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TIRO LIVRE

O olhar de Messi

'Não é somente a Seleção da Argentina que precisa de um Messi mais feliz. O mundo do futebol precisa que Messi volte a sorrir'

postado em 21/06/2019 10:47 / atualizado em 21/06/2019 10:59

<i>(Foto: Divulgação/Argentina)</i>
Talvez por influência da minha mãe, uma mulher de sensibilidade ímpar e que enxerga através do outro, costumo analisar os atletas muito além da fachada. Por vezes, um simples olhar, uma expressão facial, diz mais do que muitas palavras. E o argentino Messi (foto) é um desses jogadores que não dá para você avaliar tão somente pelo que ele faz com a bola nos pés. Há um viés mais profundo. O olhar triste de Messi quando está em campo com a camisa da Seleção Argentina diz muito. Na Copa América, de novo, tem sido assim – o jogo contra o Paraguai, na noite de quarta-feira, no Mineirão, expôs, mais uma vez, essa faceta soturna, melancólica até, do craque.

Messi parece angustiado. Não desfaz a feição fechada nem ao comemorar gol. Messi parece triste. Custa a abrir um sorriso, e quando o faz é de forma contida. Messi parece atormentado. Busca soluções individuais em um esporte que é, por premissa, coletivo. Messi parece amargurado. Como se em seus ombros, e tão somente sobre eles, estivesse a responsabilide de levar a seleção a um título que nunca vem. Messi parece contrariado. Por ser o astro que é mundialmente e conseguir tão pouco por sua nação.

Para mim, não há dúvida de que ele é o melhor jogador desta geração. Mesmo quando falta vivacidade ao seu olhar. E aqui nem vamos entrar na comparação com o vibrante português Cristiano Ronaldo, outro craque de quilate estratosférico. Porque Messi tem um componente especial reservado apenas aos grandes gênios na história. Um ingrediente que tempera o talento. O momento, sem dúvida, é do atacante luso, que fez uma temporada de altíssimo nível e é merecidamente favorito aos prêmios de melhor do mundo. Mas Messi tem a seu favor a magia.

Muitas teorias já foram apresentadas para essa postura, digamos assim, taciturna do craque quando defende a seleção de seu país. Na imprensa argentina, há quem diga que o atacante se sente isolado no grupo, embora quem o segue nas redes sociais vê, volta e meia, interações com outros jogadores, como o amigo de longa data Agüero; outra tese é a de que falta a Messi identidade com a equipe pelo fato de ter deixado o país muito cedo, aos 13 anos, para treinar no Barcelona.

Uma coisa é certa: Messi nunca foi aquele tipo de atleta extrovertido, marqueteiro. Sua marca, extracampo principalmente, sempre foi a discrição. Difícil ver uma imagem dele que fuja a isso. E essa timidez é um traço da personalidade do craque desde sempre. Tanto que nos primeiros meses de Barcelona, o apelido La Pulga, que carregava desde os tempos de Rosário (clube que o revelou), virou El Mudo, pois ele mal conversava com os companheiros.

Essa nem é a questão. Longe disso. A questão é que, com a camisa albiceleste, Messi não demonstra prazer em jogar. Passa a impressão de que ainda está lá para pagar uma “dívida” com a Argentina. Uma obrigação, quase moral, de fazer a seleção ganhar. E isso não depende só dele. Não pode ser atribuído apenas a ele, ainda mais em tempos tão turbulentos – a Associação de Futebol Argentino (AFA) está à deriva, envolvida em imbróglios judiciais, e a própria equipe, que há muito não consegue a sintonia necessária para ser vencedora.

O olhar triste de Messi em campo parece sintetizar tudo isso. O tanto que ele se ressente de não conseguir devolver a mítica Seleção Argentina ao posto que ela merece. O quão contrariado ele está com os seguidos problemas enfrentados pela AFA. A frustração pelos fracassos do time que, direta e indiretamente, sempre são colocados na conta dele.

Tudo isso não é ruim apenas para os argentinos. É ruim para o futebol mundial de forma geral. Sei que muitos brasileiros apelam para a dita rivalidade entre as seleções para tirar onda da fase ruim dos hermanos e, de quebra, de seu maior nome. Já aviso, num jargão bem futebolês: me incluam foram dessa. Sou team Messi. E podem ter certeza de que não estou só.

Na partida no Mineirão mesmo, é possível afirmar sem medo de errar que até os paraguaios lá estavam para ver La Pulga em ação. Ele é atração por onde passa. Vê-lo em campo é testemunhar a história. Quem tem esse privilégio, em alguns anos vai poder dizer que assistiu, in loco, à atuação de um dos maiores de todos os tempos. Por isso, não é somente a seleção da Argentina que precisa de um Messi mais feliz. O mundo do futebol precisa que Messi volte a sorrir.

Tags: copaamerica selefut messi