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CLÁSSICO 500

Nelinho e Procópio: ídolos de Atlético e Cruzeiro relembram histórias do clássico

Os dois consideram não haver diferença entre atuar em um ou outro rival

Paulo Galvão Renan Damasceno Soraia Piva


Ter disputado o maior clássico mineiro uma única vez já seria motivo de orgulho para qualquer jogador profissional. Mas fazer história e conquistar títulos em cima do rival por ambos os lados não é para qualquer um. Por isso, o ex-lateral-direito Nelinho e o ex-zagueiro e ex-treinador Procópio são privilegiados. Eles atuaram bem com as duas camisas e têm os nomes cravados nas histórias de Atlético e Cruzeiro.
Estado de Minas/Superesportes reuniu Procópio e Nelinho para um bate-papo sobre a história do clássico - Foto: Jair Amaral/EM/D.A Press

O Estado de Minas/Superesportes reuniu os craques para um bate-papo em que relembraram grandes clássicos, as passagens pelos dois clubes, o amor e o ódio das torcidas. A conclusão é que poucos duelos são tão importantes no futebol quanto Atlético x Cruzeiro, que chega à sua edição 500, segundo dados alvinegros.

“Tive o privilégio de jogar outros clássicos importantes pelo Brasil, como São Paulo x Corinthians, São Paulo x Palmeiras, Palmeiras x Corinthians, Flamengo x Fluminense, Internacional x Grêmio (como treinador), mas considero Atlético x Cruzeiro o melhor. E não é porque eu sou mineiro, mas é que foi o que mais me emocionou, mais me preocupou e mais deu alegrias. Ganhar um jogo desses é muito importante para você, para sua carreira, para sua equipe, para seus amigos, para poder sair em Belo Horizonte”, atesta Procópio, que adicionou o sobrenome Cardoso quando deixou de ser zagueiro com passagem pelos dois rivais e outros grandes clubes brasileiros e passou a treinador.

Procópio tem carinho especial pelos arquirrivais, que defendeu como jogador e também como técnico - Foto: Leandro Couri/EM/D.A/Press
A importância de se sair bem em um confronto assim é reforçado por Nelinho. “Todo clássico é importante para o jogador. Ali, você pode encerrar sua carreira. E também ser alçado a outro patamar, chegar a uma Seleção Brasileira, se transferir para o exterior. Então, tem de entrar concentrado mesmo. Além disso, o torcedor valoriza demais a vitória no clássico”, argumenta ele, que foi lateral-direito de Galo e Raposa, além do Grêmio e da Seleção Brasileira.

Os dois consideram não haver diferença entre atuar em um ou outro rival. Isso é possível, segundo ambos, porque sempre encararam tudo com o máximo de profissionalismo e respeito ao clube que defendiam. E criticam o cenário atual.

“Para se ter noção de como era a rivalidade antigamente, eu namorava a irmã do Willian, então zagueiro do Atlético. Na semana de clássico, eu não queria nem namorar, para não encontrar com ele, olhar a cara dele, que seria adversário. Era uma responsabilidade muito grande. Já quando era técnico, encontrava jogador meu sentado na mesma mesa do rival. Não há problema, mas é melhor respeitar o torcedor”, argumenta Procópio.

“Hoje, o que há é agressão, um jogador xingando o outro, como vimos por aí. Rivalidade é bom, mas tem de haver respeito acima de tudo.”

Já o ex-lateral-direito se sente incomodado quando um jogador provoca a torcida rival após marcar um gol. E também acredita que o clássico perdeu muito com o fim das torcidas divididas no Mineirão, prática comum quando era jogador.

“Pelo lado da beleza, acho que é importante termos torcidas divididas. Tenho três filhas atleticanas porque as levei ao Mineirão em três clássicos e coincidentemente, a torcida alvinegra deu show em todos. Aquilo influenciou. Quem viveu aquilo sente saudade. Mas a torcida organizada arrebentou o espetáculo, é muita confusão, muita briga. Antes, todos gritavam a mesma coisa de cada lado, hoje é tudo confuso. Perdeu-se muito da beleza do clássico”, declara.

RESPEITO

Eles atuaram juntos no Cruzeiro entre 1973 e 1974. Depois, Procópio foi treinador de Nelinho tanto no Cruzeiro quanto no Atlético, o que fez com que a relação deles ultrapassasse o círculo profissional.

“Nelinho é não só um dos maiores laterais-direitos que joguei e comandei, mas também uma liderança fenomenal. Nem precisava ser capitão para ter o respeito de todos”, elogia Procópio.

Outro ponto em comum entre eles é apontar a decisão do Campeonato Mineiro de 1977 como um dos capítulos mais bonitos da rivalidade em Minas. Nelinho defendia o Cruzeiro, que tinha Procópio como diretor e, nos bastidores, treinador.

- Foto: Arquivo EM
“Nosso time estava em processo de mudança, sendo rearmado, e o Atlético tinha um timaço, era franco favorito. Eles ganharam o primeiro jogo (1 a 0) e já se proclamaram campeões. Mas vencemos o segundo jogo por 3 a 2, com três gols do Revétria. Antes do terceiro jogo, o Toninho Cerezo deu entrevista falando que enquanto ele, Paulo Isidoro e Reinaldo estivessem jogando, o Atlético não perderia para o Cruzeiro. Aquilo mexeu muito com a gente. Vencemos por 3 a 1, com Joãozinho arrebentando na prorrogação, e fomos campeões”, recorda Nelinho.

“A decisão de 1977 realmente marcou. Aquela declaração do Cerezo acabou servindo para a gente motivar os jogadores do Cruzeiro. Coloquei o jornal (com os dizeres do atleticano) nos quadros negros da Toca da Raposa e mexeu com os brios dos jogadores. Foi um dos ingredientes que levou o time a conquistar aquele título”, afirma Procópio, que havia sido chamado pelo então presidente cruzeirense Felício Brandi para ajudar a equipe, o que gerou descontentamento de Yustrich, técnico à época. “Ele não gostou, mas eu também não recuei. Falei que ele estava errando ao pedir aos pontas para marcar. Foi assim que ganhamos.”

- Foto: Arquivo EM
Eles também lembram histórias pelo lado alvinegro. Nelinho conta que ficou abismado ao ouvir, na primeira vez que atuou ao lado de Éder, a torcida gritar o nome de ambos antes de uma falta e logo a seguir entoarem: “qualquer um, qualquer um, qualquer um”. “Aquilo foi incrível, totalmente no improviso.”

NELINHO E PROCÓPIO: os craques em números

- Foto: Arquivo EM
Procópio pelo Atlético

9 clássicos
6 vitórias
1 empate
2 derrotas
0 gol marcado

- Foto: Arquivo EM
Procópio pelo Cruzeiro

18 clássicos
7 vitórias
7 empates
4 derrotas
0 gols marcado

Nelinho pelo Atlético

27 clássicos
8 vitórias
13 empates
6 derrotas
3 gols marcados

Nelinho pelo Cruzeiro

37 clássicos
13 vitórias
9 empates
15 derrotas
3 gols marcados