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Diretor passa base do América a limpo: DNA formador, talentos e briga com Cruzeiro por Vitor Roque

Objetivo do Coelho é aproveitar cada vez mais 'pratas da casa' no time

postado em 06/10/2019 06:00 / atualizado em 07/10/2019 13:54

<i>(Foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)</i>
América é conhecido nacionalmente por lançar bons jogadores. Entre as revelações recentes, destaques para o lateral-direito Danilo, da Juventus; o meia Moisés, ex-Palmeiras e atualmente no Shandong Luneng, da China; e o atacante Richarlison, do Everton e da Seleção Brasileira.

<i>(Foto: Mourão Panda/América)</i>



Frequentemente, a comissão técnica requisita garotos do sub-20 para compor o banco de reservas. Na última quinta-feira, na vitória por 1 a 0 sobre o CRB, no Independência, o zagueiro Luisão e o meia Vitão tiveram a oportunidade, assim como Sabino, Thalys, João Cubas, Pedro e Luan em circunstâncias anteriores.

Ao falar sobre o processo de transição em entrevista ao Superesportes, o diretor de futebol Paulo Bracks, responsável pela gestão da base americana de janeiro de 2018 a maio de 2019, citou o volante Flávio, nascido em 2000, como exemplo.
 
 

“Um atleta como o Flávio não começa a jogar contra o Guarani, no Independência, numa substituição no segundo tempo. Ele entra no clube e começa a ser formado ali dentro pelos treinadores e por toda a diretoria de base para ser mirado como atleta de potencial de, um dia, ser utilizado no profissional de forma apta”.

Flávio hoje é titular do meio-campo alviverde. Em sete jogos, marcou um gol - nos acréscimos da vitória por 3 a 2 sobre o Guarani, em 25 de agosto, no Independência, pela 18ª rodada da Série B.

<i>(Foto: Mourão Panda/América)</i>

Os garotos ainda à espera de chance na equipe principal são frequentemente cedidos para o grupo sub-20, que participa do Brasileiro da categoria e ocupa o nono lugar de 20 clubes, com 26 pontos em 17 partidas.

“O sub-20 do América hoje disputa competição em alto nível, como o Campeonato Brasileiro, do qual foi líder e atualmente aparece entre os primeiros colocados. Esses jogadores do sub-20 estão cada vez mais aptos para integrarem o elenco no ano que vem”, frisou Paulo Bracks.

“Treinar somente no profissional não deixará o atleta apto. São degraus. Treinar para se adaptar ao treino do profissional, que é muito diferente, e se adaptar ao elenco que está jogando. São três degraus que o atleta tem de subir, e o América está disposto a permitir isso aqui dentro”, acrescentou o dirigente.

A intenção do América é preparar melhor suas jovens promessas para dar retorno técnico e/ou financeiro. O caso de maior sucesso é o do atacante Richarlison, alçado ao time principal em junho de 2015, aos 18 anos. Na Série B, ele marcou nove gols em 24 jogos e ajudou no acesso à elite nacional, na quarta posição, com 65 pontos.

Em dezembro, o América vendeu 50% dos direitos de Richarlison ao Fluminense por R$ 10 milhões e manteve participação em 20%, que lhe rendeu mais R$ 9,5 milhões pela negociação do atleta ao Watford, da Inglaterra. Hoje, aos 22 anos, o ‘Pombo’ é destaque do Everton, que adquiriu seu passe em julho de 2018 por 39,2 milhões de euros (R$ 167 milhões). Pelo atual clube, marcou 17 gols e deu três assistências em 47 jogos.

<i>(Foto: AFP/Paul ELLIS)</i>

Outra negociação financeiramente vantajosa para o América foi a do goleiro Matheus, à época aos 22 anos, para o Braga, de Portugal. A venda de seus direitos econômicos gerou receita de 2,4 milhões de euros para o Coelho, valor este correspondente a 7,2 milhões de reais em julho de 2014.

Com relação a atletas ainda em formação, o América acertou as transferências dos atacantes Mateusão (2004), ao Flamengo, e Goldeson (2001), ao Internacional. Já o também atacante Vitor Roque (2005) seguiu para o Cruzeiro num complicado caso que envolveu a Justiça.

“Claro que o torcedor vai vislumbrar que uma saída do jogador com 14 anos do clube vai impedi-lo de performar daqui alguns anos no clube. Mas é uma realidade e tem de ser passada ao torcedor: não necessariamente um atleta de 14 anos, permanecendo no clube, vai performar da maneira que se espera dele e da maneira que performa hoje. Ele pode se perder no caminho”, explicou Bracks, a respeito das vendas concretizadas na base.

VEJA O QUE DIZ PAULO BRACKS SOBRE A BASE


Com relação aos jovens, o América tem no grupo tanto atletas da base quanto contratados. Qual o ponto de equilíbrio entre captar e formar, principalmente no elenco sub-20?

“Talvez seja a maior dificuldade de trabalhar na base. Acredito que todo gestor deveria passar pela base exatamente por isso, por essa dificuldade de ver a reserva de evolução daquele jogador, analisar idade e todas as características que podem vir a situá-lo como atleta apto ao profissional.

No ano passado começamos um trabalho de base no América para que os frutos fossem colhidos um ou dois anos depois. Este ano, o América colhe os frutos do que foi feito ano passado. Um atleta como o Flávio não começa a jogar contra o Guarani, no Independência, numa substituição no segundo tempo. Ele entra no clube e começa a ser formado ali dentro pelos treinadores e por toda a diretoria de base para ser mirado como atleta de potencial de, um dia, ser utilizado no profissional de forma apta. O que mais tem é número de jogadores de base dentro dos clubes. Mas jogadores aptos são poucos. Então, esse trabalho é diário, difícil e que alguns clubes, como o América, têm o benefício da paciência e da tranquilidade com esse jogador. Ele vislumbra que a transição pode acontecer a qualquer momento e entende a necessidade do clube.

O América tem esse DNA e talvez seja o clube com caminho mais próximo de categoria de base do que os outros. É um trabalho difícil, que não passa por uma pessoa só. Por exemplo, há um relatório de dispensa nas categorias de base. Não é feito por uma pessoa só. Existe um corpo técnico para dispensar o jogador com todas as justificativas, assim como para ficar.

Há um comparativo dos atletas, com todos os indicadores do jogador, para que, naturalmente, ele possa evoluir a ponto de ser utilizado no profissional. Se hoje o Felipe Conceição e a comissão técnica querem o jogador com determinada característica, nós temos na base, pois trabalhamos com ele para saber o que pode render. Mas é difícil saber o ponto certo. Depende da circunstância, do momento e, evidentemente, de a comissão técnica ter peito para jogar, e a comissão técnica tem”.

O que é melhor para o jovem com potencial: ficar no banco de reservas do time principal ou seguir jogando na base?

"São duas análises interessantes. Hoje temos no nosso elenco jogadores que transitaram, mas ainda com idade sub-20. E esses jogadores descem para jogar. Eles descem para poder performar no sub-20 ainda. Por que? É importante que o atleta esteja em atividade.

Um atleta de base treinando no profissional por seis meses sem ter oportunidade para jogar, é um ativo que se perde no clube. Então existem jogadores de transição que estão hoje no profissional e têm descido para jogar no sub-20. Exemplos: os zagueiros Luisão (1999), Sabino (1999), Thalys (2000), Vitão (2000), João Gabriel (2000), Carlos (2002), Luan (1999). Todos esses atletas citados estão inscritos na Série B e podem ser utilizados pelo Felipe a qualquer momento. Tanto que ele utilizou o Luan, que estreou no olho do furacão na Ilha do Retiro (contra o Sport) pela Série B. Luan está há pelo menos sete anos no clube. Esses jogadores precisam performar.

Existem também os jogadores prontos para serem observados no ano que vem, dentro do planejamento para 2020. Há atletas que estouram a idade sub-20 e ainda não estão prontos para o profissional. Por isso é importante a idade de aspirante (sub-23), essa maturação e essa paciência que o América tem.

O sub-20 do América hoje disputa competição em alto nível, como o Campeonato Brasileiro, do qual foi líder e atualmente aparece entre os primeiros colocados. Esses jogadores do sub-20 estão cada vez mais aptos para integrarem o elenco no ano que vem.

Treinar somente no profissional não deixará o atleta apto. São degraus. Treinar para se adaptar ao treino do profissional, que é muito diferente, e se adaptar ao elenco que está jogando. São três degraus que o atleta tem de subir, e o América está disposto a permitir isso aqui dentro.

O projeto do time de aspirantes (sub-23) será retomado?

"Eu sou um entusiasta do sub-23. Aliás, o clube é um entusiasta. Ano passado, brigamos muito para poder entrar no sub-23, e o América teve um desempenho muito bom, sendo primeiro colocado geral da primeira fase e batendo grandes clubes do futebol brasileiro, como Internacional, São Paulo e Santos. Mas, para ter sub-23, precisa de orçamento. E hoje, o América não tem orçamento. Acredito que, se vier o acesso, o América possa sim ter esse orçamento para o sub-23.

Precisamos ter pés no chão e andar de forma segura, firme e com correção para que não aconteça o que está acontecendo com vários clubes brasileiros atualmente. Estamos em outubro, e os clubes devem salários. O América está com os salários em dia. Salário em dia para um clube como o América é muito trabalho. Deixar atrasar e gastar mais do que arrecada, o América não faz.

Adoraria ter o sub-23 este ano, como foi no ano passado. Rendeu-nos frutos a esse elenco, como Everton Morelli, França, Ynaiã - que hoje está emprestado. Tivemos ainda recuperação de atletas que desceram para jogar, como Ricardo Silva, hoje capitão do time; Christian, que está emprestado ao Figueirense; Zé Ricardo, um dos titulares do time hoje; e Ademir. Todos jogaram partidas pontuais com o sub-23 no ano passado e foram recuperados na própria Série A. Adoraria ter o sub-23 este ano, mas não passamos por cima do orçamento.

É possível surgir atleta com potencial semelhante ao do Richarlison, que subiu aos 18 anos para o profissional e deu resultados esportivo e financeiro imediatos?

"Com toda a certeza. O clube tem que ter a convicção no jogador, mas precisa passar por aqueles degraus de performar bem no sub-20, treinar e se adaptar ao profissional e performar no profissional. Para performar no profissional, depende de respaldo da presidência e da diretoria e peito da comissão técnica. Se você tem tudo isso em harmonia, vão surgir novos 'Richarlisons', 'Gilbertos Silvas', 'Freds', 'Danilos'.

Hoje temos jogadores com muito potencial que podem estourar e, num futuro próximo, serem vistos no mercado brasileiro e no exterior. Não podemos ficar reféns de treinador. Clube não pode ficar refém de treinador. O mesmo jogador da base que agrada um, não agrada outro pelas características.

O exemplo do Flávio: o clube tinha convicção no Flavio, que ele ia evoluir a ponto de estar apto no profissional. É um trabalho do clube, não da comissão. Respaldo da presidência e da diretoria e peito e coragem do treinador fazem com que a gente ganhe esses novos jogadores. O América é hoje um celeiro desse tipo de atleta”.

Mesmo tendo perdido o jogador, o América resguardou seus direitos ao garantir participação em 50% dos direitos econômicos do Vitor Roque, do Cruzeiro. Acredita que essa queda de braço te deu prestígio para assumir a diretoria de futebol do clube?

"Eu não lutei contra o Cruzeiro. Lutei contra a antiética e a falta de caráter. Minha luta não foi contra a instituição, e sim por princípios e valores que têm de ser destacados no profissional, mas, sobretudo, na base. Por ser diretor do Movimento de Futebol de Base, que congrega os 40 principais clubes do Brasil, eu não podia me curvar diante de uma injustiça que estava sendo feita.

O diálogo com os clubes aqui em Minas foi amplo, o América sempre tem diálogo com Atlético e Cruzeiro. Esse diálogo não pode deixar de acontecer por ocasião e oportunismo. Se isso foi uma mola ou um combustível para me alçar à diretoria, não consigo responder. O que sei do meu perfil - e isso vem da minha formação de oito anos trabalhando com Direito Criminal e seis anos trabalhando no Tribunal Desportivo -, eu gosto de briga. Eu gosto de mediar crise, de conflito, de solucionar. Não me furto de problema, não fujo de uma situação adversa. Eu gosto. E posso te afirmar que gosto de pressão, de porrada, mas sempre com correção, ética, caráter, disciplina, norma e legalidade, que, nesse caso específico do atleta, faltou e foi corrigido.

Entendo que isso deve ser aplicado desde a base até o profissional. Volto a dizer: o futebol hoje caminha de forma irreversível para ser trabalhado com ética, correção, responsabilidade financeira e transparência de dirigentes. Não há outro caminho".

Gostaria que explicasse como funciona a parceria com os gigantes do futebol brasileiro em jovens promissores (Vitor Roque no Cruzeiro, Mateusão no Flamengo, etc.)

“É diversificar os ativos do clube. Um dos objetivos na formação do atleta é, também, colocá-lo no mercado interno e externo. A transferência de jogadores é uma das receitas essenciais dentro do clube, e o América tem de se valer disso.

O Mateusão, um atleta 2004, foi objeto de negociação entre América e Flamengo em total transparência, harmonia e boa relação que os clubes têm. Foi um negócio bom para Flamengo, América e atleta. Claro que o torcedor vai vislumbrar que uma saída do jogador com 14 anos do clube vai impedi-lo de performar daqui alguns anos no clube. Mas é uma realidade e tem de ser passada ao torcedor: não necessariamente um atleta de 14 anos, permanecendo no clube, vai performar da maneira que se espera dele e da maneira que performa hoje. Ele pode se perder no caminho.

Vários talentos se perderam no caminho, não só no América, mas em outros clubes. A transação para o Flamengo, com o América ficando com 50% dos direitos econômicos e mais um valor financeiro, faz com que esse ativo seja diversificado e possa potencializar lá na frente recursos para o clube. Cinquenta por cento no Flamengo pode valer mais que 100% no América, em termos financeiros.

Quando há uma proposta boa financeiramente, procuro fazer, com respaldo da presidência. Fizemos com Mateusão, Goldeson (atacante 2001 - Internacional), Vitor Roque (Cruzeiro) e outros atletas, casos de Paulo Edson, Artur. São jogadores que o América visa diversificar o ativo e buscar receitas nos mercados interno e externo. E, claro, torcendo para que ele se performe ainda melhor para gerar recursos”.

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