América
None

FUTEBOL DE BASE

'Rumo ao estrelato': atletas no último ano de júnior encaram 'chance da vida' no América

Jogadores nascidos em 1994 querem mostrar serviço para subirem ao profissional

postado em 10/07/2014 10:11 / atualizado em 10/07/2014 19:27

Rafael Arruda /Superesportes

Rafael Arruda/Superesportes

O futebol pode levar um indivíduo ao patamar de ídolo mundial e contribuir para sua independência financeira. Pode dar status, ótimas condições de vida, dinheiro, carros importados, luxo e conforto. Pode consagrar por décadas e, quem sabe, séculos. Todo mundo vê as possibilidades de crescimento que o esporte mais praticado no mundo oferece. Contudo, poucos têm conhecimento acerca das dificuldades encontradas no meio do caminho. Os percalços, as barreiras, as portas fechadas, os fracassos, as negativas. Nada cai do céu, não é?! Com esse pensamento, os jogadores nascidos em 1994 tentam conquistar um lugar no elenco profissional do América. Eles estão na última temporada com idade de júnior. A partir de 2015, não podem mais disputar competições de categorias de base. Sem dúvidas, é a grande chance da carreira de todos.

O técnico Marco Antônio Milagres tem 39 jogadores à disposição no elenco sub-20 do América. Destes, 13 nasceram em 1994. Grande parte aparece como titular nas partidas, casos do lateral-direito Marcelinho; os zagueiros Williams e Messias; o volante David Silva, os armadores Guilherme Xavier, Patrick Allan e Renatinho, e o atacante Bruno Sávio. Nascidos em 1995 e 1996, os mais novos pegam experiência aos poucos. Na temporada, o clube alviverde foi eliminado nas oitavas de final da Copa São Paulo de Futebol Júnior para o Paraná Clube. Rubens, artilheiro da equipe na competição com sete gols, treina entre os profissionais, mas segue sem jogar. O Coelhinho ainda terá em 2014 a Taça BH de Futebol Júnior, o hexagonal final do Campeonato Mineiro e a Copa do Brasil.

E o que pensam os jogadores da base? Quais as pretensões para o restante do ano? Uma sequência de bons resultados pode abrir os olhos de quem comanda o futebol profissional? A reportagem do Superesportes conversou com cinco atletas do grupo americano: Messias, Patrick, David Silva, Bruno Sávio e Williams. Eles foram até o Parque Ecológico da Pampulha, perto do CT Lanna Drumond, aonde contaram histórias, traçaram objetivos e alimentaram sonhos. As boas risadas ao longo do bate-papo de aproximadamente 50 minutos deixam transparecer união e amizade entre os garotos. E renderão outros registros.

“Nós enfrentaremos este último com tudo. Cada um sabe que tem a chance da vida. No meu caso, por exemplo, cheguei a desistir por um tempo. Parei de jogar, trabalhei com outra coisa e fiz parte de times amadores. Mas vi que tinha condições de voltar. Agora estou aqui, me preparando durante a intertemporada. Trabalhando duro e cuidando da parte física. Queremos chegar fortes em todos os torneios que disputaremos até o fim do ano”, comenta o atacante Bruno Sávio, que completará 20 anos em agosto e tem contrato em vigor até dezembro. Ele marcou um gol na Copa São Paulo e sete no Estadual.

Portre Imagens



Outro que segue com futuro incerto é o zagueiro Williams. Embora seja novo, o jogador se mostra muito maduro com as palavras. Natural de Araxá, ele fez parte dos elencos de base do Cruzeiro por quase seis anos. Passou também pelo futebol japonês, no qual disputou três partidas na J-League 2 vestindo a camisa do Fujieda MYFC (atualmente na Terceira Divisão). O atleta tem vínculo com o Coelho até setembro e ainda não recebeu propostas para renovação. Nem por isso deixa de fazer seu papel dentro de campo: já marcou três gols em 11 jogos no Campeonato Mineiro.

“Temos um ambiente muito agradável no elenco. Formamos uma família. Isso é importante, pois muitos têm que sair de outras cidades e até mesmo estados. Ficam longe dos pais, parentes e amigos. No clube, a gente criou este laço”, conta o jovem defensor a respeito do convívio com os colegas. Sobre as competições em jogo, a confiança segue em alta. “É a nossa chance. Não só o Mineiro, mas também a Taça BH e a Copa do Brasil. Oportunidade de atuar bem, conseguir se destacar e prorrogar o contrato. Quem sabe chegar ao profissional, né?!”, observa.

Campanha arrasadora no Estadual

É verdade que América, Atlético e Cruzeiro são os clubes que oferecem as melhores condições para as categorias de base no futebol mineiro. Campos de treino em ótimas condições, moradia, alimentação e acompanhamento médico. Logo, torna-se um dever fazer boas apresentações no Estadual. Até o momento, o Coelhinho cumpre sua missão da melhor forma possível: é o único invicto até aqui. Na primeira fase foram 12 jogos, com 11 vitórias e apenas um empate. Renatinho lidera o ranking de artilheiros: fez 14 gols. Na terceira posição aparece Patrick Allan, que marcou nove. Apesar de ser armador, ele mostra boa capacidade de finalização. E revela o segredo.

“Um dos meus fortes é a finalização. Além disso, estou jogando mais à frente. Fruto de um trabalho forte no qual o professor (Milagres) sempre pega em nosso pé e mostra como tem que fazer. Procuro ouvir bastante. Logo, sai naturalmente nos jogos”, relata o baixinho de apenas 1,68m, cuja aparência se assemelha bastante à do armador Jádson, atualmente no Corinthians e com passagens pela Seleção Brasileira.

Se por um lado o “pequeno” Patrick se sobressai em baixo, por outro o “muro” Messias é o grande destaque nas bolas aéreas tanto defensivas quanto ofensivas. Ele utilizou a cabeça para marcar quatro gols neste Campeonato Mineiro. Além disso, o jogador também já serviu de garçom, contribuindo com assistência (veja o vídeo abaixo).




“Pela primeira fase que a gente fez, a confiança está em alta. A primeira fase foi mais tranquila, porém agora a tendência é dificultar no hexagonal final (Campeonato Mineiro). Tenho esse ponto forte na bola aérea e espero continuar ajudando a equipe não só no Mineiro, mas também nas outras competições”, planeja o zagueiro de 1,90m.

O hexagonal final do Campeonato Mineiro terá início em 6 de setembro, logo depois da Taça BH de Futebol Júnior. O América enfrentará o Araxá no Estádio Fausto Alvim, às 15h. Os outros dois jogos da rodada são entre Villa Nova e Cruzeiro, no Castor Cifuentes; e AMDH e Atlético, em Florestal. A equipe alviverde tentará seu 18º título na história da competição disputada desde 1943.

Sonhos dos garotos, exemplos para o clube

Qual jogador a ponto de ingressar no profissional de uma equipe não carrega o sonho de, um dia, atuar no futebol europeu? Quem não se imagina ao lado de craques como Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar, James Rodríguez, Thomas Muller, Robben, entre outros? Está para nascer tal indivíduo. Hoje, é o sonho de todo jovem entusiasta do futebol.

Um volante da base do Coelho traça o plano. Ou melhor, o sonho. Ousado, David Silva crava: “Tenho o pensamento de estar num grande clube da Europa daqui a pelo menos quatro anos”, conta o natural de Ji-Paraná (RO) e apelidado pelos colegas de “Paulinho”. Realmente, o camisa 5 da equipe júnior do América lembra um pouco o volante da Seleção Brasileira na aparência. Mas a inspiração dentro dos gramados vem do futebol italiano. “Espelho-me muito no Pirlo. Não tenho estilo de jogo semelhante, mas gosto de vê-lo jogar e até tento pegar algumas coisas, como tranquilidade, liderança e visão dentro de campo”, comenta.

Jonathan Xavier/Assessoria P2



O sonho de David não é para sofrer descréditos. Muito pelo contrário. Basta analisar as histórias do lateral Evanílson (1998), o atacante Fred (2002) e o versátil Danilo (2009), que atua nas alas e no meio. Revelados pelas categorias de base do América, os três foram para a Europa com no máximo dois anos de carreira. Defenderam – ou defendem –, respectivamente, Borussia Dortmund, Lyon e Porto.

Destes, Danilo foi o que mais rendeu dinheiro aos cofres americanos. A primeira venda, em 2010, custou ao Santos R$ 1,3 milhões referentes a 70% dos direitos econômicos. O Coelho segurou 25% e faturou cerca de R$ 7 milhões quando o Peixe o negociou com o Porto por 13 milhões de euros, na metade de 2011. Outro grande exemplo é o goleiro Matheus, vendido por cerca de 1 milhão de euros (R$ 3,03 milhões) para um grupo de investidores ligado ao Sporting Braga, de Portugal. As crias da base do Coelho geraram receitas.

Mas é preciso ter cuidado. Há pouco mais de uma década, o então garoto Michel Bastos se destacou em um torneio na Holanda vestindo a camisa do América. Como a competição era amigável e o jogador não tinha contrato assinado, o Coelho acabou perdendo-o a custo zero. Em 2010, ele foi o titular da Seleção Brasileira na Copa do Mundo disputada na África do Sul. Também defendeu Lille-FRA, Lyon, Schalke 04 e Roma.

Time campeão brasileiro mal aproveitado

Matheus; Jaílson (Diego), Lula, Anderson Santos e Bené; China, Washington, Júnior Lemos e Kaio; Ygor (Taylor) e Flávio (Hindian). Era o time escalado por Milagres no dia 20 de dezembro de 2011, em Porto Alegre, na decisão do Campeonato Brasileiro Sub-20. O Coelho virou sobre o Fluminense por 2 a 1 e conquistou o título. Contudo, o único atleta do grupo que se firmou na equipe foi o goleiro Matheus. Lula até teve boas oportunidades, mas não agarrou. Kaio foi prejudicado por lesões que o afastaram do futebol por quase um ano. Júnior Lemos tenta um improviso na lateral direita, enquanto China caminha para a despedida da equipe (contrato vence em setembro). Garotos que, se trabalhados com mais cautela, poderiam aumentar as arrecadações do balanço financeiro anual do América, meio “enxuto” com R$ 21,17 milhões em receitas no ano de 2013.

Os atletas entrevistados nesta matéria chegarão ao elenco profissional prontos para assumirem a responsabilidade? Difícil prever. Talvez precisem de ritmo de jogo e suporte junto aos mais experientes. E se um clube feito o América, que tanto reclama da disparidade orçamentária não somente a favor de Cruzeiro e Atlético, mas também de várias agremiações da Série B do Campeonato Brasileiro, olhar com mais atenção para a base? A tendência é colher bons frutos, assim como ocorreu em outras oportunidades Do contrário, a cúpula continuará gastando dinheiro com atletas de fora que também estão em formação e não dão retorno algum dentro de campo. Simples assim.

REUTERS/Miguel Vidal
 

Tags: america sub20 categorias de base jogadores promessas