O atacante Marcelo Ramos está marcado na história do Cruzeiro. Revelado na base do Bahia, o 5º maior artilheiro celeste de todos os tempos – com 163 gols –, chegou a Belo Horizonte em 1995 e venceu o Campeonato Mineiro e a Copa do Brasil de 1996. Autor do gol do título nacional contra o Palmeiras, no Parque Antártica, ele saiu do clube mineiro para jogar no PSV, da Holanda, e retornou um ano depois para ser decisivo no título da Libertadores de 1997. O bicampeonato continental completa 20 anos neste domingo.
No momento em que Marcelo retornou ao Cruzeiro, o time tinha acabado de conquistar uma classificação suada na fase grupos da Libertadores. Após mudar o comando técnico e perder as três primeiras partidas, a equipe celeste venceu os três últimos compromissos e chegou ao mata-mata da competição. O camisa 23 revelou o que fez com que ele abrisse mão de seguir na Europa para retornar ao Cruzeiro.
“Eu era um jogador praticamente do grupo, porque fiquei menos de um ano na Holanda. Era fechado com os jogadores. O próprio Nonato – que foi o capitão na fase de grupos – me ligou para voltar, falando que o grupo estava aceitando minha contratação. Isso pesou bastante para voltar ao Cruzeiro”, afirmou.
Artilheiro celeste na campanha do título da Libertadores, com quatro gols em seis jogos, Marcelo Ramos chegou ao Cruzeiro nas oitavas de final. O centroavante estreou na competição na derrota para o El Nacional, do Equador, por 1 a 0, fora de casa. Já no jogo da volta, no Mineirão, Marcelo demonstrou a importância do seu retorno à Toca. Ele marcou os dois gols no triunfo por 2 a 1, que classificou o time celeste para enfrentar o Grêmio nas quartas de final. Contra os gaúchos, ficou de fora. Nas semifinais contra o Colo Colo, do Chile, no entanto, ele voltou a ser decisivo, marcando o gol da vitória por 1 a 0, no Mineirão, e um golaço de voleio no revés por 3 a 2, fora de casa - o Cruzeiro se classificou nos pênaltis (4 a 1).
Nesses 20 anos da conquista, Marcelo Ramos é uma das peças mais lembradas pelo torcedor cruzeirense. Artilheiro da equipe na competição, o centroavante marcou gols decisivos, que levaram o clube celeste ao bicampeonato da Libertadores.
Leia, na íntegra, a entrevista especial com Marcelo Ramos:
Time 'copeiro' e 'cascudo'
Ali era uma mescla de jogadores mais jovens, na média entre 23/24 anos, no caso eu, Dida, Gelson (Baresi), Vitor, enquanto Elivelton, Palhinha e Gottardo, por exemplo, já eram mais experientes, time este que era considerado titular. Nosso grupo era muito forte e isso ajudou bastante, porque eram jogadores jovens, mas que eram acostumados com decisões, como o Vitor no São Paulo, Gelson no Flamengo, eu no Cruzeiro... então isso ajudou bastante. Claro, todos sabemos a dificuldade no começo. Eu cheguei já nas oitavas de final junto com o Gottardo e vi no grupo a vontade de conquistar a Libertadores, mas foi importante demais. Tivemos uma verdadeira união, porque tem casos que você conquista um título e há problemas no grupo. Nosso elenco de 1997 estava fechado. Essa mescla de juventude e experiência fez a diferença.
Pacto pelo título
Eu não estava, mas os caras falam que o grupo se fechou ainda mais, por causa das dificuldades, por ter que vencer os três jogos finais, o Grêmio fora, por exemplo, que era o favorito a ganhar a Libertadores. Eu era um jogador praticamente do grupo, porque fiquei menos de um ano na Holanda e o próprio Nonato quando encontro ele em Belo Horizonte, ele fala que o grupo todo aceitou a minha contratação, que sou um jogador decisivo. Era fechado com os jogadores. E chegou o Gottardo também, que já tinha a confiança do Paulo Autuori, por terem sido campeões no Botafogo, e isso ajudou bastante. O próprio Nonato me ligou para voltar, que o grupo estava aceitando minha contratação e isso pesou bastante para voltar ao Cruzeiro. Sabíamos que seria difícil vencer a Libertadores, mas que seríamos favoritos depois de passarmos por todas as dificuldades na primeira fase. Crescemos muito de produção e a parte técnica foi prevalecendo.
Milagres do Dida
Dida sempre foi um cara muito decisivo, que tinha uma técnica, uma presa muito grande. Ele passava uma confiança muito grande para a gente. Atacávamos, olhávamos para trás e víamos o Dida. Sentíamos segurança. Tínhamos confiança nele nas cobranças de pênalti, pois ele treinava bastante. Ele foi 100% em todos os sentidos, como pessoa, como um cara de grupo, não falava muito, mas nas horas certas ele falava coisas positivas. O Dida nas decisões ele crescia muito. Foi fantástico, principalmente na final.
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Importância de Paulo Autuori
Como pessoa, você dificilmente vê algum jogador criticando ele. Claro, as vezes aparece um atleta que não está jogando muito e aproveita para criticar o treinador, mas ele conseguia deixar todos em condições de jogo. Era um ambiente muito saudável. Mesmo quem não jogava, dava força para o outro. Eu mesmo cheguei e encontrei Alex Mineiro, Reinaldo e Elivelton no ataque. Ele conseguia passar serenidade para o grupo. Dava 'dura' com classe, sem expor o jogador. Tem treinadores mais enérgicos que dão bronca em jogador e ele acha que vai render. O Paulo era diferenciado. Foi escolhido para ganhar a Libertadores. Ele tinha o grupo nas mãos. A cada treinamento ele incentivava quem não jogava. Alex Mineiro me substituiu contra o Grêmio e foi super decisivo, Donizete Oliveira que não era tão utilizado e jogou a final no lugar do Cleison... Ele tinha jogadores que entrariam no jogo e faziam a diferença.
Título e mudança de vida
"Muda muito, tanto que hoje estamos comemorando 20 anos da conquista do maior título da América do Sul. Hoje é obsessão dos clubes. Na nossa época era importante, mas sabíamos que, se conquistarmos aquele título, entraríamos para a história, já que tinha 21 anos que o Cruzeiro não levava uma Libertadores. Hoje estamos vendo a dificuldade que é classificar para a competição, e mais difícil ainda é ganhar. A valorização ainda é muito grande. Não é para qualquer jogador. Me sinto muito honrado de fazer parte da história do Cruzeiro, ainda mais por essa taça, que representou muito para os jogadores, levando em conta o início, as dificuldades do jogo contra o Grêmio, Colo-Colo, quando ganhamos nos pênaltis, levamos porrada (risos). Falo assim, mas a violência não existe. Os caras que não aceitaram perder em casa. Ali mostramos a união que a equipe tinha.
Duelo contra o "azarão" na final
O grupo sabia que se tivéssemos perdido dentro do Mineirão com quase, ou 100 mil pessoas, seríamos taxados negativamente. Isso nos deixou ainda mais concentrados. Respeitamos bastante o adversário. Em nenhum momento na Libertadores achamos que teríamos jogo fácil, principalmente contra o Sporting Cristal, quando empatamos lá em 0 a 0. Não viemos no avião de Lima achando que já estava tudo ganho. O jogo aqui foi muito truncado, muito difícil, poucas chances de gol, que só saiu após um chute do Elivélton e uma falha do goleiro. Valorizamos muito a atuação do Sporting. Para o torcedor que não é cruzeirense, vai sempre menosprezar o Sporting Cristal, mas a gente sabe que se não ganhássemos, estaríamos marcado negativamente na história do Cruzeiro.
Importância da torcida no Mineirão
Foi impressionante, principalmente os jogos contra o Colo Colo e o Grêmio. O que o torcedor fez naquela Libertadores foi maravilhoso. Isso acabava nos passando ainda mais responsabilidades com a nossa torcida que incentivou, que acreditou no grupo, pois sabemos a dificuldade do torcedor em chegar ao Mineirão. Graças a Deus deu tudo certo e terminamos aquele semestre com dois títulos. Não podemos menosprezar o Campeonato Mineiro, pois se perdessemos frente ao Villa, poderíamos ter dificuldades de reação.
Curiosidades
O fato mais engraçado foi depois da partida em Santiago, contra o Colo Colo. Mesmo com a pancadaria, com a preocupação da volta para o hotel, até mesmo o retorno para Belo Horizonte, mas todos demos risadas com a pancadaria: "Ah, Marcelo deu porrada, tomou soco". Na chegada a BH começamos a dar risada, pois não esperávamos aquela confusão. Até nisso o grupo era unido, pois ninguém correu. Donizete estava apanhando e todo mundo partiu, até mesmo o Ricardinho, com aquele "corpão" que ele tinha (risos).
O que faz hoje
Hoje eu estou começando a mexer com futebol. Não me vejo fora. Estou sempre viajando para Belo Horizonte, tocando minha carreira de empresário, mas com muita calma, sempre observando o futebol. Realizo projetos sociais no esporte aqui em Salvador. Não penso em ser treinador. Minha característica é mais voltada para diretor de futebol. Estou me preparando, quero muito ter uma oportunidade.