O Cruzeiro intensificou a fama de copeiro graças às vitoriosas gerações da década de 1990 e do início dos anos 2000. Os torcedores celestes que vivenciaram esse período comemoram a Copa Libertadores de 1997, as Copas do Brasil de 1993, 1996, 2000 e 2003, o Campeonato Brasileiro de 2003, as Supercopas de 1991 e 1992 e outros títulos como Campeonato Mineiro, Recopa Sul-Americana, Copa Ouro, Copa Master e Copa Sul-Minas. E quando não levantava a taça, a Raposa brigava até o fim, sendo derrotada nas últimas fases. Um dos responsáveis por esse período de glórias é o ex-atacante Marcelo Ramos, que dedicou cinco anos e meio de sua respeitável carreira ao clube.
Pelo Cruzeiro, Marcelo ganhou quatro edições do Campeonato Mineiro (1996, 1997, 1998 e 2003), duas Copas do Brasil (1996 e 2003), uma Copa Libertadores (1997), um Campeonato Brasileiro (2003), uma Recopa Sul-Americana (1998), uma Copa Ouro (1995), uma Copa Master da Supercopa (1995), uma Copa Sul-Minas (2001), uma Copa dos Campeões Mineiros (1999) e uma Copa Centro-Oeste (1999). Os 14 troféus o colocam na segunda colocação entre os atletas mais vencedores, atrás apenas do ex-volante Ricardinho, com 15. E no ranking de artilheiros, o ex-camisa 9 é o sexto, com 163 gols em 365 jogos.
Sempre solícito para entrevistas, Marcelo Ramos contou ao Superesportes detalhes de sua trajetória no Cruzeiro. Em 1995, aos 21 anos, o jogador veio do Bahia, pelo qual havia marcado 115 gols de 1990 a 1994. À época, houve a inevitável pressão para substituir Ronaldo Fenômeno, vendido por US$ 6 milhões ao PSV Eindhoven, da Holanda, logo após ter sido reserva da Seleção Brasileira campeã da Copa do Mundo de 1994.
“Tudo começou em 1994, quando fiz um excelente Campeonato Brasileiro pelo Bahia, que chegou às quartas de final (eliminado pelo Palmeiras, que viria a ser campeão). Daí veio o interesse do Cruzeiro. Cheguei em 1995, não me lembro se foi para substituir o Ronaldo, pois ele havia sido negociado no período pós-Copa. Mas muita gente falou sobre esse desafio de ter que substituir o Ronaldo”.
Depois de um começo difícil, em que o Cruzeiro ficou em terceiro lugar no Campeonato Mineiro - 14 pontos a menos que o campeão Atlético -, Marcelo deu a volta por cima no Brasileirão, no qual contabilizou 14 gols e fez grande dupla de ataque com Paulinho McLaren. O técnico era Ênio Andrade, a quem o ex-jogador faz questão de elogiar.
“O primeiro semestre de 1995 não foi tão bom como eu esperava, pois perdemos o Mineiro para o Atlético. Depois veio o Campeonato Brasileiro, no qual eu permaneci no clube graças ao meu mestre, o Sr. Ênio Andrade. Graças a Deus, com muito trabalho, dei a volta por cima e fiz um grande Campeonato Brasileiro”.
Naquele ano, o Brasileirão foi disputado por 24 clubes distribuídos em dois grupos de 12. No primeiro turno, houve confrontos dentro da própria chave. No segundo turno, as equipes enfrentaram adversários do outro grupo. Os quatro primeiros colocados avançaram às semifinais.
Líder do Grupo A da primeira fase, com 25 pontos em 11 rodadas (8 vitórias, 1 empate e 2 derrotas), o Cruzeiro caiu de produção no segundo turno, e a diretoria resolveu demitir Ênio Andrade. Jair Pereira, o substituto, não conseguiu conduzir a equipe ao título. A eliminação nas semifinais veio com dois empates diante do futuro campeão Botafogo: 1 a 1, no Mineirão, e 0 a 0, no Maracanã.
Apesar da frustração por não ter levantado a taça, Marcelo valorizou o crescimento individual no Cruzeiro. “A gente já podia ter sido campeão naquele ano. Fizemos grandes jogos, como aquele 5 a 3 contra o Botafogo. Fui o artilheiro do time na competição, com 14 gols, e conquistei a confiança dos torcedores”.
Copa do Brasil
Em 1996, Marcelo Ramos entrou de vez para a história do Cruzeiro. Além de ser o artilheiro do Campeonato Mineiro, com 23 gols, ele balançou a rede sete vezes na Copa do Brasil.
Na final, contra o Palmeiras, marcou o gol de cabeça no empate por 1 a 1, no Mineirão, no jogo de ida. Na volta, demonstrou oportunismo ao garantir a virada após o goleiro Velloso soltar a bola em um cruzamento despretensioso de Roberto Gaúcho.
Na final, contra o Palmeiras, marcou o gol de cabeça no empate por 1 a 1, no Mineirão, no jogo de ida. Na volta, demonstrou oportunismo ao garantir a virada após o goleiro Velloso soltar a bola em um cruzamento despretensioso de Roberto Gaúcho.
“De todas as Copas do Brasil, essa teve um sabor especial e uma emoção muito grande, pois o Brasil inteiro dava o título ao Palmeiras, que realmente tinha uma grande seleção. Mas nós, surpreendentemente, com muita dedicação, garra e técnica, conquistamos o título lá dentro. Ali caí de vez nas graças dos torcedores cruzeirenses”.
Copa Libertadores
Nos seis primeiros meses de 1996, Marcelo acumulou 31 gols. E o PSV Eindhoven - o mesmo que havia levado Ronaldo dois anos antes - contratou o centroavante.
Ainda que não tenha alcançado o sucesso do Fenômeno, o Flecha contabilizou 11 tentos no Campeonato Holandês e ajudou a equipe a levantar o troféu com uma campanha de 77 pontos em 34 rodadas (24 vitórias, 5 empates e 5 derrotas).
Ainda que não tenha alcançado o sucesso do Fenômeno, o Flecha contabilizou 11 tentos no Campeonato Holandês e ajudou a equipe a levantar o troféu com uma campanha de 77 pontos em 34 rodadas (24 vitórias, 5 empates e 5 derrotas).
Contudo, em vez de dar sequência à experiência no futebol europeu, balançou ao ser procurado pelo Cruzeiro, que buscava um goleador após se classificar no sufoco às oitavas de final da Copa Libertadores de 1997, com três vitórias e três derrotas na fase de grupos.
“O Cruzeiro, com a conquista da Copa do Brasil, credenciou-se a jogar a Copa Libertadores, que era o torneio mais importante. Houve o interesse de empréstimo do Cruzeiro junto ao PSV, e graças a Deus eu retornei muito mais adaptado, porque era um clube em que eu conhecia todo mundo. Os jogadores eram os mesmos de 1996, com um treinador fantástico como o Paulo Autuori”.
Na Libertadores, Marcelo Ramos participou dos mata-matas. Em 14 de maio de 1997, fez dois gols na vitória por 2 a 1 sobre o El Nacional, do Equador, no duelo de volta das oitavas de final. O Cruzeiro, que havia perdido fora de casa por 1 a 0, levou a melhor nos pênaltis, por 5 a 3 - Dida pegou o chute de Chalá.
Na semifinal, contra o Colo Colo, do Chile, o camisa 23 deixou sua marca no triunfo por 1 a 0, em Belo Horizonte, e no revés por 3 a 2, em Santiago. Nas penalidades máximas, brilhou a estrela de Dida, que defendeu as cobranças de Basay e Espina. A Raposa a ganhou por 4 a 1.
“A adaptação foi rápida. Cheguei jogando e marcando gols contra o El Nacional, nas oitavas de final. E fui decisivo também contra o Colo Colo, na semifinal”.
O Flecha Azul lembrou ainda que foi o responsável pelo gol do título mineiro de 1997, contra o Villa Nova (1 a 0), em um Mineirão com mais de 132 mil torcedores - recorde de público no estádio.
O Flecha Azul lembrou ainda que foi o responsável pelo gol do título mineiro de 1997, contra o Villa Nova (1 a 0), em um Mineirão com mais de 132 mil torcedores - recorde de público no estádio.
“Antes da Libertadores, teve o gol contra o Villa Nova, que me deu muita confiança de entrar para a história do Mineirão como autor do gol maior público do estádio”.
Permanência no clube
Marcelo ficou em definitivo no Cruzeiro. Em 1998, o time foi campeão mineiro ao superar o Atlético nas finais. Nas demais competições, bateu na trave: foi vice da Copa do Brasil (Palmeiras), do Campeonato Brasileiro (Corinthians) e da Copa Mercosul (Palmeiras). O atacante celeste, que marcou 27 gols naquela temporada, lamentou a ausência de um título de maior relevância.
“Continuei em 1998, em que fizemos grandes campanhas com aquele timaço do Levir Culpi. Conquistamos o Campeonato Mineiro pela terceira vez seguida. Infelizmente perdemos a Copa do Brasil, o Campeonato Brasileiro e a Copa Mercosul. Mas foi um grupo que acredito que era para ser muito mais valorizado. As derrotas tiram essa condição, mas foi um ano muito bom. O grupo de 1998 merecia algo melhor pela qualidade técnica e união que tinha”.
Em 1999, o Cruzeiro ganhou três títulos: Copa dos Campeões Mineiros, Copa Centro-Oeste e Recopa Sul-Americana (referente ao ano de 1998). Marcelo Ramos manteve a boa média ao anotar 25 gols. Em 2000, ficou por pouco tempo no clube e foi duas vezes emprestado, a Palmeiras e São Paulo. Em 2001, retornou à Toca para ser campeão da Copa Sul-Minas e disputar a Copa Libertadores. No mesmo ano, foi emprestado ao Nagoya Grampus, do Japão.
Recorde na despedida
Aos 30 anos, o ídolo entendeu que seu ciclo no clube chegava ao fim e acertou a transferência para o Sanfrecce Hiroshima, do Japão, em meio aos pedidos dos colegas para que seguisse em Belo Horizonte.
Os 10 gols anotados por Marcelo na despedida do Cruzeiro o fizeram ultrapassar Palhinha na lista dos maiores artilheiros. O ídolo das décadas de 1960 e 1970 fez 156 em 457 jogos.
Depois de Marcelo Ramos, nenhum outro atleta superou 100 gols pelo clube. Quem mais se aproximou foi Fred, com 81 em 125 partidas. Já Wellington Paulista balançou a rede 75 vezes em 160 jogos de 2009 a 2012.
Depois de Marcelo Ramos, nenhum outro atleta superou 100 gols pelo clube. Quem mais se aproximou foi Fred, com 81 em 125 partidas. Já Wellington Paulista balançou a rede 75 vezes em 160 jogos de 2009 a 2012.
O camisa 9 pendurou as chuteiras em 2012, aos 39 anos, depois de defender equipes como Atlético Nacional-COL, Athletico-PR, Santa Cruz, Ipatinga, Madureira, Itumbiara-GO e Ypiranga-BA. Ao todo, ele acumulou 441 gols em mais de 20 anos como atleta profissional.
Gols de Marcelo Ramos por ano no Cruzeiro
1995 - 28
1996 - 31
1997 - 22
1998 - 27
1999 - 25
2000 - 4
2001 - 16
2002 - 6
2003 - 4
Os 10 maiores artilheiros do Cruzeiro
1- Tostão - 245 gols em 383 jogos
2- Dirceu Lopes - 228 gols em 610 jogos
3- Niginho - 210 gols em 280 jogos
4- Bengala - 171 gols em 282 jogos
5- Ninão - 168 gols em 133 jogos
6- Marcelo Ramos - 163 gols em 365 jogos
7- Palhinha - 156 gols em 457 jogos
8- Alcides - 150 gols em 324 jogos
9- Joãozinho - 119 gols em 485 jogos
10- Evaldo - 116 gols em 302 jogos