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Português Rui Sousa deixa análise de desempenho do América, mas acredita em 'herança' no clube: 'Legado vai permanecer por mais anos'

Rui Sousa foi um dos responsáveis por fazer com que o Centro de Análise de Desempenho e Mercado do América alcançasse grande relevância nacional

postado em 27/12/2018 19:16 / atualizado em 27/12/2018 19:24

Rui Sousa/Arquivo pessoal
Mesmo com a queda para a Série B do Campeonato Brasileiro, o América continua a se destacar em um setor fora das ‘quatro linhas’. O clube conta com um Centro de Análise de Desempenho e Mercado dos mais modernos do Brasil e investe em equipamentos e profissionais para a área desde 2016. Contudo, este mês, o Coelho perdeu uma peça importante: o coordenador do departamento, Rui Sousa, decidiu voltar a Portugal, seu país natal. 

Rui Sousa chegou ao América em junho de 2016, juntamente com o técnico português Sérgio Vieira. Enquanto o conterrâneo ficou no cargo apenas 43 dias, o analista foi contratado e desenvolveu no Lanna Drumond o Centro de Análise. Agora, o setor passará a ser coordenado por Luiz Fernando Silva, ex-auxiliar técnico do time Sub-20.

Rui Sousa/Arquivo pessoal

Nesses dois anos e meio, Rui destaca que o América valorizou muito o trabalho do departamento. Jogadores e técnicos tiraram proveito das diversas ferramentas tecnológicas para evoluir e estudar adversários. Já em relação ao mercado, o clube criou um banco de dados rico, que facilita nas contratações a cada janela de transferências. Hoje, o Centro de Análise e Mercado tem cinco profissionais, que mapeiam inclusive as categorias de base.

“Fundamentalmente, acho que foi uma passagem positiva. Seja em nível pessoal, naquilo que o América me proporcionou, ou também com aquilo que deixei no clube. Tive a oportunidade de trabalhar com alguns treinadores, desde Sérgio, Enderson, Drubscky, Adilson e Givanildo. Todos eles com personalidades e métodos de trabalho diferentes. Isso me fez crescer em nível pessoal, porque passei a lidar com diferentes pessoas, com diferentes ideias, com personagens diferentes. Isso me deu uma vivência diferente em cada um de seus estilos. Creio que para o clube também há um legado que vai permanecer por mais uns anos e isso me deixa mais feliz. E eu sustento essa minha convicção pelo número de profissionais que hoje trabalham no clube”, exaltou Rui.

O analista português decidiu deixar o América e voltar a Portugal por um motivo especial: o nascimento de sua filha primogênita, marcado para março. “É uma saída pessoal em virtude do nascimento da minha filha, que será no mês de março (2019). Junto à minha esposa, decidi que seria melhor nesta fase da nossa vida, a gente dar continuidade a uma vida em Portugal, onde tenho minha família, meus pais, minha irmã, minhas sobrinhas, e um apoio mais fácil do que está aí nessa vivência que é o futebol, os campeonatos de quarta a domingo”.

Parceria com Enderson Moreira

Nessa passagem pelo América, Rui Sousa valorizou muito o trabalho em parceria com o técnico Enderson Moreira em 2017 e no primeiro semestre deste ano. Em junho, o comandante deixou o clube e aceitou uma proposta do Bahia. “Acho que essa história curta do América deve-se muito ao Enderson. Como ele liderava os processos, fica a sensação de que, com ele, o América disputaria em 2019 a Série A. Tenho convicção que isso aconteceria (time não seria rebaixado com ele à frente). Ele é uma pessoa que acredita muito no processo de análise de desempenho. Tanto para potencializar aquilo que é o jogador individualmente como a equipe como um todo".

Rui Sousa/Arquivo pessoal

Embora Rui seja engenheiro por formação, a paixão pelo futebol o direcionou para o estudo desse esporte. Desde que ele fez pós-graduação em ‘Análise do jogo’, pela Universidade do Porto, jamais deixou a área. Além de experiências em Portugal, Sousa estagiou no Flamengo e passou como efetivo por Sport, Atlético-PR, Guaratinguetá-SP e Ferroviária-SP. Em Portugal, ele espera seguir no futebol. "É engraçado que, às vezes, quando a gente não procura, as coisas acabam por nos procurar. E de fato tem uma outra situação que pode me levar a continuar trabalhando no futebol, nada de muito concreto, nada assinado. Aparentemente, acho que vou continuar a trabalhar no futebol", concluiu.

Além do novo coordenador, Luiz Fernando Silva, o Centro de Análise e Mercado do América conta atualmente com Arthur de Vito, Bernardo Lima, Juan Gomes e Victor Flores.

Vídeo de reportagem do Superesportes, em dezembro de 2017, mostra um exemplo prático da importância da análise de desempenho no dia a dia dos clubes. Rui Sousa explica como corrigiu posicionamento do zagueiro Messias:



Confira, na íntegra, a entrevista com Rui Sousa:

O que determinou a sua saída do América?

É uma saída pessoal em virtude do nascimento da minha filha, que será no mês de março (2019). Junto à minha esposa, decidi que seria melhor nesta fase da nossa vida, a gente dar continuidade a uma vida em Portugal, onde tenho minha família, meus pais, minha irmã, minhas sobrinhas, e um apoio mais fácil do que está aí nessa vivência que é o futebol, os campeonatos de quarta a domingo. É uma fase que o apoio para o nascimento da menina será importante. Todas essas questões que têm com a mãe e essa ajuda é sempre bem-vinda. Estando no futebol é sempre mais difícil, especialmente estando em outro país. Por esse motivo, a saída do América foi por minha iniciativa, foi pedida em novembro, antes de o campeonato terminar. Foi essencialmente de caráter pessoal. 

Como avalia sua passagem pelo clube? O que foi desenvolvido, o que fica de legado?

Fundamentalmente, acho que foi uma passagem positiva. Seja em nível pessoal, naquilo que o América me proporcionou, ou também com aquilo que deixei no clube. Tive a oportunidade de trabalhar com alguns treinadores desde o Sérgio (Vieira), Enderson (Moreira), (Ricardo) Drubscky, Adilson (Batista) e Givanildo (Oliveira). Todos eles com personalidades e métodos de trabalho diferentes. Isso me fez crescer em nível pessoal, porque passei a lidar com diferentes pessoas, com diferentes ideias, com personagens diferentes. Isso nos dá uma vivência diferente em cada um de seus estilos. Creio que para o clube também foi um legado que creio que vai permanecer por mais uns anos e isso me deixa mais feliz. E eu sustento essa minha convicção pelo número de profissionais que hoje trabalham no clube. Quando cheguei, junto com o Sérgio, o clube tinha um profissional, um estagiário e fui o terceiro integrante do departamento. Hoje, o América praticamente tem o dobro de pessoas, o que não é um número que você costuma ver muito nos times brasileiros. Ter seis pessoas a trabalhar em um departamento de análise de mercado num clube brasileiro de futebol, creio que não é para todos os clubes, mesmo os de Série A melhores estruturados. Acho que esse é o mais legado, porque acredito que esse número de pessoas, essas seis pessoas que hoje fazem parte do departamento, acabam por estar por convicção própria da direção, que veio do trabalho que foi desenvolvido. Hoje, o departamento tem processos instituídos, protocolos que me permitem ser treinador A, B  ou C são sempre produzidos. Todas as pessoas do departamento, na minha saída, ainda podem desenvolver todos esses tipos de protocolos, estão inteirados de todo o processo que é uma coisa que eu deixei bem fincada. Qualquer profissional que pudesse entrar no clube, que estava conosco ali durante algum tempo, pode ter exatamente as mesmas vivências que nós temos no dia a dia para quando um saísse, o departamento não fique órfão de algum tipo de processo, algum tipo de trabalho que é produzido, alguma tarefa que é produzida, porque quem seria prejudicado seria necessariamente o clube. Nesse aspecto, eu acho que o clube fica também salvo com profissionais que ficam. Não é o Rui ter saído que o América vai ficar em uma situação pior na análise ou melhor. Acho que vai ficar com os processos instituídos que é o mais importante.

Vai seguir trabalhando no futebol europeu ou mudará de área?

O que eu pedi para esses próximos tempos era de fato ter uma pausa. Até para fazer jus àquilo que será os próximos dois, três meses por causa do nascimento da minha filha. É engraçado que, às vezes, quando a gente não procura, as coisas acabam por nos procurar. E de fato tem uma outra situação que pode me levar a continuar trabalhando no futebol, nada de muito concreto, nada assinado. Aparentemente, acho que vou continuar a trabalhar no futebol.  

Recado final

Meu trabalho pessoal, dentro clube, foi com diversas pessoas. O departamento não se restringe apenas às pessoas que trabalham nele. Há uma grande interação com a comissão técnica, diretoria. Produzimos diferentes tarefas para um lado e para o outro. Dentro daquilo que é análise do mercado, como também os materiais que produzimos semanalmente dentro do microciclo da semana de trabalho. Não poderia deixar de sair do clube sem falar de uma ou duas pessoas que foram para mim fundamentais nesse percurso pessoal, dentro do crescimento no futebol e também naquilo que foi minha vivência dentro do América.  O primeiro é o Sérgio Vieira, pois, se não fosse ele, eu não teria uma história no América. Foi ele que confiou no meu trabalho e nas competências que, lá atrás, no Atlético-PR, diariamente a gente convivia. Ele apresentou o meu nome à diretoria que não me conhecia, e me trouxe para o América. Não faria sentido eu estar no América sem o Sérgio estar envolvido. Muitos dos processos que fui implementando têm muito das ideias do Sérgio, processos europeus, qualificações em níveis que acredito que possam estar no desenvolvimento da equipe do atleta enquanto um processo como todo. Por isso não posso deixar de referir no nome do Sérgio por estar diretamente ligado. Depois ao professor Enderson Moreira, com quem tive o privilégio de trabalhar por dois anos. Acho que essa história curta do América de 2017 e até ao início de 2018, este êxito deve-se muito a ele. Como liderava os processos e talvez fica a sensação de que com ele o América disputaria em 2019 a Série A. Tenho convicção que isso iria acontecer. Ele é uma pessoa que acredita muito no processo de análise de desempenho. Tanto para potencializar aquilo que é o jogador individualmente, como a equipe como um todo. Isso foi diariamente nos passado. Era uma pessoa que interagia e que nos pedia diversas vezes durante a semana várias opiniões. Creio que talvez tenha sido nesse contexto do América, o treinador com quem o processo de análise tenha estado mais ligado. Talvez tenha nos trazido mais frutos. Os próprios jogadores também nos davam esse feedback, que no tempo do Enderson, as coisas e os processos de análise chegavam de uma forma diferente, talvez de uma forma mais fácil de entendimento para eles. Não quero dizer que com os outros as coisas não tenham fluído da mesma forma. Mas as personalidades são diferentes, métodos diferentes, caminhos para vitórias são diferentes, não se ganha de uma forma, por isso futebol é tão bonito. Com todos acabou por ter uma interação fácil. Mas não há dúvidas que poderia deixar de me referir aos nomes do Sérgio e ao Enderson. 

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