Há 25 anos, uma geração marcou seu nome na história do Atlético. A 'classe de 92' alvinegra não fez tanto sucesso, mas celebrou o primeiro título internacional da história do clube. Depois de uma campanha sem muito brilho no Campeonato Brasileiro daquele ano, o Galo entrou com tudo na disputa da Copa Conmebol e conquistou a taça logo na primeira edição do torneio. Nesta data, o clube comemora o passo importante que foi dado por aquela equipe. Mesmo com a derrota por 1 a 0 para o Olimpia, em Assunção, o grupo comemorou.
Aquela geração, que no ano anterior conquistou o Campeonato Mineiro e ficou com o terceiro lugar no Brasileirão, tinha poucos nomes de grande destaque. Os mais conhecidos eram João Leite, Paulo Roberto Prestes, Éder Lopes, Aílton e Sérgio Araújo. Mas foi um recém-chegado - Negrini -, que se tornou decisivo para o Galo, numa noite que ficou marcada como a ‘melhor de sua vida’.
O Superesportes conversou com alguns protagonistas daquela campanha: o técnico Procópio Cardoso, o lateral-esquerdo e capitão Paulo Roberto Prestes e o meia Negrini, autor dos dois gols na vitória por 2 a 0 sobre o Olimpia, na primeira partida da decisão. Eles relembraram casos curiosos daquela conquista, que teve direito a briga dentro do avião, golaço contra, pedradas na hora de levantar a taça e muita dedicação dos atletas para a conquista (veja vídeos sobre os jogos decisivos no fim).
A campanha
Com o terceiro lugar no Campeonato Brasileiro de 1991, o Atlético se garantiu na Copa Conmebol do ano seguinte. Além do Alvinegro, foram para a competição o Fluminense (vice-campeão de 1991), Bragantino (quarto colocado em 1991) e o Grêmio (vice-campeão da Copa do Brasil de 1991). Na primeira fase do torneio mata-mata, o Atlético eliminou o time carioca.
A primeira partida teve vitória tricolor em Juiz de Fora, por 2 a 1. Na volta, o Galo goleou por 5 a 1, com direito a golaço de falta de Moacir. Após esse jogo, troca de treinador no alvinegro. Vantuir Galdino foi para o futebol árabe e Procópio Cardoso, que fazia o caminho inverso, assumiu o clube.
Nas quartas de final, o Atlético eliminou o Atlético Júnior, da Colômbia. Na primeira partida, em Barranquilla, empate por 2 a 2. O herói alvinegro foi Aílton, autor dos dois gols. No Mineirão, goleada do Galo por 3 a 0 e classificação à semifinal. Mas foi após o jogo de ida que um dos casos curiosos da campanha aconteceu. Com a palavra, o treinador.
“Atualmente, os caras jogam quarta e domingo e ficam reclamando. Lembro que naquela época fomos a Barranquilla enfrentar Atlético Júnior, numa quinta-feira à noite, e jogaríamos contra o Guarani, em Campinas, no sábado. Acabamos o jogo por volta das 23h, pegamos o avião às 00h30, fomos para Caracas e de lá embarcamos em um voo para São Paulo. No primeiro trecho da viagem, tinha um grupo musical no nosso avião. Os caras não paravam de tocar violão e guitarra, enquanto nossos jogadores queriam dormir. Então, eu e o Marcelo (preparador físico) fomos lá, batemos neles e chamamos a corporação para dar um jeito de tirar eles do voo assim que parasse. Mas nós batemos neles mesmo, jogamos os instrumentos no chão e chamamos o comandante para resolver”, relembrou Procópio, aos risos.
Veio a semifinal contra o El Nacional, do Equador. Fora de casa, derrota alvinegra por 1 a 0. Na volta, a classificação saiu após um golaço: só que contra. Depois de abrir o placar em bela cabeçada de Aílton, o zagueiro Quiñones foi autor de uma proeza. Deixou para trás dois defensores de sua equipe e deu um toque na saída do goleiro Reynoso. Festa da massa com a vaga na final.
Na decisão, Mineirão cheio. Mais de 60 mil pagantes para a partida contra o Olimpia. E o herói foi improvável. Se Aílton tinha feito seis gols, Moacir era o rei da bola parada e Sérgio Araújo o velocista do ataque, coube ao até então desconhecido Negrini definir a parada. Com um peixinho no primeiro gol e oportunismo no rebote para marcar o segundo, ele definiu a primeira parte da decisão.
“Foi maravilhoso. Fazia pouco tempo que eu havia chegado ao Atlético e já estava em uma final da Conmebol. Marquei dois gols no primeiro jogo, naquela que foi a melhor noite da minha vida. Fiz os dois gols que nos deram a possibilidade de conquistar o título. Foi o grande momento da minha carreira”.
No jogo da volta, o Atlético não conseguiu se preparar no estádio da decisão. Os torcedores paraguaios atiravam pedras contra os atletas, que ficaram apenas no centro do gramado. A recepção foi a mesma na partida. Cavallero, do Olimpia, abriu o placar aos 44 minutos do segundo tempo, mas não deu tempo para a equipe paraguaia igualar a final. O Galo conquistou a taça numa verdadeira batalha, como ressaltou o capitão Paulo Roberto Prestes, que teve a honra de levantar o caneco.
“Foi uma emoção muito diferente daquela que tive ao conquistar os outros títulos. Foi a primeira conquista sul-americana do clube e com uma dificuldade imensa, sobretudo na final. Nós chegamos ao Paraguai pensando que íamos jogar em um estádio grande, bacana, mas eles mudaram o local do jogo de última hora, mandaram para um estádio acanhado, pequeno, que dificultou muito. Foi difícil chegar lá, entrar em campo… Foi uma verdadeira batalha, que valorizou demais a nossa conquista. Foi legal demais tudo isso”.
O jogador, no entanto, não teve nem como comemorar direito, como recorda Negrini. "Não teve nada de exame antidoping depois do jogo. Acabou a partida e a gente foi logo receber as medalhas. Fomos premiados debaixo de pedradas. Tivemos que ficar no meio-campo. Só o Paulo Roberto, como capitão, foi lá receber a taça. Se não me engano ele levou uma pedrada, inclusive".