O atendente olhou nos meus olhos e colocou o garfo na sacola. Olhei de volta e não entendi. Percebendo meu estranhamento, ele brincou: "Você tem certeza que sabe comer com isto aqui?", questionou, falando do hashi. Respondi que sim e ele tirou onda: "Só por garantia, vou deixar o garfo também". E deixou.
Por aqui, algumas coisas simples, do dia a dia, demonstram isso. Apesar de a cultura local indicar caminhos diferentes, muita gente usa, sim, roupas mais curtas. Há quem atravesse fora da faixa de pedestres e até aqueles que contrariam as orientações sanitárias e deixam a máscara em casa.
Na volta ao hotel após um dia de trabalho na Ariake Arena, onde estão sendo disputados os jogos de vôlei masculino e feminino, o motorista do ônibus parou abruptamente e saiu do veículo às pressas para socorrer uma mulher - de não mais que 25 anos - que cambaleava na rua. Visivelmente bêbada, ela tropeçou, escorou num poste e ficou por ali mesmo, sem condições de se equilibrar. Cenas que jamais imaginaria ver nas ruas de Tóquio.
Mas é claro: as tradições também são marcantes nas pequenas coisas. Há dois dias, descobri que estava sendo desrespeitoso com os recepcionistas do hotel ao entregar-lhes as chaves do quarto. Por aqui, é sinal de humildade e respeito passar objetos segurando-os com as duas mãos (e as palmas viradas para cima).
Contato físico sem intimidade? Nem pensar. Para cumprimentar alguém, o ideal é se inclinar levemente para frente. É o ojigi, a reverência oriental, que serve para dizer "oi", "até logo", "obrigado", "desculpas", "prazer em te conhecer", desde que feito acompanhado das palavras certas.
Um povo é muito maior que as generalizações.