Mas, antes de os combates começarem, a partir das quartas de final, o que acontece sempre na parte da tard pela manhã são as eliminatórias, vejo a treinadora Rosicleia Campos, ex-judoca olímpica, meio angustiada. A todo instante, conversava com o técnico Geraldo Bernardes, que foi quem ensinou o esporte a Rafaela. Ela está um pouco afastada, de cara fechada.
Chego perto de Rosicleia e ela está brava. "Não imagina o que aconteceu", diz. "Um cara ridículo foi pra internet e chamou a Rafaela de macaca. Isso não pode ficar assim". E falou que queria contar tudo. Chama Rafaela pra falar comigo. Ela vem, meio relutante. Não quer falar. Mas Rosicleia insiste e diz que é preciso colocar a história pra fora.
Resultado: ela resolve desabafar. Fala em parar de lutar. Não quer que a família passe por tal situação. Está revoltada. Depois da conversa, sento e escrevo para o site Superesportes. Logo, a reportagem está no ar. Infelizmente, Guilheiro e Mariana não chegaram ao pódio. Saí dali e fui direto ao presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, para saber que providências seriam tomadas. Ele disse que o governo brasileiro já estava ciente do assunto e que investigaria o caso por meio da Polícia Federal. Demos essa 'providência', entre aspas mesmo, no dia seguinte, no noticiário do Estado de Minas sobre a Olimpíada.
Mas, infelizmente, o caso ficou por isso mesmo. O governo federal e a Polícia Federal, que investigariam os ataques racistas a Rafaela, nada fizeram. Rafaela teve de sair daquela situação por si só, contando com os amigos e a família. Não esmoreceu. Lutou muito. Felizmente não parou. E, agora, é campeã olímpica.