, não agrada outro pelas características.
O exemplo do Flávio: o clube tinha convicção no Flavio, que ele ia evoluir a ponto de estar apto no profissional. É um trabalho do clube, não da comissão. Respaldo da presidência e da diretoria e peito e coragem do treinador fazem com que a gente ganhe esses novos jogadores. O América é hoje um celeiro desse tipo de atleta”.
O diálogo com os clubes aqui em Minas foi amplo, o América sempre tem diálogo com Atlético e Cruzeiro. Esse diálogo não pode deixar de acontecer por ocasião e oportunismo. Se isso foi uma mola ou um combustível para me alçar à diretoria, não consigo responder. O que sei do meu perfil - e isso vem da minha formação de oito anos trabalhando com Direito Criminal e seis anos trabalhando no Tribunal Desportivo -, eu gosto de briga. Eu gosto de mediar crise, de conflito, de solucionar. Não me furto de problema, não fujo de uma situação adversa. Eu gosto. E posso te afirmar que gosto de pressão, de porrada, mas sempre com correção, ética, caráter, disciplina, norma e legalidade, que, nesse caso específico do atleta, faltou e foi corrigido.
Entendo que isso deve ser aplicado desde a base até o profissional. Volto a dizer: o futebol hoje caminha de forma irreversível para ser trabalhado com ética, correção, responsabilidade financeira e transparência de dirigentes. Não há outro caminho".
O Mateusão, um atleta 2004, foi objeto de negociação entre América e Flamengo em total transparência, harmonia e boa relação que os clubes têm. Foi um negócio bom para Flamengo, América e atleta. Claro que o torcedor vai vislumbrar que uma saída do jogador com 14 anos do clube vai impedi-lo de performar daqui alguns anos no clube. Mas é uma realidade e tem de ser passada ao torcedor: não necessariamente um atleta de 14 anos, permanecendo no clube, vai performar da maneira que se espera dele e da maneira que performa hoje. Ele pode se perder no caminho.
Vários talentos se perderam no caminho, não só no América, mas em outros clubes. A transação para o Flamengo, com o América ficando com 50% dos direitos econômicos e mais um valor financeiro, faz com que esse ativo seja diversificado e possa potencializar lá na frente recursos para o clube. Cinquenta por cento no Flamengo pode valer mais que 100% no América, em termos financeiros.
Quando há uma proposta boa financeiramente, procuro fazer, com respaldo da presidência. Fizemos com Mateusão, Goldeson (atacante 2001 - Internacional), Vitor Roque (Cruzeiro) e outros atletas, casos de Paulo Edson, Artur. São jogadores que o América visa diversificar o ativo e buscar receitas nos mercados interno e externo. E, claro, torcendo para que ele se performe ainda melhor para gerar recursos”.