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Ex-Cruzeiro, Montillo vira empresário de atletas e conta planos no futebol

Argentino realizou 122 jogos com a camisa do clube celeste, que defendeu entre 2010 e 2012. Ele também jogou por Santos, Botafogo, La U e Seleção Argentina

15/02/2022 06:00 / atualizado em 15/02/2022 10:49
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Ex-jogador de Cruzeiro, La U e Seleção Argentina, Walter Montillo atua hoje no futebol sul-americano como empresário de atletas
foto: Reprodução/Twitter

Ex-jogador de Cruzeiro, La U e Seleção Argentina, Walter Montillo atua hoje no futebol sul-americano como empresário de atletas

Walter Montillo marcou época no Cruzeiro, onde jogou entre 2010 e 2012. Mesmo sem vencer um título de expressão pelo clube, o argentino conquistou diversos prêmios individuais e se tornou o quarto maior artilheiro estrangeiro da Raposa, com 36 gols. Além do manto celeste, ele vestiu outras grandes camisas do futebol, defendendo também Botafogo, Santos, Universidad de Chile e Seleção Argentina.

Em entrevista à seção Por onde anda?, do Superesportes, o ex-camisa 10 relembrou o período em que jogou em BH e revelou detalhes de sua nova rotina como empresário de atletas. 


Montillo encerrou sua carreira no dia 13 de fevereiro de 2021, aos 36 anos, jogando pela La U do Chile. Hoje, ele vive com sua família em Buenos Aires, na Argentina, onde comanda junto do empresário Sergio Irigoitia a agência BYP Argentina. 

Empresário Sergio Irigoitia agenciou a carreira de Montillo e hoje é seu sócio
foto: Estado de Minas/DAPress

Empresário Sergio Irigoitia agenciou a carreira de Montillo e hoje é seu sócio

 

"Tenho uma empresa de agenciamento de jogadores. Estou feliz com isso aí. É algo que demanda muito tempo. Eu estou morando em Buenos Aires por enquanto, mas a ideia é que nos mudemos para a Europa no próximo ano e abramos a empresa lá também. Estou contente pois estamos fazendo um trabalho muito bom. Isso aí não me deixa pensar tanto naquela época de jogador. Eu já tinha um pouquinho esquematizado tudo isso que estou fazendo e realmente estou feliz, porque estou ligado ao futebol. Tento sempre fazer as coisas certinho, sem roubar ninguém (risos). Então, tomara que continue dando certo como vem dando até agora", afirmou. 

 

Montillo vive com a esposa Melina e os três filhos na capital argentina. O mais velho, de 13 anos, se chama Valentin e sonha em ser jogador. O ex-camisa 10 apoia a escolha, mas deseja que o filho curta esse período sem grande pressão: "Acho que é uma idade boa para ele curtir jogar bola. Que ele fica contente de acabar um jogo, feliz de chutar uma bola. Se ele continuar jogando e virar profissional, aí que começa a ter muita pressão. Agora tem que tentar tirar essa pressão e curtir".

 

O filho do meio de Montillo, Santino, de 11 anos, é portador de síndrome de Down. Durante o período em que o meia jogou no Cruzeiro, o menino passou por problemas de saúde, tendo que ser submetido a diversas cirurgias. Essa relação comoveu a torcida celeste, que na época acompanhou de perto a melhora do quadro do garoto, hoje bastante saudável.

 

"Agora estou mais presente (no dia a dia da minha família) do que antes. Antes eu viajava muito, concentrava. Deixei minha família em muitos desses momentos difíceis do meu filho. A minha esposa era muito sozinha, pois eu sempre continuei jogando. Tanto no Cruzeiro como na Universidad de Chile, nunca parei. Agora, com esse trabalho, eu tenho tempo para minha família, então eu aproveito muito. Eu sou um cara muito de casa, não gosto de sair muito. Saio para trabalhar, mas volto para dormir em casa. Isso é importante (risos)", disse o agora empresário.

Montillo e sua família durante o Réveillon 2022
foto: Reprodução/Twitter

Montillo e sua família durante o Réveillon 2022



O ex-jogador, de 37 anos, conta que a nova carreira exige muito profissionalismo, pois gera impactos na vida dos atletas, de suas famílias e também dos clubes. Um erro pode fechar muitas portas.

 

"Tenho que aprender muita coisa ainda. Eu sei de futebol, sei falar de futebol, mas nos contratos você não pode errar. Não só com os jogadores, mas também com os clubes. Os clubes são muito importantes. Eu não trabalho só para os jogadores, eu trabalho para os clubes também. Eu fiz o curso de scouting também, porque acho que você precisa aprender de tudo. Você não pode virar empresário de um dia para o outro sem se preparar. Eu vou aprendendo uma coisinha a cada dia. Tomara que lá na frente eu vire um grande empresário. Por enquanto estou muito feliz com isso aqui que estou fazendo. Temos um grupo muito lindo de trabalho. Todo mundo que está na empresa foi escolhido com o perfil que a gente tem, que é de família, de trabalho, de não desistir nunca, de ser muito profissional no que a gente faz", ressaltou Montillo.

 

Até o momento, nenhum atleta agenciado por Walter atua no futebol brasileiro. Ele revelou ter sugerido nomes para Cruzeiro e Grêmio, mas sem sucesso nas negociações. 

 

"No momento que o Cruzeiro estava no ano passado eu tentei jogar (para o clube) o nome do atacante Joaquín Larrivey. Eu acho que o Cruzeiro precisava de um cara que bote a bola para dentro, para tentar voltar à Série A. Mas às vezes você joga um nome e depois tem muita gente que analisa o jogador e acha que não dá (para fazer o negócio). Eu vou jogando alguns jogadores em alguns times que acho que eles possam render. Agora o futebol está muito profissionalizado. Não apenas dentro, como fora do campo. Tem o scout, o cara que vê os vídeos, o gerente, o presidente, o treinador... Então é muita gente que esse jogador (oferecido) tem que convencer. Por enquanto não deu certo levar algum jogador para o Brasil, mas isso muda de um dia para o outro", disse.

"Também tínhamos oferecido um jogador ao Grêmio, o Gastón Suso, zagueiro. Eu sabia que o Grêmio estava procurando um zagueiro, e ele tem essa raça que talvez pudesse dar certo por lá. Não foi nesse mercado, mas talvez (dê certo) mais lá na frente. O futebol vira a cada dia", destacou. 

Montillo durante entrevista ao Superesportes
foto: Superesportes

Montillo durante entrevista ao Superesportes



A seguir, leia outros trechos da entrevista com Montillo:

 

Passagens por Universidad de Chile e Tigre

 

No passado você se aposentou na Universidad de Chile. Você se sentiu satisfeito em aposentar lá, que foi um clube muito especial na sua carreira? Ou você desejaria ter encerrado sua carreira em outro lugar, como no próprio Cruzeiro?

 

Eu queria encerrar lá porque, quando iniciou o problema de saúde do meu filho, eu estava lá. E nesse momento eu recebi muita ajuda do torcedor, do time, do povo chileno. No Brasil também, mas acho que lá que começou. Eu abracei o time, então eu queria acabar lá. Eu poderia ter jogado mais um ano, mas mudaram muitas coisas na diretoria, o treinador que me levou foi embora, chegou o (Rafael) Dudamel que eu não tinha uma boa relação. Então, eu achei que o momento era esse. E eu queria que fosse nesse time. Eu também tive muito sucesso em outros clubes, mas eu escolhi que fosse esse.

 

Antes de você se aposentar, houve rumores de uma proposta do Cruzeiro para você voltar. Isso aconteceu, de fato? Se sim, o que faltou para a negociação ir para frente? 

 

Nunca mandaram uma proposta. Nós não recebemos ligações do Cruzeiro. Eu estava aqui no Tigre, da Argentina, e estava bem aqui. Eu estava morando perto da minha casa, o clube ficava perto da minha casa. Nós conseguimos ser campeões pela primeira vez na história do clube. Mas ninguém me procurou. A Universidad de Chile estava com um treinador que eu conhecia de uma época anterior, por isso eu fui para lá. Mas ninguém do Cruzeiro ligou. 

 

Você se destacou no futebol jogando em países como Brasil e Chile. No final de sua carreira você voltou à Argentina para jogar no Tigre. Como foi jogar em seu país natal? Teve um sentimento especial?

 

Sim. Meu filho sempre falava para mim "por que ninguém te conhece lá na Argentina?". Porque no Chile e no Brasil eu saia nas ruas e todo mundo me conhecia, e aqui na Argentina ninguém (reconhecia). Eu falei que era porque havia jogado pouco na Argentina, por isso não era conhecido. Então para mim foi bom (voltar), para que possa ver isso aí: de ninguém me conhecer a ser campeão e ser escolhido melhor jogador de um torneio (Copa da Superliga Argentina) com 35 anos. Isso para mim foi muito importante. Primeiro por mim, pela minha carreira; pelo meu filho, que viu que eu podia jogar na Argentina também e pelo clube, já que esse time ficou marcado na história. 

 

Crise do Cruzeiro e venda da SAF para Ronaldo

 

Nos últimos anos, o Cruzeiro tem vivido temporadas bastante turbulentas e lidou com um rebaixamento e uma grave crise financeira. Este ano, vai para a sua terceira disputa de Série B seguida. Você tem acompanhado esse período do clube? 

 

Eu acompanho os jogos. Tenho amigos lá - funcionários que agora saíram, foram para outros clubes - e eu sempre ficava falando com eles. Com certeza ficava muito triste. É uma instituição e clube que gosto muito. Esse período no Cruzeiro foi uma das minhas passagens mais lindas no futebol. Então eu tenho um respeito muito grande pelo clube. E eu ficava triste, né? Saber que o clube tinha dívidas com os funcionários, com os jogadores, com todo mundo.

 

Não deve ser fácil para um clube tão grande passar por uma situação assim. Agora, com a chegada do Ronaldo, eu acho que virão resultados no futebol com algumas que ele fez. Acho que está melhorando. Tomara que (o desempenho) não fique só no Mineiro, mas que na Série B o Cruzeiro possa subir. O Cruzeiro é um time que deve estar na Série A, brigando pelo título. Tomara que com essa chegada do Ronaldo seja para o bem.

 

Você já conhecia o Paulo Pezzolano, que é o novo técnico do Cruzeiro?

 

Não o conhecia. Eu conheço o Rafael (Cabral), o goleiro. Eu joguei com ele no Santos. Gente boa. Eu falei com ele alguns dias, fiquei feliz por ele. Muito bom goleiro e uma pessoa melhor ainda.

 

O Cruzeiro passa por um período de transição, saindo do modelo antigo de gestão e se tornando um clube-empresa. Qual foi sua reação ao saber da venda do Cruzeiro para o Ronaldo Fenômeno?

 

Acompanhei o que foi aparecendo nas notícias, fiquei sabendo do que aparecia no jornal, na internet. Às vezes quando o clube está mal e com muita dívida é bom. O torcedor não gosta que (o clube) vire empresa, mas acho que o futebol está indo para esse lugar. O City Group está comprando muitos times, o Red Bull comprou muitos times também, então acho que vai para este lugar.

 

Acho que se o Cruzeiro sobe, o torcedor esquece que é uma empresa. Eu acho que o começo tem um pouco de turbulência, mas se o cara que chega investe no time, no torcedor, na instalação do clube, acho que é para bom, para o melhor. Tomara que seja assim, que seja para melhor, porque como eu te falo, quero ver o Cruzeiro lá em cima de novo.

 

A presença de um investidor do peso do Ronaldo, na sua visão como empresário, pode facilitar no futuro a chegada de grandes jogadores ao Cruzeiro? Uma ligação dele para atletas e agentes pesa muito na decisão? Como avalia isso?

 

Acho que sim, é um dos melhores jogadores da história do futebol. Imagina se ele te liga para ir jogar lá, como fala que não? Eu acho que tem um nome muito importante, para tudo. É um cara que conhece o meio. Às vezes o cara que coloca o dinheiro não está ligado no futebol, mas quer entrar. Ele é um cara que sabe de futebol, vai saber escolher jogador. Acho que é uma ótima notícia para o Cruzeiro.

 

Você vê esse movimento de clubes-empresa chegando ao futebol argentino?

 

Não sei. O torcedor argentino também é chato. Às vezes não gosta que chegue empresário a colocar dinheiro, e que o clube fique na mão de empresário. Acho que em um futuro, não sei se todos, mas a maioria dos clubes vão virar empresa. Acho que vai para esse lugar.

O Red Bull Bragantino estava na Série B há um tempo atrás e agora foi para a final da Sul-Americana. Não tem que desmerecer se o trabalho é bem feito. Às vezes você tem uma empresa que é um time, mas não quer investir, só quer que as contas no final do mês dêem certinhas. Mas se uma empresa chega em um clube para tornar o clube melhor, é bem-vinda. Mas isso é de cada um.

 

 

Futebol brasileiro 


 

Além do Cruzeiro, tem acompanhado os rivais mineiros, América e Atlético, que vivem bons momentos no futebol brasileiro? 

 

Eu acho que o futebol mineiro, futebol em geral, está muito parelho. Com certeza tem times no Brasil que fazem investimentos muito grandes, tem, neste momento, uma diferença muito grande com a Argentina. Tirando o River (Plate) e o Boca (Juniors), os outros times não conseguem contratar como o futebol brasileiro.

Mas acho que isso é bom para Minas Gerais. Eu sou Cruzeiro, não sou Atlético. Mas eles fizeram um baita torneio sob o comando do Cuca.

O Cuca foi quem me levou para o Cruzeiro. É um cara que sabe escolher muito bem os jogadores que entram em campo. Ele faz times muito dinâmicos com o que tem. Às vezes não precisa contratar muito para ele fazer o time jogar bem. No Santos ele tinha uma molecada muito grande, e o time chegou na final da Libertadores (em 2020). Acho que é um treinador muito bom. Tomara que o treinador do Cruzeiro possa fazer história, como o Cuca fez do outro lado. 

 

Passagem pelo Cruzeiro 

 

Em 2022 faz 10 anos da sua última temporada pelo Cruzeiro. Como você lembra da sua passagem pelo clube? Qual é o sentimento que você tem pelo Cruzeiro? 

 

Minha passagem pelo clube foi muito boa, muito rápida. Foram dois anos e meio que eu joguei muito, não machuquei quase nunca, joguei quase todas as partidas. Vivemos momentos muito bons e momentos com um pouco de tristeza, porque brigamos para não cair (para a Série B) em 2011.

 

Meu sentimento é o melhor. Como eu te digo, gosto muito do clube. Tomara que agora passe essa quarentena, a COVID-19, para que eu possa ir ao Mineirão, que eu não conheço. Joguei com o Santos lá, mas estou com vontade de ir um pouquinho, assistir a uma partida ao lado da torcida do Cruzeiro. Seria muito lindo, voltar e me reencontrar com o torcedor.

 

Mesmo com um time competitivo, aquela geração do Cruzeiro acabou não ganhando nenhum título de expressão. Foi vice-campeão brasileiro de 2010 e encantou a América do Sul na primeira fase da Libertadores de 2011, quando foi apelidado de Barcelona das Américas. Qual a sua avaliação daquele período? 

 

Acho que a única coisa que faltou foi ter ganhado do Corinthians fora de casa, naquele jogo que virou uma loucura no final, em que o Cuca e o Fabrício foram embora. Se tivéssemos ganhado esse jogo poderíamos ter saído campeões. Acho que o jogo contra o São Paulo, em Uberlândia, também. São jogos muito importantes faltando muito pouco para acabar o torneio. Mas por como tinha começado o torneio, foi um baita torneio para nós.

Quando eu cheguei estávamos a 15 ou 12 pontos do Fluminense, não lembro quanto agora, passou muito tempo, estou velho (risos). E quando jogamos contra o Fluminense passamos ele. Acho que, em linhas gerais, o torneio foi muito bom para nós.

Além disso, o time jogava muito bem. Tínhamos três volantes que jogavam muito bem, Fabrício, Henrique e Marquinhos Paraná, com dois laterais que chegavam na linha de fundo, o Jonathan e o Diego Renan. Tínhamos um lindo time, que jogava bem o futebol.

 

É difícil uma digerir uma derrota tão marcada por questões de arbitragem como essa para o Corinthians, quando o Sandro Meira Ricci marcou pênalto do Gil sobre o Ronaldo?

 

Acho que é difícil digerir no momento. Você sente muita frustração quando o juiz erra. Erra para todo mundo, mas quando erra contra você, fica uma frustração muito grande dentro do jogo. Depois de três, quatro dias, já tem que jogar e ganhar, então já esqueceu. Talvez o torcedor se lembre muito mais do que aconteceu nesse jogo.

Eu nunca fui de ficar pensando muito, 'ah, se o juiz não apitasse esse pênalti', aconteceu. E em algum momento, talvez, no torneio, o juiz errou a nosso favor. Então passou, pelo menos para mim, não fico pensando nesse jogo. Acho que o torcedor (pensa) um pouquinho mais, porque lembro que depois desse jogo foi muita gente no aeroporto receber a gente e tudo mais. Mas aconteceu e pronto. E o Ronaldo fez o gol na gente ainda.

 

O Cruzeiro começou muito bem o ano de 2011, mas acabou não conseguindo manter isso para o decorrer do ano. Por que o time não engrenou e passou por tantas dificuldades ao longo daquela temporada? 

 

Eu acho que são muitas coisas que acontecem. Infelizmente quando jogamos contra o Once Caldas, todos acharam que íamos passar fácil, porque era o primeiro contra o último. Tínhamos ganhado lá na Colômbia. Acho que, não sei como falar a palavra, mas tivemos muitos lesionados no jogo da volta. O time estava certinho, encaixado, e lembro que nesse jogo o Roger teve que jogar na lateral-esquerda, não sei se o Diego (Renan) estava machucado. E o Roger foi expulso no primeiro tempo. O camisa 9 nesse dia foi o Farías, e quando o Roger foi expulso, o Cuca teve que tirar ele.

Ficamos sem referência de área, que usávamos muito bem com o Wellington Paulista e com o Brandão, então foram muitas coisas que aconteceram. Depois desse jogo, quando o Cuca vai embora, tem muito jogador que também saiu nessa mesma época. Começaram a chegar jogadores muito novos que talvez não se encaixaram no time da maneira que tinha que encaixar. Quando você começa a perder é muito difícil sair. Trocamos, tivemos três, quatro treinadores. Foi o Cuca, 'papai Joel' (Santana), o Emerson (Ávila) ficou poucos jogos no banco de reservas, acho que chegou o Vagner Mancini. Tivemos quatro treinadores em seis meses, é muita coisa, muita mudança.

 

Naquele ano ocorreu a goleada por 6 a 1 em cima do Atlético. Como foi para você, que era o camisa 10, umas das referências da equipe, ser desfalque em um jogo que poderia decretar o rebaixamento do Cruzeiro mas que se tornou uma goleada histórica em cima do rival? 

 

Eu falei para o Vagner Mancini depois do jogo, 'eu não teria jogado todo o torneio se a gente ia jogar assim'. Acho que o erro estava em eu jogar (risos). É um jogo que acontece uma vez a cada quanto tempo? Acho que depois desse 6 a 1 não teve uma goleada assim. Em uma situação desta, que se perdêssemos a gente poderia cair? Acho que acontece uma vez na história.

 

Então foi impressionante, estávamos ganhando de 4 a 0 no primeiro tempo. Fiquei muito feliz porque o ano foi difícil para a gente, muito difícil. Fiquei muito feliz pelos companheiros que tiveram que assumir a responsabilidade de jogar esse jogo. O Rafael ficou no gol, tinha atuado duas vezes em todo o torneio, e ficou o jogo mais difícil para ele. Eu fiquei muito feliz.

 

Como foi receber prêmios individuais em um ano negativo coletivamente para o clube?

 

Foi estranho. Estava em um time que brigava para não cair e fui um dos melhores meias do torneio. É estranho (risos). Eu fiquei feliz porque cada premiação que você tem, de maneira individual, é importante para a carreira do jogador. E para mim, em uma situação que o time está muito mal, eu poder continuar fazendo meu trabalho dentro de campo foi especial. Mas foi estranho, curtir de uma maneira e de outra ficar o ano todo 'meia boca', que não sabia o que ia acontecer, mas graças a Deus a premiação foi depois de acabar o torneio, que ai fui mais tranquilo.

 

Saída do Cruzeiro e atrito com Gilvan de Pinho Tavares 

 

Posteriormente, no início de 2013, você deixa o Cruzeiro rumo ao Santos. Naquele momento, sua saída se deu mais por uma questão esportiva ou financeira? Como você avalia essa transferência? 

 

Eu acho que foi um conjunto de coisas, porque nessa época, o Cruzeiro já começava com problemas financeiros. O salário estava atrasado, neste momento, há três meses. Então, eu sabia que o Cruzeiro precisava de dinheiro para poder investir novamente em um time. Nossa equipe tinha muitos jogadores que estavam chegando de times rebaixados. Quando acontece isso, é porque você está diminuindo o salário, porque tem problema, porque se não, você contrata cara para brigar pelo título. Então, todo mundo sabia, todos os jogadores sabiam que tinha chegado uma proposta do Santos para o clube, que era importante em um plano financeiro.

Falando com o Fábio, com os caras aí, era uma oportunidade boa para mim. Eu não vou negar, tinha a possibilidade de jogar ao lado do Neymar, desse Santos que tinha ganhado a Libertadores e tudo mais. E também, eu poderia ajudar os meus companheiros que estavam com salário atrasado. Acho que foi um pouquinho de tudo. E depois, graças à venda, porque foi a única venda grande que o Cruzeiro fez, conseguiram trazer muitos jogadores para depois sair campeão. Então, acho que foi bom para todo mundo.

 

Na época da sua saída você teve um atrito com o Gilvan de Pinho Tavares, que era presidente do Cruzeiro. O que ocorreu naquele momento? 

 

Ele começou a mentir na imprensa, com o torcedor. Ele queria colocar o torcedor do lado dele, porque ele estava chegando. Eu tinha falado com o Zezé Perrella antes dele sair. Aí ele falou que a venda estava feita. Não, isso aí eu estou mentindo. Isso aí foi no primeiro ano, na venda para o Corinthians, que ele chegou e a gente começou a brigar. Depois, ele começou a mentir, começou a falar que a minha esposa já tinha ido para Santos para ver a escola do meu filho. E tudo isso para colocar o torcedor do lado dele.

Tem torcedor que, obviamente, comprou a briga. Mas eu acho que a verdade sempre sai na luz. Sou um cara que sempre fui um cara que fui com verdade, nunca menti para ninguém. No começo foi difícil, porque teve muito torcedor que comprou essas palavras dele, que falou na imprensa. Mas acho que com o decorrer do tempo, das coisas que ele continuou fazendo dentro do clube, o torcedor começou a virar um pouquinho mais. Não precisei sair falando nada. As mentiras foram caindo aos poucos.

 

Você citou essa possível transferência para o Corinthians. Na época, você se interessou em ir para lá ou foi apenas uma sondagem que gerou a discussão?

 

Não, era uma boa proposta para o clube, e para mim também. O Corinthians estava se arrumando e foi o time que saiu campeão da Libertadores, campeão Mundial. Então, estava tentando arrumar um time bom para brigar. Chegou uma proposta para mim. O Zezé tinha falado para mim que iria dar certo, porque o Cruzeiro precisava de dinheiro também. Eu tinha uma idade que, nesses valores, era difícil vender mais pra frente. Eu estava com 28, 29 anos. Passar um outro clube brasileiro nos valores que estavam falando, de 10 milhões de dólares, não era fácil. Mas aí teve a troca do presidente. Ele falou que eu não iria sair, porque tinha contrato. Aí, eu fiquei quieto, fiquei tranquilo. Mas no ano seguinte que deu a briga com ele.

 

Em 2013 você acabou saindo de maneira rápida do Cruzeiro. Naquele momento, algumas pessoas ficaram magoadas por você ter saído do clube sem se despedir da torcida. Você foi até vaiado num jogo entre Cruzeiro e Santos no Mineirão. Como você lidou com isso na época?

 

M: Eu acho que faz parte também do folclore do futebol. Tem torcedor que gosta de mim, mas tem torcedor que fica bravo. Quando tem um cara que é ídolo do clube, fica difícil aceitar que o jogador pode trocar de clube. Eu sempre falei: nunca jogaria em um time que seria o rival do outro. Eu sempre falei para mim e para todo mundo. Por exemplo, eu vi jogadores saírem do Cruzeiro e irem para o Atlético. E eu acho que as vaias não foram iguais as minhas. Mas acontece. Vai fazer o quê? Não tem problema. Faz parte. O importante para mim é que eu nunca saí do foco. Eu fui para o Santos e nunca fiz alguma coisinha para o torcedor. Sempre respeitei. Aguente essas vaias. Jogaram moedas quando eu ia bater o escanteio. Mas como eu disse, faz parte, tem torcedor que é assim e tem torcedor que não.

 

E nos dias de hoje, como é sua relação com a torcida do Cruzeiro? Você recebe muitas mensagens de torcedores?

 

Ainda tem. Às vezes aparece um que coloca um 'mercenário'. Mas acho que como eu não jogo mais, fica mais tranquilo. Agora, como eu te digo, nunca faltou respeito ao torcedor. Eu nunca desrespeitei o torcedor. Então, eu posso ir ao estádio assistir o jogo. Talvez vai ter algum que não goste de mim, como jogador, como pessoa. Mas eu posso olhar nos olhos de todo mundo, porque nunca falei nada errado do clube, nada errado de ninguém. Então, eu quero ir assistir um jogo lá no Mineirão.

 

Relação com Neymar 

 

No Santos, você teve a oportunidade de jogar com o Neymar pouco antes dele ir para a Europa. Como foi jogar com ele? É o melhor jogador com quem você já jogou? Você atuou com o Messi, também, mas na Seleção Argentina.

 

Para mim foi muito bom. Foi pouco tempo. Eu falei para ele: 'Eu vim aqui e você está indo embora? Fica mais um pouco'. Mas eu aprendi muito com ele. Não no futebol, porque no futebol cada jogador é diferente. Mas, sim, fora de campo. Era um cara que sempre estava com um sorriso. Era um cara que chamava para conversar, para ir para casa. Eu sempre falo que ele tem uma humildade comigo, com a minha família, muito grande. Até o dia de hoje, quando a gente se fala. Eu acho que ele é um cara muito inteligente. Ele deve ter um monte de amigos, com certeza, mas eu não uso a amizade para fazer imprensa. As coisas que tenho que falar com ele, falo com ele direto. Ninguém sabe o que falo com ele. Por isso que continuamos até hoje tendo uma boa relação. 

 

Não posso falar que sou amigo dele, porque não estou o dia todo falando. Eu tenho uma muito boa relação com ele. Eu o respeito muito e quero o melhor para ele. É um menino que se esforça muito, também. Ele aprendeu muito, desse Neymar que eu conheci lá no Santos, até agora, é outro jogador. É um jogador muito mais maduro, muito mais maduro com a imprensa. Com certeza, a gente fica assim com algumas coisas que ele coloca nas redes sociais. Mas é a vida dele. Ele sempre foi assim, de mostrar. Aí tem alguns jornalistas que falam que ele está mal, mas ele não está fazendo mal para ninguém.

 

Mas você perguntou qual foi o melhor com quem eu joguei. Para mim, o Messi. Ele é um cara muito completo. Está acima de todo mundo. Ele tem um pensamento muito rápido. Bah, o que eu vou falar do Messi, né? Mas o Neymar tem um jogo diferente. São posições diferentes, eu acho. O Messi eu vejo como um bom finalizador e armador, também. Eu acho que o Neymar joga pelo lado, que gosta muito da bola enfiada, de ter um cara que coloque ele na cara do gol. Não que com isso ele não consiga tirar os caras e fazer o gol sozinho. Mas é um cara que gosta muito de ter o cara que dá o passe para ficar mano a mano com o goleiro. Acho que são características diferentes.

 

O documentário dele - 'Neymar: O Caos Perfeito' - você chegou a assistir, que lançou agora?

 

Ainda não vi. O meu filho queria ver também, mas ele ficou muitos dias na casa da avó e não viu. Queríamos ver juntos. Vou assistir, ainda não assisti.

 

Lá no Santos você usava a camisa 10, que era do Pelé. Você também jogou com outras camisas pesadas, como a 10 do Dirceu Lopes, no Cruzeiro; a 7 do Garrincha, no Botafogo; e a 10 do Maradona, na Argentina. Pouca responsabilidade, hein?

 

Eu sou um cara muito agradecido ao futebol. Um cara muito agradecido por tudo isso que aconteceu. Acho que foi tudo trabalhando. Ninguém deu de presente para mim. Por isso eu fico feliz pela carreira que eu fiz. Com certeza que não chegou nem perto de alguns jogadores que você está citando aí. Mas eu fiquei muito feliz de sair de um bairro muito humilde daqui. Até os 16 anos eu não sabia se iria jogar bola ou não, porque eu jogava só com os meus amigos. Fiquei muito feliz de poder defender minha seleção no sub-20. Na seleção principal também. Estou feliz com o que eu consegui dentro do futebol. 

 


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