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ENTREVISTA

Alvo de clube da Europa, Matheus se espelha em irmão mais velho e mantém foco no América

Goleiro se diz concentrado no futebol e cita participação da família como alicerce

postado em 13/06/2014 08:15 / atualizado em 13/06/2014 12:04

Rafael Arruda /Superesportes

Rafael Arruda/Superesportes

Muitos pais têm o sonho de ver um filho se tornar jogador profissional. Mesmo que o guri não apresente tanto talento com a bola nos pés, há aquela pontinha de esperança de que treinos em uma escolinha poderão auxiliá-lo. Com o tempo, a dificuldade vai aumentando e as portas ficam estreitas. Entram poucos, saem muitos. Quiseram os deuses do esporte bretão que da união do casal Ricardo e Jacilene saísse um talento. Aliás, dois. Isso mesmo, talento em dose dupla. Os irmãos Moisés e Matheus superaram as barreiras impostas pelo futebol e driblaram as concorrências na caminhada rumo ao sucesso. O primeiro tinha qualidade para conduzir a equipe no meio-campo. O segundo, sem habilidade na linha, foi parar no gol. Ambos são formados nas categorias de base do América. Em conversa com os dois atletas, o Superesportes conta parte dessa história pouco comum no esporte.

União é a palavra de ordem na relação entre irmãos. Moisés, de 26 anos, sempre procura orientar o caçula Matheus, de apenas 22. Recentemente, o goleiro vem sendo fortemente sondado pelo Sporting Braga, de Portugal, que busca um substituto para o experiente Eduardo, transferido a custo zero para o Dínamo Zagreb, da Croácia. A experiência do primogênito no futebol - já passou por oito clubes, entre eles Coritiba, Sport Recife, Boa Esporte, Portuguesa e o atual HNK Rijeka - fala mais alto. O mais novo ouve tudo com calma e procura seguir as orientações.

Moisés, que pode trocar o futebol croata pelo Hellas Verona-ITA na temporada 2014/2015, dá dicas e faz elogios a Matheus. “O principal é ter foco. Se você tem foco, passa por cima das dificuldades. Esse problema, o Matheus não terá. Independentemente se a proposta acontecer agora ou daqui dois anos. Poucos sabem o que ele faz durante os treinos. Chega uma hora antes de todo mundo e sai depois. É um menino que pensa grande e tem pretensões. Quando você corre atrás dos sonhos, consegue alcançar. Ele faz tudo da maneira correta: segue trabalhando e deixa as pessoas responsáveis por cuidar disso resolverem”, observa o volante, enaltecendo o comprometimento do goleiro com o Coelho.

Por sua vez, Matheus não esconde o contentamento em ser alvo de uma equipe da Europa. Para o goleiro, é a valorização do trabalho, que começou desde as divisões de base, em 2007. “Fico feliz por isso. É bom saber que equipes grandes como o Braga observam suas qualidades. Soube da proposta inicial, de 500 mil euros. Mas ressalto que minha cabeça está focada no América. Quero levar o clube à Série A”, ressalta.

O América começou a Série B de maneira avassaladora, com cinco vitórias nos seis primeiros jogos. No entanto, uma sequência ruim de resultados – um empate e três derrotas – fez os comandados de Moacir Júnior caírem para a quarta colocação. O G-4 ainda é realidade, mas estará fortemente ameaçado após a paralisação da Copa do Mundo. Disposto a ajudar a equipe, Matheus quer superar as falhas cometidas nos reveses para Atlético-GO, 3 a 0, e Náutico, 3 a 1.

“Essa parada foi fundamental para todos. Infelizmente o time vem de três resultados negativos. Mas isso serve de motivação, crescimento, aprendizado e amadurecimento. Foi a primeira vez que aconteceu. E podíamos errar, pois tínhamos gordura. As falhas não abalarão minha carreira e nem o que eu já fiz de bom”, garante o arqueiro.

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press


O começo

Antes de jogar no América, Matheus defendia a equipe infantil do Villa Nova. Justamente no período em que o irmão mais velho alcançava vaga no profissional do América. Moisés enxergava as qualidades do caçula desde os tempos de golzinho marcado com chinelos na rua de casa. “Lembro bem das peladas. Eu falava com ele (Matheus): ‘fica no gol que eu vou chutar em você’. E assim tudo começou até chegar ao profissional hoje”, conta Moisés, que, na sequência, recebe o reconhecimento do irmão.

“O papel dele foi fundamental. Dele, do meu pai e da minha mãe. Desde pequeno, eu colocava o chinelo na rua pra marcar a trave e ficava no gol. Jogava com os mais velhos, não tinha medo. Ele incentivou e eu fui pegando o gosto. Graças a Deus consegui me tornar um jogador profissional”, responde o goleiro.

Matheus chegou a tentar a sorte como zagueiro. Nas peladas, porém, era o último a ser escolhido quando ousava jogar na linha. Não tinha muita técnica. Logo, o garoto alto e magro foi recuando até chegar ao gol. Deu certo. Já são 65 partidas pelo time profissional do Coelho. Mas foi na base que veio a conquista mais importante: o Campeonato Brasileiro Sub-20 de 2011.

“Aquela conquista foi marcante. Não tenho dúvidas de que me ajudou bastante a chegar ao profissional. Bons resultados na base te dão visibilidade. Não fui diferente”, lembrou.

Apesar de Matheus jogar como goleiro, Moisés faz elogios às qualidades do irmão na linha. “Até que ele está bem como centroavante nas peladas de fim de ano da família”, brinca o meio-campista.

A família

Carlos Cruz/América FC
Se hoje Moisés e Matheus levam vidas confortáveis, os agradecimentos têm de ser direcionados aos pais Ricardo e Jacilene. O casal sempre incentivou os filhos a jogar futebol. O pai, um entusiasta da várzea, dava alguns “puxões de orelha” no mais velho. Tudo com a intenção de fazê-lo aprimorar e evoluir. “Hoje é mais tranquilo. Mas no começo ele pegava no pé e criticava os erros. Ele jogou na posição, não como profissional, mas sempre estava em campo. Entendia um pouco da posição. E eu tive a humildade de escutar”, conta o camisa 88 do HNK Rijeka.

Durante o bate-papo na varanda, a reportagem foi convidada pelos jogadores a entrar na casa. Sala, copa e cozinha totalmente decoradas com quadros, recortes de jornais, camisas, luvas e troféus. Típica residência de boleiro. “A responsável por isso é a Dona Jacilene, que guarda tudo”, resume Matheus, referindo-se à mãe. Em um dos cômodos estava Ricardo Magalhães, o pai dos jogadores. Questionado sobre o fato de ter dois filhos profissionais de futebol, ele afirma. “É uma bênção de Deus. Não tem preço. Muitos pais que gostam do esporte sonham que apenas um consiga. E eu tenho dois. Somos abençoados”, conta Ricardo, demonstrando bastante orgulho.

Há alguns anos, porém, o futebol chegou a ser motivo de bronca por parte de Dona Jacilene. “Minha mãe ficava brava, pois jogávamos bola no quintal de casa e às vezes quebrávamos as coisas dela. Mas no fim acabou dando certo. Nós dois conseguimos. Tenho de agradecer primeiramente a Deus e depois aos meus pais e irmão, que me deram a tranquilidade necessária para continuar. Hoje sou o que sou graças a eles”, finaliza Matheus.

Matheus Lima Magalhães

Data de nascimento: 29 de março de 1992
Idade: 22 anos
Naturalidade: Belo Horizonte
Posição: Goleiro
Altura: 1,87m e 82 kg
Clube: América (2007 a 2014)
Título: Campeonato Brasileiro Sub-20 (2011)


Tags: europa proposta irmãos moisés américa matheus clube