O empresário Francis Melo deu sua versão, nesta sexta-feira, de como Enderson Moreira, técnico do América e seu cliente, teria chegado a ser cogitado pelo Atlético para suceder Oswaldo de Oliveira, demitido há uma semana.
Durante entrevista ao programa Bastidores, da Rádio Itatiaia, Francis Melo disse que tudo começou numa conversa com o diretor de futebol do Atlético, Alexandre Gallo, no sábado passado, logo depois da derrota alvinegra para a Caldense, por 2 a 1, pela sexta rodada do Campeonato Mineiro.
O agente alegou que procurou Gallo para indicar o nome do técnico Ney Franco, outro de seus agenciados. No transcorrer da conversa, o diretor de futebol atleticano teria mostrado interesse em Enderson Moreira.
”Tenho um bom relacionamento com o Alexandre Gallo, que é uma pessoa que eu respeito, conheci recentemente. No sábado, após a partida contra a Caldense, a qual o Atlético perdeu, por volta de 20h30, eu mandei uma mensagem para o Alexandre Gallo e dizendo: “Ainda tem tempo para uma indicação de treinador ou já fechou com alguém?”. Ele me respondeu que estava saindo e quando chegasse em casa me ligava. Falei 'ok', me ligue quando chegar. A gente não conversou mais no sábado. No domingo, nos falamos novamente e ele falou: “Ainda dá tempo. Quem você sugere?”. E eu sugeri para ele o nome do Ney Franco. Eu explicando para ele o porquê do nome do Ney Franco, disse: “Gallo, não sei se você sabe, mas eu sou especializado em treinadores, cuido da imagem de muitos treinadores. Marcelo Oliveira, Oswaldo, Micale, e também agencio outros, como o Léo Condé e o Enderson Moreira. Quando eu citei o nome do Enderson, o Gallo falou: “Desse eu gosto. Gosto muito do trabalho dele”. Eu falei: “Gosta, que bom. Vou te mandar o currículo dos dois então”. Assim, eu mandei o currículo do Ney Franco e do Enderson Moreira para o Gallo. Liguei para falar do Ney Franco. Na conversa, no desenrolar, que não estava previsto, citei os nomes de outros treinadores só para justificar, e ele no papel dele de entendedor que é, gosta do treinador. Eu, no meu papel de empresário, se você gosta, te mandei. Isso foi no domingo. Estou deixando claro, eu mandei para ele”, disse Francis.
Ainda de acordo com o agente, Alexandre Gallo não fez mais contato na segunda e na terça-feira. Apenas na quarta-feira à noite houve a procura por parte do diretor atleticano para saber detalhes do contrato de Enderson Moreira com o América. “Na quarta-feira, estava em casa, porque estava indo às 19h para Portugal. Estou com a ideia de comprar um clube em Portugal. Tinha reuniões marcadas, inclusive hoje, sexta, e ontem, quinta. Chegaria em Portugal ontem, às 6h. E o Gallo me ligou: “Francis Melo, qual a real situação do Enderson?”. Eu expliquei. Conversamos. Expliquei tudo o que ele me perguntou da situação contratual, passei tudo. Esse é o meu papel. Eu sou um empresário e sou o filtro do meu cliente”.
Francis Melo contou na entrevista que, por conta do telefonema de Alexandre Gallo e da possibilidade de a negociação com Enderson Moreira avançar, ele cancelou a viagem que faria a Portugal. No entanto, horas depois, o diretor de futebol ligou novamente para dar as conversas como encerradas, já que o nome tinha sido reprovado pelo presidente Sérgio Sette Câmara.
“Ok, não vou viajar então. Troquei minha passagem, tinha um acompanhante comigo. Troquei, paguei para remarcar na hora. Uma hora antes do embarque. E voltei para Belo Horizonte. Eu devo ter saído de Confins umas 19h30, por aí. Eu falei com o Enderson: ‘Recebi uma ligação, uma sondagem, do Atlético’. Ele falou: ‘Mas você não foi para Portugal?’. Eu disse: ‘Não. Remarquei meu voo para sábado. A gente pode se encontrar’. Ele joga squash e disse: ‘Lá pelas 21h30, 21h45, você vai lá para casa’. Era o tempo de eu sair de Confins. Nesse meio tempo, mais tarde, eu a caminho da casa do Enderson, recebi uma ligação do Alexandre Gallo. ‘Francis Melo, não vai para frente. Cancelou o negócio, não vai ter o negócio’. Eu falei: ‘Ué, Gallo, o que aconteceu?’. Ele falou: ‘Olha, saí da sala só para te ligar. Depois a gente se fala”. Eu falei: ‘Ok’. Liguei para o Enderson e disse: ‘Olha, Enderson, ia ter uma sondagem, uma conversa, e não vai ter mais’. Aí, eu fui pego de surpresa, ontem, com toda essa repercussão. Muito negativa, mas essa é a versão inteira’, posicionou-se Francis Melo, que até então negava conversas com o Atlético.
O vazamento das conversas entre Francis Melo e Atlético só vieram nessa quinta-feira, também pela Rádio Itatiaia. A emissora informou que o presidente do Atlético procurou o mandatário do América, Marcus Salum, para alertar que Enderson tinha sido oferecido pelo agente. Oficialmente, a diretoria atleticana não quis se manifestar sobre o episódio.
Já nesta sexta-feira, Enderson Moreira falou em entrevista coletiva, logo após o treino do América, que ficou espantado com a notícia de que teve o nome oferecido ao rival Atlético e justamente na semana do clássico. O duelo está marcado para este domingo, às 17h, no Independência. O treinador alegou estar com foco totalmente voltado para o seu clube.
Ouça, na íntegra, a entrevista de Francis Melo à Rádio Itatiaia:
Ouça, na íntegra, a entrevista coletiva de Enderson Moreira nesta sexta-feira:
Leia, na íntegra, a entrevista de Francis Melo à Rádio Itatiaia:
Francis Melo: Tenho um bom relacionamento com o Alexandre Gallo, que é uma pessoa que eu respeito, conheci recentemente. No sábado, após a partida contra a Caldense, a qual o Atlético perdeu, por volta de 20h30, eu mandei uma mensagem para o Alexandre Gallo e dizendo: “Ainda tem tempo para uma indicação de treinador ou já fechou com alguém?”. Ele me respondeu que estava saindo e quando chegasse em casa me ligava. Falei 'ok', me ligue quando chegar. A gente não conversou mais no sábado. No domingo, nos falamos novamente e ele falou: “Ainda dá tempo. Quem você sugere?”. E eu sugeri para ele o nome do Ney Franco. Eu explicando para ele o porque do nome do Ney Franco, disse: “Gallo, não sei se você sabe, mas eu sou especializado em treinadores, cuido da imagem de muitos treinadores. Marcelo Oliveira, Oswaldo, Micale, e também agencio outros, como o Léo Condé e o Enderson Moreira. Quando eu citei o nome do Enderson, o Gallo falou: “Desse eu gosto. Gosto muito do trabalho dele”. Eu falei: “Gosta, que bom. Vou te mandar o currículo dos dois então”. Assim, eu mandei o currículo do Ney Franco e do Enderson Moreira para o Gallo. Liguei para falar do Ney Franco. Na conversa, no desenrolar, que não estava previsto, citei os nomes de outros treinadores só para justificar, e ele no papel dele de entendedor que é, gosta do treinador. Eu, no meu papel de empresário, se você gosta, te mandei. Isso foi no domingo. Estou deixando claro, eu mandei para ele.
Apresentador João Vitor Xavier: Você não nega que mandou o currículo do Enderson para o Gallo?
Francis Melo: De forma alguma. Junto com o do Ney. Em princípio, a intenção era o do Ney.
João Vitor: Você tentou colocar o Ney Franco no Atlético, ele disse que gostava do Enderson e, aí, você falou 'já que você gosta, tá aí o currículo'.
Comentarista Cadu Doné: Você mencionou os treinadores com os quais você trabalha, uma apresentação do seu currículo, uma lembrança da sua cartela de clientes, antes disso você só tinha falado do Ney, mas quando você menciona sua cartela de clientes, ele disse que o Enderson Moreira interessava, que gostava dele.
Francis Melo: Falou, 'gosto do trabalho dele'. Eu fiquei feliz e falei: “Vou te mandar o currículo dos dois então”. Mandei, e não nos falamos mais. No domingo, não nos falamos. Segunda e terça também não. Na quarta-feira, estava em casa, porque estava indo às 19h para Portugal. Estou com a ideia de comprar um clube em Portugal. Tinha reuniões marcadas, inclusive hoje, sexta, e ontem, quinta. Chegaria em Portugal ontem, às 6h. E o Gallo me ligou: “Francis Melo, qual a real situação do Enderson?”. Eu expliquei. Conversamos.
João Vitor Xavier: Você explicou em qual sentido? O que você disse a ele?
Francis Melo: Expliquei tudo o que ele me perguntou da situação contratual, passei tudo. Esse é o meu papel. Eu sou um empresário e sou o filtro do meu cliente. Se o Villa Nova me ligar, querendo o Enderson, ou o São Paulo, ou o Real Madrid, tenho a obrigação de levar isso para o meu cliente. Tenho que filtrar e levar. Acredito, se o professor (técnico do Villa Nova estava no programa) tiver um agente, esse agente receber uma sondagem, e esse agente não repassar para ele a sondagem, acredito que ele não iria gostar, certo professor? Então, é o meu papel natural de empresário. Aí falei: “Olha Gallo, estou no caminho para o Aeroporto de Confins”. Ele falou: “Tudo bem, vamos conversar”. Eu fui para o aeroporto. Nesse meio tempo a gente conversava, desligava, 'vou ver, vou ver'. Discutimos. Eu cheguei na hora do embarque, quase 18h, eu falei com o Gallo: “Tenho que embarcar ou não. Eu embarco ou não?”. Ele falou: “Eu dependo de uma palavra final do presidente, vou levar para ele. Dependo da palavra do presidente, porque tem um grau de parentesco, inclusive, entre as diretorias, não diretorias, mas do ex-presidente (Alexandre Kalil) com o presidente do América (Marcus Salum).
João Vitor Xavier: O ex-presidente do Atlético, Alexandre Kalil, hoje prefeito de Belo Horizonte, é primo do presidente do América, Marcus Salum.
Francis Melo: Pessoa pela qual eu tenho um enorme respeito, carinho, Marcus Salum. Eu falei: “Ok, não vou viajar então. Troquei minha passagem, tinha um acompanhante comigo. Troquei, paguei para remarcar na hora. Uma hora antes do embarque. E voltei para Belo Horizonte. Eu devo ter saído de Confins umas 19h30, por aí. Eu falei com o Enderson: “Recebi uma ligação, uma sondagem, do Atlético”. Ele falou: “Mas você não foi para Portugal”. Eu disse: “Não. Remarquei meu voo para sábado. A gente pode se encontrar”. Ele joga squash e disse: “Lá pelas 21h30, 21h45, você vai lá para casa”. Era o tempo de eu sair de Confins. Nesse meio tempo, mais tarde, eu a caminho da casa do Enderson, recebi uma ligação do Alexandre Gallo. “Francis Melo, não vai para frente. Cancelou o negócio, não vai ter o negócio”. Eu falei: “Ué, Gallo, o que aconteceu?”. Ele falou: “Olha, saí da sala só para te ligar. Depois a gente se fala”. Eu falei: “Ok”. Liguei para o Enderson e disse: “Olha, Enderson, ia ter uma sondagem, uma conversa, e não vai ter mais”. Aí, eu fui pego de surpresa, ontem, com toda essa repercussão. Muito negativa, mas essa é a versão inteira.
João Vitor Xavier: Você está dizendo o seguinte: “Eu ouvi do Gallo que ele gostava do trabalho do meu cliente. De fato, passei para ele o currículo do meu cliente”
Francis Melo: Confirmo totalmente.
João Vitor Xavier: E, de fato, abriu uma negociação. Mas o que você está dizendo é que você abriu a negociação, mas o Atlético também abriu.
Francis Melo: Sim. É uma negociação normal. Eu entendo ser normal da parte dele também. Ele está no papel dele, de buscar o melhor para o Atlético. Ele recebeu. Eu recebi essa ligação dele. A gente não se falava desde domingo.
João Vitor Xavier: Duas coisas foram muito questionadas: o fato de isso ter acontecido na semana de uma clássico Atlético x América. Te pergunto se você entende ser ético uma negociação dessa. Do técnico do América com o Atlético numa semana de clássico. E o segundo ponto a respeito disso: se você considera que a ruptura do contrato do Enderson com o América seria normal pelo que é o futebol.
Francis Melo: Vou começar de trás para frente. O contrato existe e prevê situações. O Enderson, no ano passado, tinha um contrato em vigor, e estava praticamente demitido naquele jogo do Santa Cruz, você sabe disso. Se ele empata esse jogo com o Santa Cruz, ele estava demitido. E a gente encara isso, infelizmente, como uma coisa normal. Os treinadores têm pouca estabilidade. Apesar de o Enderson, o América ali, ainda bem que ganhou aquele jogo, com um gol salvador do Matheusinho. Esse gol deu a continuidade do trabalho do Enderson. A partir dali ficou. Se ele tivesse sido mandado embora ali, a gente ia aceitar, enfiar a viola no saco e buscar um outro caminho. Então, para ele sair hoje, existe uma multa. Se ele fosse proibido de sair do América, teria que ser uma multa de 100% do contrato, o que inviabiliza. A partir do momento em que o clube, em comum acordo, escolhe colocar um salário, dois, ou cinco salários, ou 100%, é o tanto que o clube preza por aquilo. A saída de um treinador, eu encaro com muita naturalidade.
Francis Melo: Em relação à segunda pergunta, eu iniciei essa conversa no sábado. Uma semana antes do clássico. Um clube sem treinador, um clube grande, independente se pequeno, médio ou grande, não fica, não espera uma situação. Se o clube puder esperar, ele espera o Cuca, que falou que depois da Copa ele vem. Então é só esperar, mas não espera. Iniciei isso há uma semana e, depois de domingo, não tive nenhuma conversa com ninguém do Atlético. Essa conversa veio na quarta-feira, eu entrando no aeroporto, quando o Gallo me ligou. Eu recebi a ligação dele.