Aos 22 anos, Rebeca Andrade já viveu traumas de atleta experiente. O ciclo olímpico foi repleto de turbulências. A última delas, uma lesão em 2019 que a obrigou a operar o joelho pela terceira vez e quase a afastou definitivamente da ginástica artística. Mas o apoio da família a fez persistir. E a resiliência deu frutos. Embalada pelo funk 'Baile de Favela', a paulista de Guarulhos fez história na manhã desta quinta-feira (horário de Brasília) e conquistou a prata no individual geral na Olimpíada de Tóquio.
Com 57,298 pontos, Rebeca ficou atrás da norte-americana Sunisa Lee, que somou 57,433 pontos e manteve a supremacia do país na prova. O bronze foi para a russa Angelina Melnikova, com 57,199 pontos.
Rebeca celebrou a conquista e a escolha do ritmo para a prova do solo, que coroou a apresentação dela no Japão: “É muito bom, porque acho que o funk é um dos estilos mais escutados de música no Brasil. E querendo ou não é a cultura brasileira.”
Rebeca celebrou a conquista e a escolha do ritmo para a prova do solo, que coroou a apresentação dela no Japão: “É muito bom, porque acho que o funk é um dos estilos mais escutados de música no Brasil. E querendo ou não é a cultura brasileira.”
Esta foi a quinta medalha da história do Brasil na ginástica artística – a primeira de uma mulher. Antes, o país havia conquistado um ouro, duas pratas e um bronze, todos por homens.
Grande estrela da modalidade nas últimas décadas, a norte-americana Simone Biles esteve no local de competições para apoiar as colegas de delegação. Inclusive, ele foi flagrada aplaudido Rebeca Andrade após a apresentação nas barras assimétricas.
A tetracampeã olímpica desistiu de participar da final do individual geral para cuidar da saúde mental. Ainda não se sabe se ela participará das decisões dos próximos dias. A ginasta brasileira Flávia Saraiva também acompanhou a disputa das tribunas.
A tetracampeã olímpica desistiu de participar da final do individual geral para cuidar da saúde mental. Ainda não se sabe se ela participará das decisões dos próximos dias. A ginasta brasileira Flávia Saraiva também acompanhou a disputa das tribunas.
Rebeca também falou sobre a desistência de Biles.
"Temos de entender que o atleta não é robô, é humano. O que sempre admirei nela era o psicológico, todos sabem que a Simone Biles é a melhor do mundo, a pressão era constante. Fiquei orgulhosa dela por ter tido essa atitude, de ter pensado nela acima de tudo. Não se brinca com a cabeça. Trabalho muito isso com a minha pscióloga", afirmou.
A disputa
Rebeca é daquelas atletas de tirar o fôlego de quem a acompanha. A extrema concentração entre as apresentações no Centro de Ginástica de Ariake deu lugar a uma explosão impressionante. A pressão de ser a primeira a competir entre as concorrentes de rotação não parecia incomodá-la.
O primeiro movimento da noite foi um Cheng – movimento criado em homenagem ao ginasta chinês Cheng Fei – perfeito no salto. A nota 15.300 a colocou no topo da classificação.
A brasileira chegou a ser ameaçada pela norte-americana Sunisa Lee, dona da terceira melhor nota na etapa classificatória (atrás de Biles e da própria Rebeca), nas barras assimétricas, mas seguiu à frente.
A disputa ficou mais acirrada na trave, quando a russa Vladislava Urazova cravou a série. Enquanto a competidora se apresentava, Rebeca ensaiava os movimentos do lado de fora da área de disputas.
Era o momento de maior tensão para a brasileira. Em seu pior aparelho, Rebeca fez uma apresentação segura e arriscou movimentos que não havia tentado na classificatória. A nota 13.666 (0.100 a mais depois de uma revisão pela arbitragem) a fez cair para a segunda colocação.
Faltava o grand finale: o solo. Apesar dos erros, Rebeca foi muito aplaudida ao som de Baile de Favela, funk de MC João. Com a apresentação, arrancou aplausos e garantiu a medalha.
História
Rebeca começou no esporte aos quatro anos em um projeto social na Grande São Paulo. O desempenho chamou atenção e a garota começou a ser chamada de "Daianinha de Guarulhos" – em referência a Daiane dos Santos, figura histórica da ginástica brasileira.
A carreira de Rebeca foi marcada por três lesões graves, que a obrigaram a passar por cirurgias no joelho. Ela superou os traumas para conseguir competir em Tóquio e levou a histórica medalha.
A representatividade foi outro ponto abordado pela medalhista olímpica: "Eu sou preta e vou representar preto, branco, pardo, todas as cores, verde, amarelo. É um orgulho. O esporte não tem que ter isso, tem que representar todo mundo. As pessoas se espelham em você, querem ser você, parecidas com você. Então é isso, você faz o melhor para você e para os outros. E acredito que eu tenha feito isso hoje.”