O jogo final da Taça Brasil teve transmissão direta pela TV Itacolomi, o que não era comum para a época. Mas essa era uma decisão que poderia dar ao futebol mineiro sua maior conquista – maior até que a da Seleção Mineira, campeã do Brasil em 1963 –, principalmente porque seria sobre o Santos, de Pelé. Os televisores eram poucos em BH. A narração foi de Fernando Sasso, com Ronan Ramos como repórter de campo. A maioria iria acompanhar a grande final pelo rádio. Jota Júnior era o locutor da Rádio Guarani, emissora que rivalizava com a equipe de Jairo Anatólio Lima, da Inconfidência.
E entre os muitos torcedores que estavam com o ouvido colado no rádio havia uma em especial: Delila Almeida do Patrocínio. Ela acaba de completar 103 anos e seu presente foi se encontrar, no Mineirão, onde nunca havia estado, com seis campeões de 66. Um sonho que demorou 50 anos para ser realizado.
Dona Delila conta que vivia em Governador Valadares: “Lá, só se falava em futebol do Rio, pois o rádio só pegava emissoras cariocas. Mas meu marido veio trabalhar em Belo Horizonte e nos mudamos pra cá. Eu já tinha simpatia, apesar de tudo, pelo Cruzeiro. Desde o Palestra Itália, quando era pequena. Pois aí, virei torcedora mesmo. Não ia pro campo, mas acompanhava todos os jogos pelo radinho de pilha”.
Ela chega, acompanhada da filha, Sílvia, e vai se sentar numa cadeira. Antes, brinca: “Eu só tenho velhice, mas não tenho doença”. E, enquanto diz isso, começam a chegar os jogadores. Primeiro, Natal e Neco. Seus olhos brilham. “Nossa, nem acredito. Vocês aqui. Olha o Natal, o Neco.” Ela ganha um presente do jogador Natal, um levantamento de sua carreira, com sua foto, que ele assina e passa a Neco para fazer o mesmo. Natal lhe dá de lembrança e, a cada jogador que chega, repete o gesto. “Ela merece ter nosso autógrafo”, diz Natal. Vem Evaldo e dona Delila está radiante: “Esse menino tinha até música quando marcava gol”.
Raul chega para alegrá-la ainda mais. “Nossa, sou fã do Fábio, mas o Raul foi o maior de todos”, diz. Dirceu Lopes e Procópio entram na sala quase juntos e ela dispara: “Dirceu Lopes era terrível. Era fantástico, maravilhoso. Que emoção”. Em seguida, ela se vira para Procópio e diz: “Menino, você cresceu demais. Tá muito alto”. Ela se fascina ainda mais ao tirar foto com os seis. “É um dia que jamais vou esquecer”, diz.