Cobrir os Jogos Olímpicos in loco é como uma gincana. A frase que abre a coluna desta segunda-feira não é de quem escreve o texto, mas sim de Felipe Pereira, um jornalista mais experiente do Uol. Ela foi dita durante uma conversa num dos ônibus oficiais que nos levam de uma arena a outra.
Bastaram dois dias de cobertura para que eu, novato no assunto, desse razão às palavras de meu colega mais experiente. A pandemia de COVID-19 fez com que a organização se visse obrigada a reduzir a quantidade de jornalistas presentes em cada evento. Para ter controle sobre quem entra e sai das instalações olímpicas, Tóquio 2020 criou um sistema de reserva de eventos.
Funciona assim: cada jornalista tem o direito de selecionar até dez competições/jogos/disputas que tem a pretensão de cobrir por dia. A reserva deve ser feita até 16h do dia anterior. Os organizadores, então, avaliam os pedidos e, por e-mail, respondem se a solicitação de cobrir determinado evento foi aprovada ou não.
A possibilidade de escolher dez sessões é para que os jornalistas credenciados tenham opções disponíveis para, com o passar das horas, efetivamente montar a programação. Você sabe onde vai começar o seu dia, mas não sabe exatamente onde terminará. E em Tóquio, pelos relatos dos mais experientes, as incertezas aumentaram.
Além da pandemia, influencia o fato de esta edição dos Jogos terem complexos esportivos menos centralizados. A organização dividiu Tóquio em duas partes. A primeira, ao Norte, é a "Zona da Herança". Lá, ficam instalações utilizadas na Olimpíada de 1964 e novamente agora, em 2021. Na segunda, ao Sul, é chamada de "Zona da Baía de Tóquio", onde estão as novas arenas.
O dia das duas primeiras medalhas brasileiras - conquistadas por Kelvin Hoefler e Daniel Cargnin - começou, para mim, no vôlei de praia. O calor na quadra beirava os 40ºC. De lá, precisei correr até o Ariake Urban Sports Park para acompanhar o skate. Aliás, correr teria sido a melhor e mais rápida opção, já que as duas instalações não ficam distantes uma da outra. Mas, pelo protocolo, eu não sabia se poderia efetivamente dar um pique para chegar lá.
Tive, então, que pegar dois ônibus até meu destino. Lá, o calor se intensificou, mas valeu a pena para acompanhar a primeira medalha brasileira. Depois, foi a hora de partir para o suntuoso Nippon Budokan, templo do judô. Mais dois ônibus. Na volta, a ideia era ainda ir à Ariake Arena acompanhar o vôlei feminino do Brasil. Mas não daria tempo - e eu já estava cansado o suficiente de tanto tomar sol e viajar de um lado para o outro da cidade.
Mesmo com o cansaço e a correria, valeu a pena acompanhar de perto as conquistas do skate e do judô. Se cobrir a Olimpíada é uma gincana, nós estamos ganhando.