Em dezembro de 2011, Oldair foi personagem da seção "Por Onde Anda?" do Superesportes. Relembre a entrevista do capitão do Galo no título de 1971, que morreu neste fim de semana, vítima de câncer.
Humberto Ramos faz cruzamento certeiro da ponta esquerda, Dario sobe mais que os defensores e, de cabeça, faz o gol da vitória do Atlético contra o Botafogo no último jogo do Campeonato Brasileiro de 1971. Este é o histórico lance que todo atleticano se recorda, ou conheceu, e gravou na memória ao longo da vida.
A verdade, no entanto, é que o Galo se consagraria como o primeiro campeão brasileiro mesmo se aquela partida terminasse empatada em 0 a 0. Então, o gol do título alvinegro, eternizado para sempre, teria como dono o capitão daquela equipe, o lateral-esquerdo Oldair.
A fase final do Brasileirão de 71 foi disputada em um triangular entre Atlético, Botafogo e São Paulo – que é, inclusive, o vice-campeão do campeonato. No primeiro jogo, a equipe alvinegra venceu os paulistas por 1 a 0. Oldair, aos 30 minutos do segundo tempo, garantiu os dois pontos que uma vitória valiam, na época, para o time de Telê Santana.
Esta partida completou o seu aniversário de 40 anos nesta segunda-feira, dia 12 de dezembro de 2011. Oldair Barchi, atualmente com 72 anos, lembra da importância do seu “gol do título”.
“Se você analisar direitinho, foi contra o São Paulo que houve o gol do título. Mas perante a torcida e a mídia, é sempre o último gol do campeonato que vale, ou seja, o do Dario. Mas com 0 a 0 ante o Botafogo, seríamos campeões também. O 1 a 0 da primeira partida nos deu tranquilidade para atuar na partida final”, afirma ao Superesportes.
O fato de ser pouco lembrado, no entanto, não deixa o gol de Oldair menos importante ou ainda o seu protagonista chateado. “Para mim isso é algo natural. Não fico chateado não. A pessoa com um pouco de inteligente vai saber da importância que teve. Eu fico alegre mesmo é por ter ajudado o Galo a conquistar o título brasileiro”, garante.
O lance fundamental para o título do Atlético, protagonizado por Oldair, foi de bola parada. O lateral cobrou falta na entrada da área com violência no ângulo esquerdo do gol são-paulino.
Três dias depois, o São Paulo venceu o Botafogo por 4 a 1. Desta forma, ambos ficaram empatados com dois pontos, de acordo com as regras da época, na tabela do triangular. Como o Galo ainda enfrentaria o alvinegro carioca no Maracanã, bastava empatar para ficar com o título.
O gol de Dario serviu para coroar a brilhante campanha do time que tinha Renato, Humberto Monteiro, Grapete, Vantuir e Oldair; Vanderlei Paiva, Humberto Ramos, Lôla e Ronaldo; Tião e Dario.
Oldair em campo: sinônimo de raça e dedicação
O autor do “gol do título” de 1971 defendeu o Atlético entre 1968 e 1973. Considerado um líder do grupo, ele chegou a bater de frente com o polêmico treinador Yustrich. Dentro de campo, duas características predominavam: a raça e a polivalência.
“Eu tenho a minha maneira de agir. Os caras me respeitavam muito, porque eu não gostava de brincadeira, de nada. Eu era profissional. Fora dali, podíamos tomar uma cerveja, comer um churrasco, mas dentro de campo nos treinamentos e jogos, eu queria ver dedicação de todo mundo”, recorda.
Além de atuar na lateral-esquerda, ele também jogava como volante, a sua posição de origem. Mas, em todo o campo, Oldair poderia ser útil também. “Eu tinha essa facilidade de adaptação imediata. Acho que a pessoa que é volante, tem mais facilidade para jogar na frente ou na lateral. Sempre fui volante, mas acabei na lateral esquerda e me dei bem também, quando ganhamos o título de 71”.
Dono da braçadeira de capitão do Atlético durante anos, Oldair minimiza o simbolismo da função e lembra que as atitudes são mais importantes. “Para mim, ser capitão era tirar cara e coroa. Não tinha diferença de você ser capitão ou não dentro de campo. Talvez, pela liderança que eu tinha, eu era. Mas eu não ganhava dobrado, nada disso. Era só tirar cara ou coroa...”, afirma.
Hoje, Oldair acompanha o Atlético pela televisão. Ele garante que a sua maior preocupação é em passar o tempo com a família e cuidando dos negócios. Morador de Belo Horizonte, o antigo capitão do Galo tem uma fábrica de confecção de roupas.
Triunfo ante a Seleção Brasileira
Dois anos antes de ser campeão brasileiro, Oldair participou, pelo Atlético, de outra partida histórica. Ele foi titular, em 1969, da vitória ante a poderosa Seleção Brasileira, por 2 a 1.
“Para o estado de Minas Gerais, sabemos que o cruzeirense não gostou e o americano também não. Foi como se o Atlético tivesse conquistado um campeonato mundial”, lembra.
Oldair se lembra com detalhes dos momentos mais importantes do jogo. “Teve expulsão do Carlos Alberto, gol em impedimento do Pelé. No primeiro tempo, o Amauri teve a felicidade de acertar um belo chute e abrir o placar. Pelé fez o gol do Brasil”.
Duas curiosidades ficaram marcadas na partida. “A CBD, na época, não permitia que a Seleção jogasse contra um clube. Tivemos que jogar com o uniforme da Federação Mineira. Queriam até colocar a camisa do Atlético por baixo para tirar depois. Mas eu falei que não ia aceitar esse tipo de coisa”.
Outro detalhe interessante foi a conversa que Oldair teve com Pelé durante a partida. “Ele falou que a gente tinha que ganhar do Cruzeiro e não da Seleção. Eu falei que não concordava com isso e estava ali correndo atrás do bicho. Foi igual a uma final de campeonato”, disse.
BRASILEIRO 1971
Relembre: após quatro décadas, Oldair reivindica gol do título brasileiro do Atlético
Lateral e capitão alvinegro marcou contra o São Paulo, no triangular final de 1971
Thiago de Castro /Superesportes
postado em 01/11/2014 13:17 / atualizado em 16/12/2016 21:19
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