None

TIRO LIVRE

Clássico, uma discussão milenar

Não é demérito algum ao Atlético que o Cruzeiro seja apontado favorito no jogo de domingo, no Horto. Nem tampouco isso é um veredicto

postado em 02/03/2018 09:53

Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press
É só um clássico (foto) se aproximar para aquela quase milenar pergunta voltar às rodas de discussões futebolísticas planeta bola afora. “Quem é o favorito?”. A resposta mais óbvia, confortável e mineirinha é aquela bem ‘clássica’, que joga nas costas do acaso qualquer desfecho do dérbi: “Em clássico não há favorito”. De fato não faltam exemplos para mostrar que nada melhor, em véspera de duelo entre arquirrivais, do que arrumar um lugarzinho vip em cima do muro para depois não ter de dar explicações sobre qualquer previsão furada. Porém, nem todo mundo pensa assim. E a colunista aqui faz parte dessa turma que foge aos clichês e acredita sim que há favorito em clássicos – o que não significa, no entanto, que a vitória seja favas contadas.

Para que a tese fique bem embasada, vamos ao dicionário mostrar, ao pé da letra, o que significa ser favorito. “Diz-se de ou o concorrente que tem maiores chances de vencer uma competição.” Pois bem, semanticamente falando, está claro que indicar uma equipe como favorita não é afirmar que ela vai ganhar. É apenas ver nela elementos que apontam para esse caminho. Se o time em questão vai fazer valer suas virtudes e sair de campo vencedor já são outros 500. Até porque não há ser humano infalível. E numa equipe de futebol são 11 (14 contando os que entram durante a partida) envolvidos. Portanto, não basta que apenas um esteja bem. É necessário uma sintonia coletiva, ou pelo menos que a maior parte desses 14 faça bem a parte deles. Num dia de conjunção astral desfavorável, não há favoritismo que se confirme.

No caso do próximo encontro entre Atlético e Cruzeiro, domingo, os mais apressados podem logo jogar o favoritismo para o lado alvinegro. Afinal, seguindo uma fria análise dos números, o Galo vem de vitória (1 a 0 sobre o Figueirense, em Florianópolis, pela Copa do Brasil) e começa a se acertar sob o comando do interino Thiago Larghi. É evidente a evolução em alguns setores, as triangulações entre os jogadores, a saída mais consistente de bola... Além disso, a partida será no Independência, estádio que o Atlético sabe usar bem.

Mas esses argumentos acabam sendo frágeis ao se levar em conta o contexto, por mais que a Raposa tenha sido derrotada pelo Racing (4 a 2) na terça-feira, na Argentina, pela Copa Libertadores. Esse jogo, especificamente, teve ingredientes muito particulares, com desfalques importantes no time celeste e uma atuação desastrosa de praticamente todo o sistema defensivo – em particular, da dupla de zaga. Ainda assim, não há como negar que o Cruzeiro tem uma equipe mais encorpada que a do Atlético, com jogadores que atuam juntos há mais de uma temporada e um treinador que está no comando desde 2016. São detalhes que ajudam a explicar o motivo de a Raposa liderar o Mineiro com tamanha folga: 22 pontos, 10 a mais que o Galo, que está em terceiro lugar.

Análises passionais costumam desvirtuar conceitos. Não é demérito algum ao Atlético que o Cruzeiro seja apontado favorito no confronto de domingo, no Horto. Nem tampouco isso é um veredicto. Da mesma forma que não será surpresa, muito menos zebra, se o alvinegro sair de campo vencedor.

Em clássico, há temperos extracampo que acabam emoldurando a partida, atirando por terra os prognósticos. Nem por isso são inválidas análises prévias do que pode ser visto quando o árbitro apitar o início do jogo. A questão aqui não é fazer futurologia, é avaliar como os rivais chegam para o primeiro duelo na temporada, aquele que pode nem valer muito em termos de classificação, mas que tem grande importância para o torcedor.

Puxe aí na memória e você logo vai se lembrar de alguma partida em que a balança pendia para um lado e quem riu por último estava do outro. Também deve se recordar facilmente de muitos heróis improváveis, aqueles coadjuvantes que roubam a cena quando os olhares estão todos voltados para as estrelas. E ainda tem aquela motivação a mais, que costuma igualar forças em clássicos. Nem sempre ela é preponderante, mas que ajuda a contar muitas boas histórias, isso ajuda.

Tags: nacional seriea cruzeiroec atleticomg