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Vexame internacional em tom de sigilo

Organizadores dos Jogos de Londres decidem restringir informações aos brasileiros por causa de escândalo sobre cópia de documentos

Bruno Freitas - Estado de Minas

Publicação:

25/09/2012 08:39

Muito além do motivo de piada que virou na internet, o escândalo envolvendo a cópia de documentos do comitê organizador dos Jogos de Londres’2012 (Locog) por integrantes de comitiva brasileira pode custar caro ao Brasil na preparação rumo à Olimpíada do Rio de Janeiro. Membros da organização local – entre eles Carlos Arthur Nuzman, que também preside o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) – e o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, se esquivam quando questionados sobre quem fez, como e por que ocorreu a apropriação indevida dos dados. Mas poucos dias depois de o comitê do Rio’2016 ter admitido em nota que 10 funcionários que prestavam serviços ao Locog, dentro de um programa de intercâmbio entre os países, copiaram documentos sem autorização (razão que levou à demissão do grupo somente 40 dias depois do ocorrido), integrantes do comitê inglês revelaram que a ordem agora é repassar o mínimo de informações aos brasileiros.

A desconfiança é motivada pelo temor do Comitê Olímpico Internacional (COI) de que o episódio leve à venda de detalhes sigilosos sobre a Olimpíada – orçada em 8,4 bilhões de libras (cerca de R$ 27 bilhões) – a terceiros. Associado a roubo pela imprensa internacional, o escândalo é agravado pelas recentes denúncias de corrupção envolvendo duas figuras do cenário esportivo brasileiro: o ex-presidente de honra da Fifa, João Havelange, e o ex-mandatário da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira. Ambos são acusados de terem recebido mais de R$ 40 milhões em subornos da empresa de marketing ISL, principal parceira comercial da Fifa na década de 1990 que faliu.

Segundo funcionários do Locog, a orientação é de que informações delicadas ou questionamentos pouco claros sejam barrados para o Rio’2016. A descoberta de que o vazamento havia sido feito pelos brasileiros assustou os ingleses, que haviam sofrido com a restrição de dados em Pequim’2008 e estavam dispostos a demonstrar o máximo de cooperação. As cópias foram rapidamente detectadas por um milionário sistema de monitoramento cibernético que evitava principalmente o ataque de hackers externos. Para isso, o Locog contratou cerca de 450 técnicos especializados.

CONGRESSO Ontem, havia a expectativa de que Rebelo comentasse o assunto durante um congresso de engenharia, em São Paulo. O ministro foi convidado a abrir o encontro para falar sobre a importância da engenharia na realização de grandes eventos como a Copa’2014 e a Olimpíada’2016. Rebelo, contudo, optou pelo silêncio.

Na sexta-feira o COI já havia informado que não iria interferir no caso. A questão, declarou o porta-voz Mark Adams, está resolvida para a entidade. “Esse é um assunto puramente entre Londres’2012 e o Rio’2016. Lidou-se com a questão de forma profissional e rápida. As partes estão satisfeitas e a há pouco mais a dizer e nenhuma ação a ser esperada do COI”, destacou.

Ao EM, o COB disse que não comentaria o caso. Já o comitê Rio’2016 alega que os arquivos foram recuperados e o Locog deu o episódio como encerrado. O próximo encontro entre os comitês está marcado para novembro, na capital carioca.

O ELO DE TEIXEIRA
Dirk Hollstein, da empresa saudita ISE, já era um velho conhecido de Ricardo Teixeira quando fechou o contrato de direitos sobre a Seleção Brasileira até 2022. O executivo foi funcionário da ISL, agência de marketing suíça que ganhou notoriedade mundial ao ser condenada por pagar subornos ao cartola. Quatro meses antes de deixar a CBF, em março, Teixeira negociou o acordo com a ISE recebendo 15% a menos que o valor do contrato de 2006 com a suíça Kentaro, o que causou estranheza. Agora, fontes próximas revelam que Hollstein sabia que o cartola estava de saída da CBF e, mesmo assim, fechou o acordo. Pessoas ligadas à ISE também confirmam que Hollstein e Teixeira mantinham relação próxima. A ISE é acusada de ter pago US$ 14 milhões ao cartola do Catar Mohamed Bin Hammam, ex-candidato à Presidência da Fifa.

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