No último domingo, o Atlético goleou o Tupynambás por 5 a 0, em jogo válido pela segunda rodada do Campeonato Mineiro Masculino. Apesar do placar elástico, a partida gerou polêmica fora das quatro linhas. Isso porque seis atletas da equipe profissional feminina atuaram como gandulas no jogo. A ação dividiu opiniões dos torcedores nas redes sociais.
A discussão entre os internautas começou quando o jornalista Henrique André, do jornal Hoje em Dia, registrou, em seu Twitter, a presença das jogadoras na partida para trabalhar como repositoras de bolas.
A discussão entre os internautas começou quando o jornalista Henrique André, do jornal Hoje em Dia, registrou, em seu Twitter, a presença das jogadoras na partida para trabalhar como repositoras de bolas.
Indicadas pelo técnico do time feminino, Hoffmann Túlio, as jogadoras receberam R$ 90 pela função na partida da equipe principal masculina. Segundo o clube, a ação foi feita para dar uma oportunidade a mais de trabalho para as atletas.
“Os atletas do (masculino) sub-20 eram os (gandulas) titulares e, nesta temporada, o clube optou por dividir as vagas. O Atlético está igualmente oportunizando homens e mulheres”, posicionou-se Nina Abreu, coordenadora do departamento de futebol feminino.
Uma das seis jogadoras a trabalhar na partida, Emily defendeu a ação proporcionada pelo Atlético. Para ela, o clube deu uma oportunidade de conseguir uma renda extra e, também, de se aproximar da torcida.
"O Hoffman (Túlio, treinador do feminino) selecionou seis atletas falando que a gente receberia uma ajuda, sem obrigar ninguém. Eu aceitei e confesso que foi mais pelo dinheiro, porque não convém comparar o salário do masculino com o do feminino. Qualquer ajuda que vier de fora, principalmente para mim que vem da base, é importante. Além disso, foi uma oportunidade para sentir um pouco da pressão e da motivação da torcida", ponderou a atleta.
A categoria feminina vive uma outra realidade financeira no esporte. No ano passado, o orçamento destinado ao departamento de futebol feminino do Atlético correspondia a R$ 1,5 milhão anual. O clube ainda não divulgou o valor para a temporada 2020.
"Em relação ao salário, o futebol feminino tem que crescer muito. Como eu vim da base, minha folha salarial era muito baixa e eu penso que o que vier de extra é importante. Eu fiz pela experiência e não é o Atlético que está pagando menos, mas é o futebol feminino que não é tão valorizado. Se pegar a folha do Atlético, dá para ver que é a média das grandes equipes e acima de muitas outras menores e de várzea", disse Emily.
Na tarde desta segunda-feira, o vice-presidente Lásaro Cândido da Cunha conversou com as atletas sobre o ocorrido e para alertar as atletas para o uso das redes sociais. "Hoje, a gente teve uma palestra com o Lásaro (Cunha) para a gente ficar atenta às redes sociais, com opiniões contrárias às nossas como foram os casos das repercussões. O intuito deles foi mesmo de nos ajudar", completou a jogadora.
Visão de especialistas
A ação adotada pelo clube dividiu opiniões nas redes sociais. O Superesportes ouviu especialistas da área de esportes para analisar a conduta adotada pelo Atlético.
"Eu quero sair do lugar de vitimização e olhar como o Atlético está se posicionando. Se você não questiona como seu clube olha para suas atletas, você está jogando para debaixo do tapete coisas que não se podem ignorar. Dar oportunidades para as jogadoras é dar condições para elas se desenvolverem profissionalmente. Colocar elas de gandulas não é dar condições para isso", comentou Marina de Mattos, psicóloga e pesquisadora no Grupo de Estudos sobre Futebol e Torcidas da UFMG.
Mestre em Estudos do Lazer pela UFMG, Luíza Aguiar acredita que a necessidade em se ter uma remuneração extra evidencia o "semiprofissionalismo" da categoria.
"O fato de elas necessitarem essa remuneração extra indica um semiprofissionalismo da modalidade. Eu não tenho conhecimento exato do quanto as jogadoras estão recebendo, mas para elas estarem buscando outros rendimentos, eu imagino que não seja uma maravilha. A questão é dar condições razoáveis, serem remuneradas adequadamente para terem condições de se sustentarem de forma devida", disse Luíza.
Mestranda em história do esporte pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), Renata Lemos acha que o episódio pode fazer o clube repensar como as mulheres devem, de fato, ser valorizadas: como atletas. “O Atlético fez uma tentativa de incluir as meninas, mas acredito que é preciso valorizar o futebol feminino enquanto atletas e não entender que elas têm um salário baixo e tentar compensar isso de outra forma”.
“A atitude do Atlético não seria necessária se a modalidade fosse olhada de forma mais carinhosa. As condições da modalidade deveriam ser melhores já que passou a existir a partir de uma obrigatoriedade imposta pela CBF e pela Conmebol aos clubes”, lembrou Renata Lemos, entusiasta do futebol feminino.
Nina Abreu, coordenadora do departamento de futebol feminino do Atlético, informou à reportagem que as jogadoras continuarão a revezar com os atletas de base na função de gandula dos jogos do time profissional masculino.
Nina Abreu, coordenadora do departamento de futebol feminino do Atlético, informou à reportagem que as jogadoras continuarão a revezar com os atletas de base na função de gandula dos jogos do time profissional masculino.