Parece até cabalístico, como se houvesse uma ligação cármica entre os atacantes. Ou mera coincidência mesmo, para deixar o misticismo de lado. Fato é que eles já prestaram bons serviços aos respectivos times, viveram dias de artilheiro e ídolo, mas caíram no conceito das torcidas quase que simultaneamente. Os gols cessaram, os elogios também. Como causa e consequência da seca em áreas alheias, atuações improdutivas, por vezes apagadas. Robinho e Sobis, de protagonistas, caíram na vala da figuração.
Mensurando a situação dos dois a partir do jejum que atravessam, chega-se à conclusão de que a conjuntura do atleticano é seis partidas pior que a do cruzeirense. Robinho não balança as redes há quase três meses– a última foi em 28 de maio, ao abrir o placar diante da Ponte Preta, no Horto, em duelo que terminou empatado por 2 a 2. Desde então, são 18 confrontos sem marcar. Sobis comemorou pela última vez em 25 de junho, contra o Coritiba, pelo Campeonato Brasileiro (triunfo celeste por 2 a 0, no Mineirão). Não faz um golzinho sequer há 12 jogos.
Para Robinho, não é apenas mais um jejum. Ele está a uma partida de amargar a pior sequência de todos os tempos em sua carreira, que começou profissionalmente em 2002, no Santos. Fase tenebrosa semelhante o atacante viveu no Milan, há pouco mais de quatro anos, período muito bem destrinchado pelo repórter Túlio Kaizer na matéria que é publicada hoje, no Estado de Minas.
É uma reviravolta de 180 graus na vida do jogador, que terminou a temporada de 2016 como o maior artilheiro do Brasil e hoje se ressente do que melhor mostrou fazer. Ano passado, o repertório foi variado. Os esquemas de jogo, sobretudo o adotado por Marcelo Oliveira, propiciou a Robinho brilhar. Neste ano, ele não emplacou em nenhum momento, seja sob o comando de Roger Machado, seja nesta fase inicial do trabalho de Rogério Micale.
Já a situação de Rafael Sobis é curiosa. Ele começou o ano em alta. Deslocado para ser a referência na área, estava dominando tanto o terreno que se tornou absoluto, deixando o argentino Ábila, querido por muitos cruzeirenses, relegado a segundo plano. De repente, a receita desandou. Sem mudança de esquema, sem mudança de treinador. E ainda com o plus de Sobis ter a seu lado, a partir do fim de fevereiro, o armador Thiago Neves, amigo de longa data e com quem herdava uma sintonia afinada dos tempos de Fluminense.
Se Robinho tem sido duramente criticado pelos atleticanos,com Sobis não é diferente pelos lados da Toca. Especialmente depois da partida de quarta-feira, contra o Grêmio, pela rodada de ida da semifinal da Copa do Brasil (derrota por 1 a 0). Ele foi um dos mais cobrados pelos torcedores celestes, por causa da inoperância em campo.
Curiosamente, como bem lembrou o repórter Thiago Madureira, do Superesportes, mesmo vivendo esse período de seca Sobis ainda é um dos artilheiros da Copa do Brasil – tem cinco gols, como Brenner, do Botafogo, e Leo Gamalho, do Goiás. Mas chegou a tal patamar aproveitando-se da fragilidade defensiva dos adversários celestes nas primeiras fases do torneio: marcou quatro no modesto São Francisco, do Pará,e um diante do igualmente limitado Murici, de Alagoas. Contra oponentes de maior peso (São Paulo, Palmeiras e Grêmio), nada feito.
Como Sassá não pode atuar na Copa do Brasil e Ábila foi negociado, o Cruzeiro depende que Sobis reencontre o caminho do gol para manter vivo o sonho do pentacampeonato na Copa do Brasil. Claro que qualquer resultado na quarta-feira, no Mineirão, não pode ser debitado apenas na conta dele, da mesma forma que não se resumem a Robinho todos os males do Atlético. É simplório demais culpar apenas um jogador por problemas que são, por princípio, coletivos. Mas esses dois já mostraram que podem render mais.
A simbologia do futebol funciona assim: quanto maior o calibre do jogador, maior a expectativa sobre seu rendimento e maior também a cobrança em cima dele. Quando tudo está em harmonia, ótimo. Na fase ruim, contudo, a bronca é proporcional. Que Robinho e Sobis estejam preparados para sobreviver aos dois lados da moeda.