AMÉRICA
Orçado em cerca de R$ 15 mi, 'Planeta América' é o grande sonho de consumo da diretoria
Reforma do CT Lanna Drumond integrará categorias de base e elenco profissional. Conselho trabalha para concretizar projeto de modernização do espaço até 2020
postado em 14/12/2014 08:00 / atualizado em 14/12/2014 12:53
Com orçamento anual de R$ 24 milhões, quantia muito inferior aos dos grandes do futebol brasileiro, o América trabalha algumas melhorias em sua estrutura interna para tentar depender menos de empréstimos e formar bons jogadores. O grande sonho da diretoria foi apresentado durante as eleições do novo conselho de administração, na última quinta-feira, na sede do Boulevard Shopping, em Belo Horizonte. A ampliação do CT Lanna Drumond virará realidade em breve e custará entre R$ 12 e R$ 15 milhões. Quem coordenou a criação do projeto foram os presidentes Olimpio Naves e José Flávio Lanna Drumond, ambos de saída da diretoria. Teodomiro Braga sugeriu o nome: “Planeta América”, que abrigará departamento profissional e categorias de base em um só lugar.
Ocupando um espaço de 150 mil metros quadrados, o Planeta América terá nove campos (seis em tamanho oficial), um pequeno estádio que caberá cerca de 500 torcedores, hotel do elenco profissional, alojamentos das categorias de base, piscinas, quadras poliesportivas, salas de musculação e um parque aquático destinado a sócios do clube, já que o antigo Centro de Lazer do América Mineiro, no Bairro Ouro Preto, na Pampulha, dará lugar a condomínios residenciais. Para juntar recursos e iniciar as obras, o Coelho pretende permutar alguns patrimônios, como o terreno de Três Barras, em Contagem, e o CT de Santa Luzia, atual residência das equipes sub-15 e sub-17.
“As dificuldades para manter dois CTs distintos, longe um do outro, são grandes e injustificáveis. Por isto, estamos preparando a transferência das categorias de base para a Pampulha, no terreno vizinho ao CT Lana Drumond”, diz Olimpio Naves, um dos autores do projeto, em entrevista exclusiva ao Superesportes. De acordo com Naves, que deixará o cargo de diretor de patrimônio do América, até 2020 o projeto estará totalmente concluído. “Entre um e dois anos devem entrar recursos. Existe possibilidade de tentarmos adiantar alguma permuta. Mas dentro de três anos teremos muita coisa em funcionamento. Talvez em cinco chegue àquilo que a gente deseja”, acrescenta o agora ex-presidente.
Recentemente, o CT Lanna Drumond passou por algumas reformas. A grama do campo principal foi trocada por uma espécie idêntica à de Mineirão e Independência. Nos outros três campos, a qualidade do relvado ainda é inferior. No espaço, foram construídas salas administrativas, de musculação e fisioterapia. A portaria do CT também foi modernizada. No entanto, o clube segue batalhando recursos para deixar sua casa no mesmo nível às dos rivais Cruzeiro e Atlético e de equipes do futebol europeu.
Entrevista com Olimpio Naves, um dos responsáveis pelo projeto “Planeta América”
Há quase três anos, você escreveu uma carta aos colegas do conselho de administração indicando as intervenções a serem feitas para a construção de uma boa base. O que foi realizado nesse período?
Muita coisa. Embora a burocracia e outras pedras do caminho insistam em impedir um ritmo mais forte nos processos, não são capazes de nos tirar dos objetivos. Creio que dentro de um ou dois anos, o América já poderá ter o início da entrada de recursos. Enquanto isto nós vamos aperfeiçoando as ideias e elaborando os projetos.
Qual o custo total do projeto?
O custo estimado está entre 12 a 15 milhões de reais. O valor exato nós teremos quando for fechado o completo detalhamento de todas as instalações e equipamentos a serem implantados.
Depois de pronto, o “Planeta América” fará frente aos principais centros de treinamento do país?
Sem nenhuma dúvida. Pouquíssimos clubes no Brasil possuem a estrutura que está sendo projetada para o América.
Falando em base, o CT Santa Luzia é distante. Há relatos de que o lugar não é muito bem cuidado. É verdade?
As dificuldades para manter dois CTs distintos, longe um do outro, são grandes e injustificáveis. Por isto, estamos preparando a transferência das categorias de base para a Pampulha, no terreno vizinho ao CT Lana Drumond.
Qual o projeto para o CT de Santa Luzia? Demolir? Vender? Reformar?
Vender não! A valorização que está prestes a acontecer naquele terreno, com a implantação do Rodoanel, será espetacular. Ele passará a cerca de 800 metros do local. Não vejo nenhuma razão para tomarmos qualquer decisão precipitada. Pode-se, durante este período, por exemplo, fazer convênios com a Prefeitura, empresas, etc., para, pelo menos, arrecadar alguma verba para manutenção, IPTU, ou estudar propostas de uso que possam ser interessantes.
Você, como autor do projeto de reforma do CT, acompanhará de perto o andamento das obras mesmo não fazendo mais parte do conselho do clube?
Primeiro, é fundamental destacar que não é um trabalho só meu, mas de todo o grupo. Há poucos meses, foi formada uma comissão, da qual participaram o Afonso Celso Raso, o Teodomiro Braga, o Paulo Lasmar, o José Flávio Lanna Drumond e eu, além do Alexandre Faria, incansável na coordenação de tudo. O objetivo era dar uma arrancada final neste assunto, a fim fecharmos este mandato com um material interessante e consistente. Para isto, contamos, mais uma vez, com a inestimável contribuição da arquiteta e urbanista Ângela Evangelista (esposa do Paulo Lasmar), que, sem nenhum custo para o clube, e juntamente com as arquitetas Cláudia Cerqueira e Telma Stumpf, da sua equipe, elaborou toda a concepção do Planeta América, nome muito bem sugerido pelo Teodomiro, para batizar todo o complexo.
O que haverá no Planeta América?
O Planeta América, com área total de cerca de 150 mil metros quadrados, ao lado do Jardim Zoológico e a 800 metros da Lagoa da Pampulha, abrigará, além do atual CT Lana Drumond, um moderno e completo CT para as categorias de base; um alojamento para 100 atletas da base do clube; outro alojamento, para receber 50 garotos do exterior, que venham fazer estágio no América, gerando excelente receita; um pequeno estádio para jogos da base e um clube social; e, mais, estruturas para as áreas médica e odontológica, salas de aula..., enfim, tudo o que for necessário para que seja criado o que estamos chamando de Centro de Excelência Para Formação de Atletas.
Finalmente, é preciso destacar o belíssimo projeto do hotel para os profissionais, elaborado pelo competente arquiteto Márcio Coscarelli, e mais uma brilhante iniciativa do Marcus Salum, que sempre sonhou com esta possibilidade e fez questão de deixar esta contribuição antes de sua saída.
De onde virão os recursos para a obra e para a manutenção?
Um projeto como este vai, desde a definição de qual é o caminho que o clube quer tomar, para, definitivamente, se consolidar como um dos maiores times de futebol do país, até o resultado final, que se espera alcançar, passando pela indicação de qual deverá ser a origem da receita, tanto para a construção, como para a manutenção posterior de toda esta estrutura.
A reflexão sobre isto nos fez sugerir a negociação de imóveis que não geravam renda e só davam despesas, fazendo com que pudessem ser transformados em ativos que viabilizem o processo. Definimos, então, que seriam negociados os terrenos do clube da Pampulha (CLAM) e de seu estacionamento, mais a área de Três Barras. A receita, obrigatoriamente, deverá ser usada para a construção do Planeta América e para a compra de imóveis, que possam ser alugados e gerar uma renda fixa, exatamente para suprir todas as despesas oriundas da manutenção.
Fizemos constar na nossa proposta a obrigação de que todo o processo seja acompanhado por um grupo de conselheiros e por uma empresa de auditoria externa, de reconhecida competência, todos a serem indicados pelo conselho deliberativo. Este conselho, então, tomou conhecimento de todos os detalhes da proposta e, então, aprovou-a por unanimidade.
Qual a previsão para conclusão?
Entre um e dois anos devem entrar recursos. Existe possibilidade de tentarmos adiantar alguma permuta. Mas dentro de três anos teremos muita coisa em funcionamento. Talvez em cinco chegue àquilo que a gente deseja.
Um possível acesso à elite de 2016 (aumentaria receita, patrocínio, cota de TV) poderia acelerar o projeto?
Tudo foi projetado para acontecer, independentemente do desempenho da equipe de futebol, mas, obviamente, estar na Série A traz uma energia ainda maior.
O que você acha da atual base do América?
Acho que, dentro das condições que existem atualmente, o resultado tem sido muito bom. O trabalho, muito bem iniciado pelo Magnus Lívio, levou o clube a ser campeão brasileiro, revelando vários atletas. Na sequência, com algumas alterações na equipe de trabalho, os resultados continuaram acontecendo, com títulos importantes, como a recente Taça BH de Juniores, e a revelação de outros tantos atletas, que deverão ter muitas oportunidades daqui para frente.
E os profissionais que lá trabalham? Haverá algum tipo de capacitação?
Isto faz parte dos nossos planos, mas os detalhes de como irá acontecer serão definidos, evidentemente, pelo novo conselho de administração.
Foi discutido com Givanildo Oliveira um aproveitamento maior da base em 2015?
Novamente, este é um assunto para o novo conselho, mas, pelas conversas das quais participei, tudo indica que sim.
Sobre finanças, por que um clube que tem entre R$ 300 e 500 milhões em patrimônio consegue arrecadar não mais que R$ 24 milhões numa temporada?
Porque ter patrimônio, por si só, não significa ter receita. É preciso criatividade, para fazer com que ele gere renda. E é exatamente isto que estamos tentando fazer.
Em sua opinião, o que ainda falta ao América para se tornar um clube totalmente estruturado e com condições de subir e permanecer na Série A? É um processo demorado?
Não acho que seja rápido, mas é preciso iniciar o processo. Além disto, é indispensável que todos estejam em consenso sobre quais são os objetivos e quais são os caminhos que trilharemos para chegar lá. Não é possível que se mude isto a cada nova gestão ou a cada momento bom ou ruim do time de futebol. Com todos unidos – Diretoria, Conselhos, funcionários e torcedores – e com muita obstinação, o resultado virá, não tenho a menor dúvida.
Gostaria que falasse dos motivos de ter deixado o conselho (poderia se eleger mais uma vez) e como você avalia a atual bancada.
Sobre minha saída, acho que é uma coisa natural. Eu quis sair, até por uma questão de coerência. Sempre fui grande defensor de renovação e acho que o entusiasmo das pessoas que estão chegando, somado às reconhecidas competências de Francisco Santiago, Paulo Lasmar, Alencar da Silveira e Teodomiro Braga, os companheiros que continuarão, farão com que o América dê mais um fantástico salto de qualidade em sua busca pelo sucesso definitivo.
Aproveito para, de público, fazer um grande agradecimento a todos – diretores, funcionários, torcedores, imprensa – que me acolheram com tanto carinho e respeito, durante todo este período. Foi muito gratificante esta convivência. Volto feliz para a arquibancada. Grande abraço a todos!!