“Só peço a Deus que os times da casa não façam feio… porque quando o pessoal perde… é um Deus nos acuda”, lamenta a dona nascida no Horto, que não quer foto ou o nome no jornal. Da janela, a senhora diz que desde a reforma do Independência ela torce para todos as equipes de Minas e explica: “Meu time, o Cruzeiro, nem está tão mal assim e os torcedores estão brigando entre eles mesmos. Isso não está certo. Quem faz isso, na minha opinião, não é torcedor. É bandido”. Ao longo da Rua Pitangui são muitas as cenas de desrespeito ao patrimônio público. Pichações em muros e em andares elevados enfeiam o bairro. Dois sujeitos fardados em preto e branco, aos goles de cerveja, dependurados no poste de sinalização, empenado, acham que estão fazendo bonito para as mocinhas brejeiras.
Outro grupo, aos berros, não quer nem saber se ali, na casa em frente, há alguém em dia de descanso. E há. Dona Dirce Santos Amorim, de 82, no mês em que completa 83, não imaginava ver a porta de casa com tamanha audiência. Atleticana, no endereço desde 1971, conta até gostar do movimento, mas quer distância de confusão. “Não gosto de briga”, diz, sorrindo. O filho de dona Dirce, Gilmar Santos Amorim, de 45, é outro morador que torce pela paz. “Não tenho muito o que reclamar. Não é porque sou atleticano, mas nos dias de jogos do Cruzeiro tem sido bem pior. Alguns torcedores são muito violentos. Tem outra coisa também… a Polícia Militar, a Guarda Municipal e a BHTrans precisam ser mais tolerantes com a comunidade”, cobra. O corretor de seguros também reclama mais limpeza depois dos jogos. “Antes eles usavam um carro-pipa para lavar as ruas. Agora, tiram o grosso e boa parte da sujeira fica”.
No encontro das ruas Marcionilia Montigo e Ismênia Tunes, o muro alto de esquina, chapiscado, ganha dois pontos de economia informal. De um lado, butique improvisada faz sucesso com bandeiras e camisas de todos os tamanhos. Do outro, comida e bebida. Metros dali, o vizinho concorrente tenta levantar trocados. Por R$ 4, o espetinho de frango ruim de doer tem saída. Só não vende mais que os latões de cerveja. “Acho que já vendi umas 20 caixas”, diz a menina, comerciante amadora. O moço do caixa (de sapato), parente, distribui as bebidas – 3 por R$ 10 – comemora: “Tá bom demais. O time tem é que ganhar. Quando perde é ruim pra todo mundo, né!?”