CRUZEIRO 100 ANOS
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COLUNA DE HENRIQUE PORTUGAL

Cruzeiro, obrigado por existir

Quero comemorar vitórias, sofrer com resultados apertados, ficar puto com derrotas e gritar Cruzeiro toda vez que encontrar alguém com a camisa do meu time

postado em 02/01/2021 06:59 / atualizado em 01/01/2021 18:54



(Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D. A Pres)


Eu tenho a mesma idade do Mineirão, somos de 1965. Mal completei um ano de vida e já me colocaram a faixa de campeão nacional. Depois disso, não sei contar quantas vezes saí pelas ruas gritando “É campeão”. Acho que peguei a parte mais vitoriosa desta história que está completando 100 anos.

A minha paixão começou, imagino eu, como várias crianças. Uma referência dentro de casa e um time colecionador de títulos. Tem gente que fala que mudou de time durante a vida. Eu não acredito. A relação pode esfriar, mas a qualquer momento basta uma vitória num clássico ou a chegada a uma semifinal de um grande campeonato que a chama da paixão cresce novamente.

Adoro as cinco estrelas soltas na camisa. É simples, sublime, uma marca que não precisa de explicações. Quando a quinta estrela esteve bordada do lado esquerdo do escudo, na Libertadores de 1976, pra mim significou a busca por algo impossível. Mudamos o formato de uma constelação para conquistar um título inédito. Os grandes sonhos só se realizam com grandes esforços.

Tenho muito orgulho de ter escrito o livro oficial do título de 2013, junto com meu parceiro Bruno Mateus. Escrevemos sobre os nossos, até então, três títulos do Campeonato Brasileiro. Passei por um misto de alegria e tristeza com esse livro. Ele teve um prazo de validade muito curto. Logo em seguida, conquistamos o tetracampeonato. Mas não poderia ser egoísta e pensar somente na minha realização pessoal, afinal de contas, temos mais torcedores que muito país tem de população.

O meu ritual de ir ao estádio começa na escolha da camisa antes de sair de casa. Tenho predileção pela camisa branca e fico feliz de nunca terem criado uma camisa listrada do nosso time. Às vezes, vou sozinho, pois sei que encontrarei meus amigos temporários, aquela amizade que só acontece nas arquibancadas. Ali não existe classe social, profissão, cor ou orientação sexual. Na maioria das vezes, praticamos a tolerância de forma natural, pois o propósito é único.

Já vivi mais tempo como cruzeirense do que viverei. Já vi o Cruzeiro ganhar 10 campeonatos nacionais em minha vida, uma média de um título a cada cinco anos. Já estou no lucro, mas sou guloso, quero mais. Ganhar títulos é um vicio delicioso. Então, neste restinho de vida, quero comemorar vitórias, sofrer com resultados apertados, ficar puto com as derrotas e continuar a gritar Cruzeiro toda vez que encontrar alguém com uma camisa do meu time na rua.

Cruzeiro, obrigado por existir. Não saberia viver sem você.

Henrique Portugal é músico do Skank, escreveu sobre o Cruzeiro durante seis anos na coluna Da Arquibancada, do Estado de Minas, e hoje assina coluna quinzenal sobre música e tecnologia

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