Libertadores 1997
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LIBERTADORES 1997

Bi do Cruzeiro na Libertadores completa 20 anos, e orgulho dos campeões só aumenta

Personagens da conquista da América em 1997 destacam que, com o passar dos anos, sensação de grandeza do feito cresce a partir do reconhecimento

postado em 11/08/2017 08:07 / atualizado em 12/08/2017 12:38

(Foto: Cruzeiro/divulgação)

Torcedor cruzeirense: prepare-se para matar saudade de uma das gerações mais vitoriosas da história do clube. Do esquadrão temido em território nacional e no continente sul-americano. Da história que começou a ser desenhada lá em 1991, com a conquista da primeira Supercopa, passou por Copa do Brasil (1993 e 1996) e chegou à Libertadores da América de 1997 – o ponto alto daquela década. No próximo domingo, será comemorado o 20º aniversário do segundo título celeste do mais importante torneio de futebol das Américas. Para Nonato, Marcelo Ramos, Palhinha, Gottardo, Ricardinho, Elivélton e companhia, há um sentimento em comum: parece que tudo aconteceu ontem e passou num piscar de olhos.

Mas o tempo é implacável. Não para. Resta aos heróis daquela conquista – que estão na faixa etária de 40 anos – relembrar cada detalhe. A começar pelo início difícil: a Raposa perdeu os três primeiros jogos do Grupo 4 – 2 a 1 para o Grêmio, no Mineirão; e 1 a 0 diante dos peruanos Alianza Lima e Sporting Cristal, em Lima. Veio então um pacto para a superação, conforme revelou o ex-lateral-esquerdo Nonato. “O Paulo (Autuori, que havia substituído Oscar Bernardi no comando técnico na segunda rodada) nos chamou para uma reunião, e todo mundo falou: ‘num grupo de quatro, a gente ficar fora para dois clubes peruanos não tem a mínima condição. Temos que dar um jeito de vencer. Se a gente se classificar, vamos chegar à final e ser campeões’”.
(Foto: Cruzeiro/divulgação)

A arrancada celeste começou com vitória por 1 a 0 sobre o Grêmio, no Olímpico, em 12 de março. Seis dias depois, a vítima foi o Alianza Lima: 2 a 0. Em 11 de abril, mais um triunfo, dessa vez contra o Sporting Cristal: 2 a 1. O Cruzeiro terminou o Grupo 4 na segunda posição, com nove pontos. E de acordo com o regulamento da Libertadores, os três melhores de cada uma das cinco chaves se classificavam para as oitavas de final. O River Plate – campeão da edição de 1996 – estava garantido automaticamente no mata-mata.

Nos confrontos eliminatórios, veio o drama dos pênaltis. Mas drama para quem? Só se for para os adversários. Porque o Cruzeiro tinha Dida, especialista no assunto. Com 1,96m de altura e 2m de envergadura, o goleiro encaixou a cobrança do equatoriano Chalá, do El Nacional, e garantiu a vitória estrelada por 5 a 3. O time passou pelo Grêmio nas quartas de final no tempo normal, mas nas semifinais voltou a decidir a vaga no tiro de 11 metros. Dida defendeu dois arremates dos chilenos Basay e Espina, do Colo Colo, e facilitou a vida dos batedores cruzeirenses Ricardinho, Donizete, Fabinho e Marcelo Ramos, que fecharam o placar em 4 a 1.

“Com o Dida ao nosso lado, a confiança aumenta também. Ele estava numa fase espetacular, vinha de algumas conquistas em que se destacou muito também e com certeza o clima era favorável para a gente na batida dos pênaltis, a confiança era grande. E os nossos batedores eram jogadores experientes, maduros e se prepararam para os pênaltis”, declarou o zagueiro Célio Lúcio.



Decisão contra um desconhecido

Na final, o Cruzeiro lidaria com um velho conhecido, o Sporting Cristal, que deixara pelo caminho os tradicionais argentinos Vélez Sársfield e Racing, além do “encardido” boliviano Bolívar. Pela representatividade do time mineiro no cenário sul-americano, o favoritismo era amplo. Contudo, ninguém disputa final de Copa Libertadores em vão. É o que pensa o zagueiro e capitão Wilson Gottardo. Ele disse que o time peruano sempre foi tratado com respeito pelos cruzeirenses.

“Não considero assim. Não há como um azarão chegar à final. Ele pode ser considerado um azarão pela opinião pública e torcida. Mas não pensávamos assim. O Sporting Cristal chegou à final por méritos. Eles tinham bom estádio, estrutura muito legal, faziam um trabalho sério e contavam com bons jogadores. O brilho da nossa vitória foi intenso. O que poderia gerar uma cobrança maior é o fato de o time deles, historicamente, não ter tradição. Se perdêssemos, seria um prejuízo absurdo. Nesse confronto, o peso maior estava sobre o Cruzeiro. Uma derrota do Sporting Cristal seria mais normal que uma derrota do Cruzeiro”.

(Foto: Estado de Minas/Arquivo )
A decisão reservou dois cenários. Na ida, no Estádio Nacional de Lima, os clubes fizeram jogo aberto e criaram boas chances. Aos 17min do primeiro tempo, Palhinha chegou cara a cara com o goleiro Julio Cesar Balerio, mas bateu contra o peito do adversário. O camisa 1 do Cristal ainda evitou que uma finalização de Marcelo Ramos ganhasse as redes. Na volta, em 13 de agosto, o confronto ficou mais tenso. E foram os peruanos que tiveram a grande oportunidade, aos 20min do segundo tempo. Solano cobrou falta e Dida deu rebote. Na sobra, Julinho teve tudo para fazer o gol, mas o goleiro do Cruzeiro conseguiu se recuperar e defendeu com a perna direita. Dez minutos depois, Elivélton se eternizou como protagonista e marcou, num chute despretensioso, o gol do título.

“Estava no auge da carreira em 1997 e fui o felizardo de ter marcado o gol com a perna direita. De onde sobrava eu chutava. Não tinha medo. Não quero nem saber se o goleiro cooperou. O que importa é que meu nome está gravado na história do Cruzeiro Esporte Clube. Marcar um gol na final da Libertadores, todo jogador sonha com isso! O Cruzeiro é um clube que eu admiro muito. Tenho muito orgulho de ter feito aquele gol”, lembrou o ex-meio-campista, que vestia justamente a camisa 20 – número alusivo à data comemorativa.




Depois do título de 1997, o Cruzeiro participou de mais nove edições da Copa Libertadores. Em 2009, esteve perto do tricampeonato, mas decepcionou os mais de 60 mil torcedores no Mineirão e perdeu do Estudiantes por 2 a 1, de virada, na decisão – na ida, em La Plata, houve empate por 0 a 0. Em 2015, a trágica eliminação para o River Plate, também no Gigante da Pampulha, está até hoje engasgada nos corações dos cruzeirenses. O time ganhou na Argentina por 1 a 0, porém foi goleado em casa por 3 a 0. A cada tentativa frustrada de reconquistar a América, a certeza de que o feito de 20 anos merece ser motivo de orgulho até os dias atuais.

“Meus netos vão saber quem eu sou por ser vencedor, por ter ganhado um título no Cruzeiro, um clube grande. Não é dinheiro, status, é o trabalho muito bem feito que fizemos”, exaltou o ex-armador Palhinha, que, à época, foi negociado com o Mallorca, da Espanha, por US$ 1,5 milhão.

“Eu tinha 20 anos na época. Você não vê a dimensão daquele título, né?! Você está ali jogando, se divertindo, e de repente se depara com um campeonato tão importante como a Libertadores... a gente tinha um time bastante unido e conseguimos ganhar. Você vê a dificuldade que é: o Cruzeiro tem quase 100 anos e só tem dois títulos da Libertadores. É um título que todo mundo procura. Graças a Deus deu certo naquele ano”, destacou o volante Ricardinho, recordista de títulos na história do Cruzeiro, com 15 taças oficiais. 

O ex-atacante Marcelo Ramos, que voltou ao Cruzeiro após período no PSV Eindhoven da Holanda, foi inscrito apenas na segunda fase. Ainda assim, encerrou o torneio como artilheiro do elenco, marcando quatro gols. Quinto maior artilheiro da história da Raposa, com 163 gols, Marcelo falou sobre a importância do troféu.

"Muda muito, tanto que hoje estamos comemorando 20 anos da conquista do maior título da América do Sul. Hoje é obsessão dos clubes. Na nossa época era importante, mas sabíamos que, se conquistarmos aquele título, entraríamos para a história, já que tinha 21 anos que o Cruzeiro não levava uma Libertadores. Hoje estamos vendo a dificuldade que é classificar para a competição, e mais difícil ainda é ganhar. A valorização ainda é muito grande. Não é para qualquer jogador. Me sinto muito honrado de fazer parte da história do Cruzeiro, ainda mais por essa taça, que representou muito para os jogadores, levando em conta o início, as dificuldades do jogo contra o Grêmio, Colo Colo, quando ganhamos nos pênaltis, levamos porrada (risos). Falo assim, mas a violência não existe. Os caras que não aceitaram perder em casa. Ali mostramos a união que a equipe tinha”.

Colaboraram: Guilherme Macedo, Matheus Adler, Thiago Madureira e Tiago Mattar





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