Cria das categorias de base do América, o atacante Bruno Sávio, de 27 anos, é um dos principais nomes do Bolívar, maior clube boliviano, no início da temporada 2022. Ele foi importante na classificação da equipe à segunda fase da Copa Libertadores, com vitórias sobre o Deportivo Lara, da Venezuela, por 3 a 2 (ida, em Barinas) e 4 a 0 (volta, em La Paz). Além de balançar a rede nas duas partidas, Sávio deu assistência para o gol do lateral-esquerdo José Sagredo no triunfo na Bolívia.
No Bolívar, Bruno Sávio é dirigido pelo técnico brasileiro Antônio Carlos Zago, campeão da Série B de 2019 pelo Bragantino e ex-jogador de São Paulo, Palmeiras, Corinthians, Roma e Seleção Brasileira. Outros compatriotas são o zagueiro César Martins, ex-Ponte Preta e Flamengo, e o atacante Francisco da Costa, o Chico, que começou no Athletico-PR, passou pelo Tombense e rodou por Venados, Atlante e Querétaro, do México, e Sol de América, do Paraguai, pelo qual anotou oito gols em 17 partidas em 2021.
A oportunidade de se transferir para o Bolívar, que tem o Grupo City como acionista, surgiu ao término da Série B de 2021, na qual Sávio marcou 11 gols e deu cinco assistências em 32 jogos pelo Guarani. Em entrevista ao Superesportes, o atacante explicou que as negociações se intensificaram a partir de conversa com Zago, responsável por apresentar o projeto do clube. O contrato inicial de um ano pode ser prorrogado por mais dois. Na resposta, Bruno enalteceu a grandeza do Bolívar e de sua torcida, bem como a estrutura de trabalho oferecida aos atletas.
“No fim do ano passado, quando acabou a Série B, não tive um acordo para seguir no Guarani e chegou essa possibilidade que foi amadurecendo com o tempo, pois tive uma conversa com o Zago (técnico) e ele me passou bastante confiança no projeto do clube. É um clube muito grande, o maior da Bolívia, tem muita torcida, muita história, é o maior campeão boliviano e conta com uma estrutura muito boa. Foi amadurecendo com o tempo e acabamos chegando a um acordo. Fiquei muito feliz de vir para cá. Quando cheguei, me surpreendi com a estrutura. O clube está construindo um centro de treinamento gigantesco e tem muitos torcedores. Além disso, encontrei um grupo de jogadores de muita qualidade, que é a base da Seleção Boliviana. Para mim foi muito legal conhecer e ter vindo para essa nova oportunidade”.
Antes dos dois gols sobre o Lara na Libertadores, Sávio emplacou um hat-trick na vitória por 7 a 0 em cima do Blooming, na estreia do Torneio “Apertura” do Campeonato Boliviano, em Santa Cruz de la Sierra (428 metros de altitude). O adversário entrou em campo com vários jovens, entre eles o goleiro Yassir Sánchez, de 16 anos e 1,70m de altura, em meio à lesão de Braulio Uraezaña, às participações de Kevin Medina e Fabricio Castillos na Libertadores sub-20 e ao “transfer ban” na Fifa que impediu o registro de José Peñarrieta. O camisa 11, que nada tem a ver com problemas alheios, comemorou os cinco tentos nas quatro primeiras apresentações e prometeu lutar para manter a boa média.
“Meus objetivos aqui são fazer muitos gols este ano, bons números, acho que será importante para a minha carreira. Venho em uma crescente desde quando estava no Guarani. Este ano pude começar bem novamente e estou tendo a oportunidade de jogar a Copa Libertadores. Fizemos dois jogos, e pude fazer gols nos dois jogos. Passamos da primeira fase e agora teremos um jogo muito importante contra a Universidad Católica do Equador. Espero que possamos chegar à fase de grupos, com uma visibilidade enorme. É o sonho de todo jogador sul-americano disputar uma Copa Libertadores”.
A ambientação de Bruno Sávio no Bolívar foi facilitada tanto pela presença de Zago no comando quanto por César Martins, que defende o clube desde 2021. No elenco blanqui y celeste há mais atletas de outras nacionalidades: o atacante argentino Patito Rodríguez, ex-Independiente, Estudiantes e Santos; e os espanhóis Alberto Guitián (zagueiro ex-Sporting Gijón, Valladolid e Real Zaragoza) e Álex Granell, (volante e ex-capitão do Girona, pelo qual disputou 233 partidas).
“É muito importante, pois o estilo de jogo que ele (Zago) gosta é o que estou acostumado. Isso facilita. Em relação aos jogadores brasileiros há o Chico e o César. Tem também o Patito, que é argentino, mas fala português. Estamos sempre juntos e nos entendemos bastante. É muito importante ter companheiros do mesmo país, sobretudo na chegada. O César me ajudou bastante no começo. Para a minha adaptação isso foi importante”.
Na Bolívia, Bruno Sávio se acostumou rapidamente aos 3.640 metros de altitude em La Paz, onde o Bolívar manda seus jogos no estádio Hernando Siles, com capacidade para 42 mil espectadores. Segundo ele, é comum que equipes visitantes lidem com alguma dificuldade causada pela diminuição da pressão do ar, uma vez que ficam por poucos dias na cidade, sem tempo hábil de adaptação.
“Tive um certo tempo para poder treinar na altitude antes de começar a jogar. Nessa semana fiz meu primeiro jogo oficial aqui, contra o Deportivo Lara, pelo jogo de volta da primeira fase da Copa Libertadores. Ganhamos de 4 a 0, fiz um gol, dei uma assistência, consegui jogar e correr bem. Foi muito bom. Creio que com o passar do tempo tende sempre a melhorar. Mas as pessoas que vêm jogar aqui sentem bastante a altitude. No começo é difícil mesmo, mas graças a Deus me adaptei bem”.
Bruno Sávio foi grande promessa da base do América ao marcar 9 gols na campanha do título da Taça BH de Futebol Júnior, em 2014. No ano seguinte, o atacante integrou o elenco profissional e recebeu chances com o técnico Givanildo Oliveira, mas não repetiu as atuações que o consagraram como artilheiro no júnior. Pelo time principal do Coelho, Sávio anotou quatro gols em 50 jogos (22 como titular) e fez parte do time que subiu à Primeira Divisão em 2015.
Na sequência da carreira, Bruno defendeu Mirassol, Bragantino e Cuiabá. Pelo clube de Mato Grosso, foi peça decisiva na campanha de acesso da Série C para a B, em 2018, ao balançar a rede no segundo jogo das quartas de final, contra o Atlético-AC (2 a 2). Ao todo, acumulou 7 gols em 29 partidas pelo Dourado. Ainda jogou no NK Istra 1961 (Croácia), no Avaí e no Guarani, onde cresceu profissionalmente. Em dois anos no clube de Campinas, marcou 15 gols e deu 11 assistências em 78 jogos. Ao fazer um balanço da trajetória profissional, Sávio atribuiu a evolução aos minutos em campo.
“Sou a mesma pessoa e o mesmo jogador, porém com tempo de jogo e confiança. As coisas mudaram por isso. Futebol é sequência. A partir do momento em que você tem sequência e a jogar sempre, tende a evoluir. Na época do Guarani, no começo do Paulista, não tive muitas chances como titular. Na Série B, pude aproveitar uma boa sequência e consegui fazer gols e dar assistências. Hoje comecei a temporada muito bem também, graças a Deus. Joguei três jogos como titular e entrei em um no segundo tempo. Tenho cinco gols e uma assistência. No meu primeiro jogo, estreei com um hat-trick. Estou feliz e me sentindo bem no time. Creio que 2022 será um bom ano, temos tudo para fazer uma grande temporada”.
Disputada por 16 equipes, a Primeira Divisão da Bolívia de 2022 está dividida entre os torneios “Apertura” e “Clausura”. Os vencedores serão considerados campeões nacionais. Também haverá a Copa Bolívia, com 95 clubes, e a Supercopa da Bolívia, entre os três ganhadores de torneios e o melhor classificado geral que não tenha levantado nenhum troféu. Sem definir uma meta individual de gols, Bruno Sávio frisou que o Bolívar precisa brigar por todos os títulos no país, além de ir o mais longe possível na Copa Libertadores.
“Não tenho meta estabelecida. É tentar fazer o máximo de gols e assistências e ajudar o time a ganhar sempre. Um clube do tamanho do Bolívar tem que brigar pelo título em todos os campeonatos locais, além de chegar o mais longe possível na Libertadores. É o objetivo desse ano, e creio que temos time para fazer isso. Estou animado com esse ano, minha expectativa está alta, e eu espero que a gente possa alcançar isso”.
Contente com o sucesso no Bolívar, Sávio diz que os planos é seguir jogando no exterior. “Creio que tenho um caminho fora do Brasil e espero segui-lo por um tempo. Mais à frente, caso surja uma situação interessante para voltar, aí sim. Mas agora não penso nisso. Estou com a cabeça aqui, focado em fazer um bom ano. Não penso no momento em voltar para o Brasil”.
A alegria no Bolívar é tão grande que Bruno Sávio já se estabeleceu no país com a esposa Luiza. O casal está à espera do primeiro filho, o pequeno Sávio, que nascerá em território boliviano. “Está bem sim. Tudo tranquilo. Vai nascer em La Paz, estamos felizes aqui. Moramos em um local muito bom, ela está tendo todo o suporte. O mais importante é estar feliz onde vivemos. A família estando bem, é o que importa”.
Maior campeão boliviano, com 29 títulos, o Bolívar também detém os resultados mais expressivos do país em competições internacionais. O clube foi vice-campeão da Copa Sul-Americana de 2004 (perdeu a final para o Boca Juniors, da Argentina) e semifinalista da Copa Libertadores de 2014 (derrotado pelo também argentino San Lorenzo). Na edição de 2022 do maior torneio do continente, Los Celestes encaram a Universidad Católica, do Equador, na segunda fase preliminar, nos dias 23 de fevereiro (casa) e 2 de março (fora).