Para que a tese fique bem embasada, vamos ao dicionário mostrar, ao pé da letra, o que significa ser favorito. “Diz-se de ou o concorrente que tem maiores chances de vencer uma competição.” Pois bem, semanticamente falando, está claro que indicar uma equipe como favorita não é afirmar que ela vai ganhar. É apenas ver nela elementos que apontam para esse caminho. Se o time em questão vai fazer valer suas virtudes e sair de campo vencedor já são outros 500. Até porque não há ser humano infalível. E numa equipe de futebol são 11 (14 contando os que entram durante a partida) envolvidos. Portanto, não basta que apenas um esteja bem. É necessário uma sintonia coletiva, ou pelo menos que a maior parte desses 14 faça bem a parte deles. Num dia de conjunção astral desfavorável, não há favoritismo que se confirme.
No caso do próximo encontro entre Atlético e Cruzeiro, domingo, os mais apressados podem logo jogar o favoritismo para o lado alvinegro. Afinal, seguindo uma fria análise dos números, o Galo vem de vitória (1 a 0 sobre o Figueirense, em Florianópolis, pela Copa do Brasil) e começa a se acertar sob o comando do interino Thiago Larghi. É evidente a evolução em alguns setores, as triangulações entre os jogadores, a saída mais consistente de bola... Além disso, a partida será no Independência, estádio que o Atlético sabe usar bem.
Mas esses argumentos acabam sendo frágeis ao se levar em conta o contexto, por mais que a Raposa tenha sido derrotada pelo Racing (4 a 2) na terça-feira, na Argentina, pela Copa Libertadores. Esse jogo, especificamente, teve ingredientes muito particulares, com desfalques importantes no time celeste e uma atuação desastrosa de praticamente todo o sistema defensivo – em particular, da dupla de zaga. Ainda assim, não há como negar que o Cruzeiro tem uma equipe mais encorpada que a do Atlético, com jogadores que atuam juntos há mais de uma temporada e um treinador que está no comando desde 2016. São detalhes que ajudam a explicar o motivo de a Raposa liderar o Mineiro com tamanha folga: 22 pontos, 10 a mais que o Galo, que está em terceiro lugar.
Análises passionais costumam desvirtuar conceitos. Não é demérito algum ao Atlético que o Cruzeiro seja apontado favorito no confronto de domingo, no Horto. Nem tampouco isso é um veredicto. Da mesma forma que não será surpresa, muito menos zebra, se o alvinegro sair de campo vencedor.
Em clássico, há temperos extracampo que acabam emoldurando a partida, atirando por terra os prognósticos. Nem por isso são inválidas análises prévias do que pode ser visto quando o árbitro apitar o início do jogo. A questão aqui não é fazer futurologia, é avaliar como os rivais chegam para o primeiro duelo na temporada, aquele que pode nem valer muito em termos de classificação, mas que tem grande importância para o torcedor.
Puxe aí na memória e você logo vai se lembrar de alguma partida em que a balança pendia para um lado e quem riu por último estava do outro. Também deve se recordar facilmente de muitos heróis improváveis, aqueles coadjuvantes que roubam a cena quando os olhares estão todos voltados para as estrelas. E ainda tem aquela motivação a mais, que costuma igualar forças em clássicos. Nem sempre ela é preponderante, mas que ajuda a contar muitas boas histórias, isso ajuda.