2

Armando Marques comenta arbitragem de Cruzeiro e Vasco: "Consciência tranquila"

Ex-árbitro teve atuação contestada na decisão do Campeonato Brasileiro de 1974

09/10/2012 08:00 / atualizado em 09/06/2022 17:13
compartilhe
foto: Arquivo O Curzeiro/EM. Brasil


Vaidoso, o ex-árbitro Armando Marques entrava em campo com o cabelo cuidadosamente penteado para trás e uniforme impecavelmente alinhado. Além do estilo peculiar, as grandes atuações e, paradoxalmente, os erros históricos marcaram a sua carreira.

Nos mais de 30 anos de arbitragem e cartolagem (foi diretor da CBF, Conmebol e Fifa), fez fama e fortuna. “Ganhei muito dinheiro. Sempre que me convidavam para algum trabalho, assinava um contrato caro, caríssimo. Não tenho nada a lamentar”, disse, ao Superesportes.

Hoje, radicado no Rio de Janeiro, ele quer ser esquecido. Prefere não conceder mais entrevistas e mantém distância do futebol. “Não falo mais sobre futebol. É um direito que tenho. Os motivos, que prefiro resguardar, não importam”, observa.

Vasco x Cruzeiro

Mesmo a contragosto, Armando Marques comentou sobre uma de suas atuações mais controversas: a decisão do Nacional de 1974, entre Vasco e Cruzeiro.

Na competição, as quatro melhores equipes classificaram-se à fase final - Cruzeiro, Vasco, Santos e Internacional. O clube mineiro e o carioca terminaram o quadrangular empatados, na primeira posição, com quatro pontos. Assim, conforme determinação do regulamento, o título seria decidido em jogo único.

foto: Arquivo O Curzeiro/EM. Brasil
A polêmica já começa a ser desenhada no local da decisão. Em função da melhor campanha, o Cruzeiro deveria fazer a partida no Mineirão. O Vasco, contudo, entrou com uma representação na Justiça Desportiva exigindo a inversão do mando. Os cruzmaltinos alegaram que dirigentes celestes tentaram agredir o árbitro Sebastião Rufino no encontro entre os clubes no quadrangular final. O tribunal da Confederação Brasileira de Desportos (CBD) suspendeu a partida até o julgamento do recurso. Sem força política, o Cruzeiro entrou em acordo com o clube carioca e aceitou jogar no Maracanã.

A pressão de mais de 100 mil vascaínos não amedrontou os craques celestes, que fizeram um jogo parelho. Aos 14 minutos , Ademir abriu o placar para o time da casa. O Vasco ainda teve um gol anulado por impedimento. Melhor na segunda etapa, o Cruzeiro empatou com Nelinho, aos 14 minutos. Aos 33, Jorginho Carvoeiro desempatou.

No fim do jogo, Zé Carlos marcou de cabeça, mas Armando Marques, por motivo misterioso, que nem o próprio sabe ou quer explicar, anulou o gol. O ex-meio-campo recebeu cruzamento da direita, em posição legal. Na jogada vista em vídeo, não há nenhuma possível irregularidade. “Já apitei mais de mil partidas. Você acha que eu vou lembrar de um jogo em 1974?”, esquiva.

Questionado sobre as críticas recebidas, ele responde com naturalidade: “Eles (os críticos) falam o que eles querem. Estão por cima da carne-seca. Eu fico com a minha consciência. Eu não dou bola para eles”, diz. “Eu não me arrependo de nada. Eu sou kardecista. Nós não temos ciúmes, nem ódio, nem nada disso no coração”, complementa.

Com a confirmação do resultado, o Vasco conquistou o seu primeiro Campeonato Brasileiro.

ASSISTA AO LANCE POLÊMICO DA FINAL DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE 1974

Carreira

foto: Roberto Stuckert Filho / Agência O Globo
Armando Marques começou sua carreira em 1961. Em Campeonatos Brasileiros, arbitrou 112 partidas. Participou de duas Copas do Mundo, em 1966 e 1974. Aposentou-se em 1974.

Ao comentar sobre a carreira, Armando Marques não deixa transparecer nostalgia - característica que pôde ser observada em todos os pontos da entrevista. “A coisa que passou, passou. Eu não tenho saudade, não tenho remorso, não tenho ódio, nada disso”.

Assumiu o comando da comissão de arbitragem da CBF em 1997. Em 2005, após o escândalo de manipulação envolvendo os árbitros Edílson Pereira de Carvalho e Paulo José Danelon, deixou o cargo. Passou pela Conmebol e pela Fifa.

No esporte, também se aventurou no turfe, como proprietário de cavalos. Solteiro, aos 82 anos, ele projeta voltar. “Eu tinha um haras. Tive cavalos de corridas no jóquei há muitos anos. Vendi tudo. Estou pensando em voltar. Ainda não decidi. Tenho que ver minhas finanças, é muito caro”, conta.
Compartilhe