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Na busca pelo artilheiro, os dirigentes não precisaram de longas negociações com empresários e nem tampouco de deslocamentos para aeroportos. Foram necessárias apenas observações criteriosas - e carinhosas - do garoto de 18 anos, residente numa casa ao lado do CT Lanna Drumond, moradia de atletas das categorias de base do Coelho, e com fome de gols.
Em campo, Richarlison atormenta as defesas adversárias com jogadas de velocidade, dribles curtos, muita movimentação e, principalmente, gols. Fora das quatro linhas, conversa pouco e mostra grande simplicidade. Depois dos treinos, é comum vê-lo subir as escadas e ficar numa espécie de marquise perto da sala de imprensa do CT com os amigos da equipe de juniores. “Se eu estou jogando bem na equipe profissional, devo muito a eles. Me ajudaram no júnior. E agora, eu sirvo de exemplo, pois eles também podem subir e ganhar destaque no ano que vem”.
A prova de que Richarlison não esquece as origens está em Régis Felisberto Masarin, de 42 anos, um dos responsáveis por lapidar o talento do jogador em Nova Venécia, no interior do Espírito Santo. Sempre que é perguntado sobre sua origem no futebol, ele cita o nome do antigo treinador. “Fico feliz por saber que ele tem esse reconhecimento. É muito gratificante. Assim que o vi jogando, percebi que ele tinha condições de se dar bem no futebol profissional. Tentamos colocá-lo no Avaí e no Figueirense, mas não deu certo. Aí, veio o América, que ficou encantado. O que vocês estão vendo não é surpresa para mim e nem para as pessoas que o acompanharam no Espírito Santo”, diz Masarin.
Por ter sido jogador profissional – fez carreira na base do Flamengo entre as décadas de 1980 e 1990, atuando ao lado de ícones como Romário, Edmundo, Sávio, Marcelinho Carioca, Júnior e Zico –, Masarin não perdeu o papel de conselheiro. “Quando temos contato, sempre falo: ‘pés no chão, muita calma, você está apenas começando’. Ele parece compreender bem isso. É um menino muito bom, muito puro e de família humilde”.
SONHO
Em pouco tempo de estrada, Richarlison virou destaque. A Winning, que presta serviços de assessoria de comunicação ao centroavante, fez levantamento dos desempenhos de atletas com idade para disputar a Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro. O prata da casa americano aparece em primeiro, com oito gols em 21 jogos. O gremista Luan e o santista Gabriel também marcaram oito vezes, mas disputaram mais partidas: 28 e 31, respectivamente.
A projeção permitiu que realizasse um de seus sonhos: adquirir uma casa para o pai, Antônio Marcos de Andrade, que trabalhava como marteleteiro em Nova Venécia. “Ele é muito ligado à família. Pensa muito em todo mundo que está à volta dele. Quando chegou ao América, me falou que tinha o sonho de comprar a casa. E, felizmente, isso está ocorrendo”, conta Antônio, orgulhoso. “Ele é um guerreiro desde pequeno. Graças a Deus, está realizando o grande sonho da vida. Precisa continuar sendo humilde, com os pés no chão”.
A próxima conquista na mira de Richarlison é colocar o América na Série A. O jogo contra o Vitória na terça-feira, às 19h, no Independência, será vital para manter a vice-liderança e fincar os pés no G4. “Não tem nada ganho ainda. Não acabou o campeonato. Vou tentar ajudar da melhor maneira possível, seja com gols ou assistências. Não tenho um objetivo particular de fazer tantos gols, mas sim o de subir para a Primeira Divisão”.
Ele tem o reconhecimento de companheiros. “Vem despontando e fazendo uma bela Série B. Tende a ter um futuro maravilhoso”, diz o zagueiro Alison. Parceiro de Richarlison no ataque, o artilheiro Marcelo Toscano prevê que não será fácil o América segurá-lo. “Pelo futebol que vem desenvolvendo, a qualidade que tem, acho difícil permanecer por muito tempo. Lógico, todos querem que fique. Eu torço por isso”. Talvez não tenha sido por acaso que, recentemente, a revelação passou a ter a carreira gerenciada por Giuliano Bertolucci, empresário responsável por negociar astros da Seleção Brasileira.
1) Você esperava o sucesso tão rápido?
Já vim para o América com o objetivo de fazer história. Graças a Deus, venho sendo iluminado e estou fazendo vários gols para ajudar a equipe.
2) Qual o seu grande objetivo neste início de carreira?
Continuar jogando bem e colocar o América na Série A. Esse é o sonho de todo mundo no grupo.
3) Qual o papel do técnico Givanildo Oliveira?
É extremamente inteligente e bacana. Passa tranquilidade e pede para eu não me intimidar com os zagueiros adversários. Sempre está conversando. Grande técnico. Me ajudou muito nessa subida ao profissional.
4) Como vê a possibilidade de jogar a Série A de 2016?
Será muito bom jogar contra grandes clubes brasileiros. Com certeza vou ganhar mais visibilidade e poderei crescer mais.
5) Você tem idade para os Jogos Olímpicos. Sonha em vestir a camisa da Seleção Brasileira em 2016?
Sempre tem de pensar grande. Desde quando cheguei aqui, já pensava em buscar esse objetivo da Seleção. Se for da vontade de Deus, quero estar lá.
6) E o futebol europeu?
Todo jogador tem um sonho de atuar na Europa. Eu não sou diferente. Mas primeiro é pés o chão. É fazer minha história no América. Quero realizar os meus objetivos aqui. Só depois pensar em ir para fora.
7) O que já conseguiu com o trabalho no futebol?
Já consegui comprar a casa para o meu pai. Quero que toda a minha família saia do aluguel. Se possível, trazer todo mundo para morar junto comigo.
PERFIL
Richarlison de Andrade
Posição: atacante
Data de nascimento: 10/5/97
Naturalidade: Nova Venécia (ES)
Altura e peso: 1,79m e 72 kg
Chuteira: 42
Pé preferencial: direito
2015 (profissional)
21 jogos, 8 gols e 3 assistências
– Vice-artilheiro do Coelho na Série B, abaixo apenas de Marcelo Toscano, que marcou 13 gols
– Fez gol na estreia como profissional, em 4 de julho. O América venceu o Mogi Mirim por 3 a 1, no Independência, pela 10ª rodada da Série B
Contratos
Prazo de vínculo com o América: junho de 2018
R$ 10 milhões
é a multa rescisória para clubes do Brasil e 20 milhões de euros para os do exterior
Ele em números...
39 finalizações
20 certas
19 erradas
51,3% aproveitamento
Caçado em campo...
60 faltas recebidas
(1º no América e 9º na Série B)
Média de 2,8 por jogo
Fonte: Footstats
Líder no ranking de artilheiros com idade olímpica no Brasileiro
1º) Richarlison (18 anos) – 21 jogos e 8 gols pelo América (Série B)
2º) Luan (22 anos) – 28 jogos e 8 gols pelo Grêmio (Série A)
3º) Gabriel (19 anos) – 31 jogos e 8 gols pelo Santos (Série A)
4º) Erik (21 anos) – 21 jogos e 7 gols pelo Goiás (Série A)
5º) Biro Biro (20 anos) – 26 jogos e 7 gols pela Ponte Preta (Série A)
6º) Neílton (21 anos) – 13 jogos e 6 gols pelo Botafogo (Série B)
7º) Rivaldinho (20 anos) – 20 jogos e 6 gols pelo Mogi Mirim (Série B)
8º) Brenner (20 anos) – 20 jogos e 6 gols pelo Juventude (Série C)
9º) Valdívia (21 anos) – 25 jogos e 6 gols pelo Internacional (Série A)
10º) Vitinho (22 anos) – 28 jogos e 6 gols pelo Internacional (Série A)
Fonte: Winning, empresa de comunicação que assessora o jogador
