
Ao subir ao pódio, a carioca da Cidade de Deus levava consigo a história de tantas atletas mulheres, negras e pobres, que caíram no ostracismo, como Aida dos Santos, única mulher da delegação de Tóquio’1964, que chegou à final olímpica sem ter nem uniforme para competir; ou a mineira Esmeralda de Jesus, que treinando na pista de terra misturada a carvão da UFMG, se classificou para duas olimpíadas, em Montreal’1976 e Los Angeles’1984.
Rafaela conheceu o judô através de um projeto social do instituto Reação. Em 2012, chegou a sentir o cheiro da medalha, mas foi desclassificada por um movimento irregular. Não bastasse as dores da vida e da derrota, aguentou sem esmorecer as baforadas do rancor e preconceito. Em vez de desabar, pediu desculpas ao público e prometeu que a história seria diferente em 2016.
Rafaela se reergueu, sacudiu a poeira, foi campeã mundial no Rio’2013 e, ontem, se tornou campeã olímpica, repetindo o feito de Sarah Menezes, uma piauiense de história não menos comovente, ouro em Londres. Rafaela Silva, da Cidade de Deus, não merece somente o ouro. Merece o mundo todinho para ela.