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CRUZEIRO 100 ANOS

Capitão Piazza ergueu taças inéditas do Brasileiro e da Libertadores

Liderança levou o craque cruzeirense também à Seleção campeã em 1970

Ivan Drummond Paulo Galvão
- Foto: Piazza com a taça da Copa Libertadores de 1976 na chegada a Belo Horizonte, após vitória por 3 a 2 sobre o River Plate em Santiago, no Chile - Foto: Arquivo EM
Wilson da Silva Piazza chegou ao Cruzeiro aos 20 anos, em 1963, depois de se destacar no Renascença, onde começou a carreira no futebol como armador. Logo se destacou como volante e virou praticamente sinônimo da camisa 5 celeste por ter liderado a equipe nas conquistas da Taça Brasil de 1966 e da Copa Libertadores de 1976


Piazza com a Taça Brasil de 1966 em desfile de carro aberto em Belo Horizonte - Foto: Arquivo EM
 
A história de Piazza começa em sua cidade natal, Ribeirão das Neves. Seu pai, José Piazza, era guarda na Penitenciária Agrícola de Neves. E foi no campo do presídio onde ele começou a desenvolver seu futebol, antes de ir para o Renascença. O Cruzeiro não passava pelo imaginário do “grande capitão”. Aos 10 anos, o sonho era ser jogador do Villa Nova, de Nova Lima, que era o clube de sua admiração.

“Meu tio, Angelino, era guarda da Fazenda da Laje, onde é hoje a Dutra Ladeira, que pertencia ao complexo de Neves. Ia pra lá com meu pai. E lá, os presos nos dias de folga, jogavam dama e dominó. Aprendi com eles. Eu me divertia. Era tudo muito tranquilo”, conta.

E foi jogando no campo da penitenciária que Piazza começou a se destacar. “Nos finais de semana, quando meu pai estava de plantão, ia com ele e jogava futebol. Virei um volante carrapato, mas não dava pontapé. E muitas vezes, meu time, o Ypiranga, jogava contra o time dos internos. Havia um campeonato entre os presos, os funcionários e nossa equipe.” Pelo time de presidiários, o então futuro craque disputou preliminares de jogos do América, na Alameda.


 
O salto na carreira se deu no Renascença, clube de futebol amador de BH, no início dos anos 60. Em 1962, o time foi campeão da cidade. Piazza se destacou e chamou a atenção do Cruzeiro.

Na chegada ao clube do Barro Preto, o menino era reserva de Ílton Chaves. Quando o experiente jogador se contundiu, Piazza não saiu mais do time. O primeiro título foi o Mineiro de 1965, o primeiro do pentacampeonato. Aquela série de cinco conquistas estabeleceu o maior domínio do Cruzeiro em Minas em cem anos de história.

Cruzeiro 100 anos: grandes volantes do clube

Hélio Lazarrotti jogou pelo Cruzeiro nos anos 1950. Na foto, ele ao lado do atleticano Zé do Monte. - EM/D.A Press
Ílton Chaves defendeu o Cruzeiro nos anos 1950 e 1960. Em seguida, cedeu sua posição no time a Piazza. - EM/D.A Press
Wilson Piazza foi volante do Cruzeiro nos anos 1960 e 1970. Conquistou a Taça Brasil de 1966 e a Copa Libertadores de 1976 - EM/D.A Press
O volante Zé Carlos é um dos craques históricos do Cruzeiro e o segundo jogador que mais vestiu a camisa azul, com 633 jogos. - EM/D.A Press
Toninho Almeida foi volante do Cruzeiro entre 1967 e 1976. Fez 139 partidas com a camisa azul. - EM/D.A Press
Douglas iniciou a carreira na base cruzeirense nos anos 1970 e defendeu o clube como profissional nos anos 1980 e 1990. William Douglas Humia Menezes foi campeão mineiro em 1984, 1987, 1992 e 1994; da Supercopa, em 1992; e da Copa do Brasil, em 1993. Ao todo, foram 391 jogos com a camisa celeste. - EM/D.A Press
Em duas passagens pela Toca da Raposa %u2013 1986 a 1992 e 1993 a 1995 -, o volante Ademir Roque Kaefer conquistou o respeito de todos pela entrega com a camisa azul. Foi capitão, campeão oito vezes e chegou à Seleção Brasileira. Em 442 jogos, marcou nove gols. - EM/D.A Press
Craque histórico do futebol brasileiro, Toninho Cerezo passou pelo Cruzeiro em 1994 e foi nome de destaque na conquista do Campeonato Mineiro. Foi peça importante na campanha no Brasileirão. Ao todo, fez 27 jogos e seis gols. - EM/D.A Press
Belletti foi revelado no Cruzeiro e atuou como profissional entre 1994 e 1996. Jogador versátil, atuou como volante e lateral-direito. Fez 44 jogos e cinco gols. Em 1996, foi envolvido em troca com o São Paulo. - EM/D.A Press
Em 100 anos de história do Cruzeiro, apenas um jogador atingiu a marca de 15 títulos com a camisa estrelada: Ricardinho. O camisa 8 está imortalizado em grandes conquistas celestes, como Libertadores e Copa do Brasil. Revelado nas categorias de base do clube, o ex-volante teve trajetória longeva na Toca da Raposa, com 441 jogos disputados e 46 gols marcados em dez temporadas - divididas em duas passagens. - EM/D.A Press
Fabinho foi um dos grandes volantes da história do Cruzeiro e integrou o elenco nas conquistas da Copa do Brasil de 1996 e da Copa Libertadores de 1997. Ao todo, fez 118 jogos com a camisa azul. - EM/D.A Press
O volante Donizete Amorim foi revelado pelo Cruzeiro e participou de conquistas como o Mineiro e da Libertadores de 1997 e a Recopa de 1998. - EM/D.A Press
O volante Donizete Oliveira defendeu o Cruzeiro entre 1996 e 2000 e participou de grandes conquistas: Copa Libertadores da América (1997), Recopa Sul-Americana (1998), Copa do Brasil (2000), Campeonato Mineiro (1996, 1997, 1998) e Copa dos Campeões Mineiros (1999). - EM/D.A Press
O volante Marcos Paulo (de boné, à esquerda) defendeu o Cruzeiro em fase de grandes títulos. Entre 1997 e 2002, disputou 174 jogos. - Jorge Gontijo/EM/D.A Press
Revelado pelo Cruzeiro, o volante Augusto Recife atuou profissionalmente pelo clube entre 2001 e 2006. No período, foi multicampeão: Campeonato Mineiro (2003, 2004, 2006), Campeonato Brasileiro (2003), Copa do Brasil (2003), Supercampeonato Mineiro (2002) e Copa Sul-Minas (2002). - Marcos Mcihelin/Estado de Minas - 30/05/2002
O volante chileno Maldonado defendeu o Cruzeiro entre 2003 e 2005. Foi campeão brasileiro em 2003 e mineiro em 2004. Ao todo, fez quatro gols em 137 partidas pelo clube. - Jorge Gontijo/Estado de Minas - 05/08/2004
O volante Martinez defendeu o Cruzeiro entre 2003 e 2007. No período, foi campeão brasileiro (2003), da Copa do Brasil (2003) e tricampeão mineiro (2003, 2004 e 2006). Sua passagem pela Toca foi prejudicada por uma grave lesão no joelho direito. - Juarez Rodrigues/Estado de Minas - 13/06/2004
O versátil Sandro, campeão da Tríplice Coroa em 2003, jogou de volante, meia e lateral-esquerdo no Cruzeiro. Técnico e veloz, ele foi prejudicado no clube por lesões seguidas nos dois joelhos. - Jorge Gontijo/Estado de Minas - 11/04/2004
Revelado pelo Cruzeiro, o volante Wendel atuou no clube como profissional entre 2000 e 2004. Com 149 jogos pelo clube, ele esteve presente no grupo que conquistou o Tríplice Coroa (Campeonato Mineiro, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro) em 2003. - Jorge Gontijo/Estado de Minas - 30/08/2003
O volante Felipe Melo defendeu o Cruzeiro entre 2003 e 2004. No primeiro ano, foi campeão brasileiro. No segundo, sagrou-se campeão mineiro. Ao todo, fez 44 jogos com a camisa azul. - Auremar de Castro/Estado de Minas - 04/02/2004
O volante Marquinhos Paraná chegou ao Cruzeiro em 2008 indicado pelo técnico Adilson Batista, com quem trabalhava no Jubilo Iwata do Japão. Foi peça importante no elenco celeste até 2011, quando deixou a Toca. No período, fez 226 jogos e marcou cinco gols. Foi tricampeão mineiro (2008, 2009 e 2011) e vice-campeão da Libertadores de 2009. - AFP PHOTO MARTIN BERNETTI
O volante Henrique chegou ao Cruzeiro em 2008 por indicação do técnico Adilson Batista. Desde então, fez história e se tornou um dos jogadores mais vitoriosos com a camisa azul. Em algumas temporadas, exerceu papel de capitão. Na Toca, conquistou duas Copas do Brasil (2017 e 2018), dois Campeonatos Brasileiros (2013 e 2014) e seis Campeonatos Mineiros (2008, 2009, 2011, 2014, 2018 e 2019). - Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press
O volante Fabrício realizou 153 jogos pelo Cruzeiro e marcou 10 gols, entre 2008 e 2011. O jogador virou ídolo da torcida por aliar técnica e raça, além de demonstrar identificação com o clube. Nesse período, Fabrício foi campeão mineiro em 2008, 2009 e 2011, campeão do Torneio de Verão do Uruguai, em 2009, além de vice-campeão da Libertadores 2009 e do Brasileiro 2010. - Foto Mauricio Val/VIPCOMM - 20/08/2009
Além de ser bicampeão mineiro, em 2008 e 2009, o volante Ramires ajudou a equipe a chegar à final da Copa Libertadores de 2009. Em 111 jogos, o ex-camisa 8 marcou 27 gols. - Juarez Rodrigues/Estado de Minas - 27/04/2008
Leandro Guerreiro ficou três temporadas (2011, 2012 e 2013) no Cruzeiro. Disputou 119 jogos e marcou 4 gols. Ficou identificado como um atleta de raça e de pegada no meio-campo. Participou da goleada sobre o Atlético por 6 a 1 em uma temporada difícil para a Raposa, que se livrou do rebaixamento do Brasileiro graças ao resultado histórico sobre o rival. Guerreiro foi campeão brasileiro de 2013, mas era reserva. - Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
Bucampeão brasileiro pelo Cruzeiro, em 2013 e 2014, o volante Nilton fez 97 apresentações com a camisa azul e marcou 11 gols. No clube, ainda foi campeão mineiro de 2014. - Rodrigo Clemente/EM/D.A Press
Grande nome da história do Cruzeiro, o volante Tinga vestiu a camisa azul entre 2012 e 2015. Fez 65 jogos e marcou dois gols. No período, conquistou os Brasileiros de 2013 e 2014 e o Mineiro de 2014. - Rodrigo Clemente/EM/D.A Press
Formado na base, o volante Lucas Silva fez 193 partidas pelo profissional do Cruzeiro em duas passagens e marcou seis gols. Na primeira passagem, entre 2012 e 2014, o volante se sagrou campeão estadual (2014) e do Brasileiro (2013 e 2014). Na segunda, entre 2017 e 2019, faturou mais quatro títulos: dois da Copa do Brasil, em 2017 e 2018, e dois do Campeonato Mineiro, em 2018 e 2019. - Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press.
O volante argentino Lucas Romero é um dos ídolos da torcida do Cruzeiro pela entrega que sempre demonstrou em campo. Ele chegou ao clube em fevereiro de 2016 e se despediu em 2019 ao se transferir para o Independiente. Romero jogou 152 vezes, marcou três gols e ganhou quatro títulos: duas Copas do Brasil (2017 e 2018) e dois estaduais (2018 e 2019). - Ramon Lisboa/EM/D.A Press.
O volante argentino Ariel Cabral se tornou o estrangeiro com mais partidas pela Raposa ao entrar no segundo tempo da derrota por 1 a 0 para o Cuiabá, na Arena Pantanal, no dia 3 de outubro, pela 13ª rodada da Série B de 2020. Ele atingiu 188 jogos e se igualou ao uruguaio Arrascaeta. Ele chegou ao clube em 2015, marcou quatro gols e conquistou quatro títulos: duas Copas do Brasil, em 2017 e 2018, e dois Campeonatos Mineiros, em 2018 e 2019. - Ramon Lisboa/EM/D.A Press
O volante Hudson teve passagem importante pelo Cruzeiro em 2017. Em 39 partidas na temporada, o volante marcou três gols, todos de cabeça. O volante foi muito importante na conquista da Copa do Brasil daquele ano ao marcar gols decisivos contra São Paulo (quarta fase) e Grêmio (semifinal), além de converter sua cobrança na disputa por pênaltis contra o Flamengo, na final (vitória por 5 a 3, no Mineirão). - EM/D.A Press

 
Mas a consagração de Piazza veio mesmo com o título da Taça Brasil de 1966, ao lado de jogadores como Raul, Procópio, Dirceu Lopes, Evaldo, Natal e Tostão. Já capitão, por ser líder nato e ter bom trânsito com a comissão técnica, coube a ele levantar o troféu que elevou a equipe celeste ao nível nacional.

Piazza ergue Taça Brasil após vitória por 3 a 2 sobre o Santos, no Pacaembu, em 1966 - Foto: Arquivo EM
 
O bom desempenho com a camisa azul rendeu convocação, em 1967, para a Seleção Brasileira. Com a amarelinha também teve destaque, sendo campeão mundial em 1970, no México.


 
Piazza abdicou do ataque em função do esquema do Cruzeiro e passou a atuar ainda mais recuado, como zagueiro, mostrando a mesma desenvoltura. E foi na defesa que foi titular na Copa do Mundo do México, pois no meio tinha a concorrência de Clodoaldo, também em grande forma.
 
O craque cruzeirense ainda disputou a Copa da Alemanha, em 1974, mas perdeu a condição de titular a partir do quarto jogo, sendo substituído por Carpegiani. Logo na sequência, Piazza sentiu bastante a perda de dois títulos brasileiros seguidos para Vasco (1974) e Inter (1975).

O titular do Cruzeiro ainda sofria com dores no púbis. Em 1976, jogou no sacrifício e ajudou o clube a conquistar, de forma inédita, a Copa Libertadores sobre o River Plate. No jogo extra da final, em Santiago, recebeu infiltração para continuar em campo na vitória por 3 a 2. Mais uma vez, coube a ele erguer a taça.


Piazza é sinônimo de liderança na história de cem anos do Cruzeiro - Foto: Arquivo EM
 
Piazza encerrou a brilhante carreira em 1977. Foram 566 jogos e 40 gols marcados.

Bastante articulado, o ídolo cruzeirense foi eleito em 1972 vereador em Belo Horizonte, cargo que exerceu sucessivamente até 1988. Além disso, fundou a Associação de Garantia do Atleta Profissional (Agap) e trabalhou pela expansão por todo o Brasil.
 
Ao todo, Piazza foi eneacampeão mineiro (1965, 1966, 1967, 1968, 1969, 1972, 1973, 1974, 1975), campeão da Taça Brasil de 1966 e da Copa Libertadores de 1976. Em todas essas conquistas, o volante/zagueiro foi o capitão.