Em entrevista ao Superesportes, Hugo prefere não usar a palavra “arrependimento” em não ter continuado no América. Segundo ele, a decisão inadequada que tomou lhe serviu de aprendizado. “Não digo arrependimento. Talvez tenha sido um passo errado na carreira. Ainda era muito jovem e escutei conselho de pessoas que, não digo que queriam meu mal, mas, na ocasião, poderiam me aconselhar que o melhor seria ficar no América. Mas foi a decisão que tomei, então não tenho que me arrepender. Serviu de aprendizado. No Caxias tive grande crescimento profissional, pessoal, melhorei os aspectos físicos e táticos. Foi o primeiro clube pelo qual vivenciei o ambiente de estar no profissional. Foi excelente para mim a passagem pelo Caxias. Mas, enfim, se fosse hoje, com a cabeça que tenho, não teria tomado a decisão de sair do América”.
No Nordeste, Hugo teve seu momento de destaque ao defender um pênalti cobrado pelo atacante Hernane, do Bahia, em um jogo do Galícia pelo Estadual de 2017. O ‘Brocador’ tentou dar cavadinha e acabou surpreendido pelo fato de o goleiro ter esperado a trajetória da bola. Só que o resultado não foi nada favorável: derrota por 3 a 0, na Arena Fonte Nova. Ao término da competição, o Galícia somou apenas um ponto em 10 jogos e foi rebaixado à Segunda Divisão. Hugo disputou somente três partidas.
Na sequência, o ex-goleiro americano aceitou uma oferta do Cajazeiras, da Segunda Divisão do Campeonato Baiano. Os salários, conta ele, eram pagos em dia, porém a estrutura de trabalho disponível não era boa. Apesar dos contratempos, a equipe do Bairro de Pituaçu, em Salvador, ainda chegou à decisão da competição, mas perdeu os dois jogos para o Jequié, por 4 a 1 e 3 a 1. Hugo considerou ruim a experiência por esses clubes.
“Claro que no futebol baiano há muitas equipes estruturadas e organizadas, mas os clubes pelos quais joguei são desestruturadas. Não têm centros de treinamento, trabalhávamos em campos sem condições de praticar futebol, isso aí acaba diminuindo o nível do jogador. Mesmo com essas dificuldades, eles queriam cobrar resultados como se estivessem oferecendo coisas excepcionais para a gente. É meio difícil não dar condições e querer que o atleta renda em nível de excelência. É complicado”.
Titular de time presidido por goleiro Elisson, Hugo participou de campeonato amador em Brumadinho-MG - Foto: Arquivo pessoal
Foi aí que o goleiro decidiu parar. Ou melhor, dar um tempo. Prestes a se casar com a então noiva, Naiane, Hugo arrumou emprego em uma empresa especializada em manutenção de ar-condicionado na Avenida Amazonas, no Centro de Belo Horizonte. E aos fins de semana, dedicou-se ao futebol de várzea. Com os amigos de infância do Bairro São José, situado nas proximidades do Anel Rodoviário, corria na zaga ou no ataque. A estatura de 1,93m favorecia na bola aérea. Nos campos da Região Metropolitana de Belo Horizonte, retornava à posição de origem. Em Brumadinho, a 60 quilômetros da capital, representou a equipe do distrito de Piedade do Paraopeba, presidida pelo também goleiro Elisson, do Cruzeiro. Hugo viu de perto o drama familiar do amigo, que perdeu o filho Lucca, de 6 anos, em virtude de um acidente doméstico. Já em Betim, a convite do ex-lateral-esquerdo Williams Júnior, companheiro dos tempos de base do América, o arqueiro vestiu a camisa do Industrial, da Série A da Liga de Desportos do município.
“Trabalhei na parte de manutenção de ar-condicionado. Minha família me ensinou que o trabalho, independentemente qual seja, dignifica o homem. Para mim foi prazeroso estar nessa área, foi muito bom. E o futebol de fim de semana sempre teve, nunca parei. Treinei na LF, academia de goleiros de Belo Horizonte, que fica no Clube 7. Sempre mantive o ritmo. Joguei no amador em Betim, fomos muito bem. Em Brumadinho a mesma coisa, no time do Elisson, que até acertou o retorno ao Cruzeiro. Presenciei um momento de muita tristeza, que foi a perda do filho dele, um menino muito querido por todos, muito encantado, muito educado, muito bom mesmo. Foi uma situação bem complicada a perda de uma criança tão nova. A respeito do futebol amador, gostei muito de ter jogado. Como as pessoas dizem, é muito raiz. Muitas vezes pegamos campos de terra, enfim. Como sou de comunidade, cresci jogando em campo de terra, ralando os joelhos e os cotovelos, portanto retornei às origens. Foi bem prazeroso”.
A participação de Hugo no futebol amador foi monitorada por Junior André dos Santos, presidente do Clube Atlético Serranense (antigo Betinense), agremiação que disputará o Módulo II do Campeonato Mineiro em 2019. Empresário do ramo de postos de combustível, Juninho, como é conhecido o dirigente, tomou conhecimento da história do goleiro e apresentou proposta de dois anos de contrato. Disposto a retornar ao futebol, Hugo aceitou. O início dos trabalhos no clube de Nova Serrana está marcado para o dia 7 de janeiro (segunda-feira), às 10h. A estreia será em 9 de fevereiro, contra o Tricordiano, no Estádio Elias Arbex, em Três Corações. Hugo não poupou elogios à nova casa e destacou a qualidade da Arena do Calçado.
“Assinei um contrato de dois anos com o Serranense, que é o antigo Betinense. Quero até agradecer ao presidente de lá, o Juninho, por me dar a oportunidade de estar voltando. Você vê que o clube tem um planejamento quando assina um contrato de dois anos com um atleta. Você sabe que o clube tem progressão e vai buscar crescer. Os planos da equipe é subir de divisão no Campeonato Mineiro. Já bateu na trave por dois anos seguidos (ficou em quinto em 2018 e em terceiro em 2017). Este ano, se Deus quiser, cumpriremos a missão de subir para a primeira divisão. O estádio é muito bom, muito bem cuidado, já joguei lá quando estava na base do América. A estrutura de treinamento, pelo que soube, também é boa”.
Empolgado com a oportunidade, o goleiro já prepara projetos para a retomada da carreira e vislumbra crescimento profissional. “Meus planos em curto prazo é subir com o time à primeira divisão do Campeonato Mineiro. Em seguida, muito provavelmente, serei emprestado por ter um contrato mais longo e o clube não ter calendário para o restante do ano. Independentemente da equipe para a qual eu for emprestado, é treinar bastante e procurar evoluir sempre para que as coisas funcionem bem”.
Aos 19 anos, Hugo foi titular na campanha que garantiu ao América a conquista da Taça BH de 2014 - Foto: Arquivo pessoal
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